No penúltimo dia de Fantasporto, esta sexta-feira, o Rivoli recebeu Glória Perez com sala cheia e quase duas horas de conversa. Já com um longo percurso na escrita para televisão e com reconhecimento internacional, a argumentista falou da importância da novela, do papel da leitura e deixou conselhos àqueles que querem escrever para televisão.

Glória Perez, 68 anos de idade e 37 de carreira, conta vários prémios pelas novelas e mini-séries que assina e diz preferir escrever sozinha: “Escrever é um exercício muito solitário. Acho muito difícil escrever com mais gente”.

Mas não é um trabalho independente. A autora vai buscar a inspiração “à fala do povo” e refere-se à novela como uma “obra aberta”, onde se introduz comportamentos e se levanta a discussão.

A autora lê muito e deixa isso como um conselho para quem quer desenvolver a escrita. Aos aspirantes a escritores, ficou o desafio de escreverem novelas e de provocar reflexões. Sem esquecer as novas ferramentas, Glória Perez adora tecnologias e considera que “trazem novas opções, é preciso investir nelas e deixar a imaginação voar”.

Apesar do gosto pelas novelas, Glória não esconde a atracção pelo cinema e a vontade de escrever um romance.

“A novela tem essa beleza, de falar para a sociedade”

Glória Perez deu destaque à novela e ao relevo do trabalho realizado: “É um trabalho de escravo. Mas tem beleza, tem o retorno de poder interferir com a realidade”. É na escrita que a autora se envolve profundamente e que sente um “vazio grande para retornar à vida real”.

Confessa que só escreve sobre aquilo que gosta e introduz temas sociais para levantar a discussão, apesar de geralmente “quando acaba a novela, acaba o assunto”. O objectivo é ouvir as pessoas e isso faz parte da pesquisa da argumentista: “A resposta vem da rua”.

O workshop de escrita para televisão marcou a presença de Gloria Perez no Fantasporto. Foto: Cláudia Silva

A sua mais recente novela A Força do Querer, com estreia prevista para abril deste ano,  aborda o tema da transexualidade: “Eu gosto de provocar. Um autor tem que ir lá e espetar os pontos”.

Para desenvolver o trabalho, a argumentista conversou com transexuais e ouviu também as mães: “A mãe defende a opção, está do lado do filho, mas ela sente esse estranheza. É um filho que nasce com 20 e poucos anos. Na sociedade, veste-se o menino de azul, veste a menina de rosa e há depois umas brincadeiras que são típicas de cada género. Prepara-se a pessoa para ser alguma coisa antes que ela expresse o que ela é”.

“Dupla Identidade”

A mini-série de Glória Perez traz um serial killer para protagonista. Segundo a autora, o Brasil ainda não tinha uma série onde representasse a “inteligência policial”, onde a polícia trabalhasse com tecnologia para apanhar um assassino.

Inspirada num dos serial killers mais conhecido dos Estados Unidos — Ted Bundy –, “Dupla Identidade” mostra um protagonista “bonito, formado, defensor das mulheres e que ninguém pode desconfiar”. “Ninguém poderia imaginar que o próprio mata mulheres”, refere a argumentista.

A mini-série policial estreou no Brasil em 2014 e foi apresentada este sábado, 4 de março — dia de encerramento da 37ª edição do Fantasporto –, no Rivoli.

Artigo editado por Rita Neves Costa