Alguns stands como “Wild Buddha Tattoo”, “Conceição Rosa” e “Emir Caricaturas” são a prova de que o X Eros Porto é muito mais do que um salão erótico. Presença assídua no Eros há dez anos, Sérgio Carvalho, da “Wild Buddha Tattoo”, trouxe ao salão este ano um complemento ao espaço já habitual: o projeto “Tatuagem Mamária Reconstrutiva”, que consiste na tatuagem da aréola da mama quando a mastectomia a faz desaparecer.

Para o tatuador profissional com 20 anos de experiência, “aquela parte que não pode ser restituída por operação, ao ser restituída com cor, através do pigmento da tatuagem”, devolve o estatuto de mulher a muitas delas, que com a remoção desaparecera.

Quanto aos cuidados a ter, Sérgio salienta que “o aval do médico” é importante para o processo, e explica que “não precisa da autorização, mas se fez mastectomia há menos de seis meses, não é aconselhável (…) porque pode haver uma inflamação”.

Questionado sobre a relação do corpo com o trabalho artístico, o tatuador afirma que o corpo do/a cliente é, para si, aquilo que considera ser “uma tela ambulante”, “uma tela viva que enquanto cá estiver está sempre pronta para levar com mais tinta”.

Ainda assim, Sérgio diz não querer ser visto como algo fora do evento, mas como parte “integrante”. O tatuador admite ainda não conseguir discernir bem entre aquilo que é pornografia daquilo que é arte porque a “tatuagem é arte no corpo”, ainda que considere a pornografia como uma arte, reconhecendo e admirando o trabalho dos atores. “Olho-os com arte. Fico admirado, às vezes, com certas coreografias que fazem”, confessa.

Sérgio Carvalho esteve no Eros Porto com um stand de tatuagens. Foto: César Castro

Fostter Riviera, ator porno gay: “O corpo é arte”

Também Fostter Riviera, ator porno gay de 27 anos, integrante do stand HotGay, partilha a opinião de que o corpo está intimamente ligado com o trabalho artístico, e afiança que “o corpo é arte e é com o corpo que se faz arte”.

Riviera afirma que faz muitos espetáculos, sempre com o corpo. “O corpo é mostrar aos outros que o que eu posso eles podem, e isso é a minha arte. É uma linguagem, digamos, corporal”.

Fostter considera, no entanto, que o seu trabalho afeta a sua posição na sociedade e que já foi alvo de preconceito. Ainda assim, o ator acha que tem havido uma grande evolução na mentalidade dos portugueses, nomeadamente no Porto: “Há cinco anos, ser gay era ser a bicha do Porto. Hoje é ser um portuense”.

A viver na Alemanha, há cinco anos, o ator porno gay assegura que lá “o casamento não é como em Portugal e a adoção não existe”, por isso constata que “Portugal está muito avançado para a Europa (…) e estamos a falar da Alemanha que é o centro europeu da pornografia”.

No caso de Miguel Brito, também ele do stand HotGay, é fácil distinguir a pornografia do trabalho artístico. O ator porno gay, de 19 anos, esclarece que, no Eros, não atuará como ator porno. “Eu estou aqui como animador”, afirma.

Ana Margo, atriz porno da Spicy Lab, tem 23 anos e quase cinco de experiência no mundo da pornografia. Para ela, tem havido uma evolução na forma como o seu trabalho é visto: “Antes a mentalidade era mais fechada. Agora, pelo que vou vendo, a cada ano, está um pouco mais aberta”.

A sensualidade retratada em quadros

Conceição Rosa, artista plástica, está no evento a mostrar as suas pinturas de corpos, neste caso maioritariamente femininos. A artista plástica confessa que, para si, a relação do corpo com o trabalho artístico “tem tudo a ver”.

“Quando trabalhamos, quando tentamos reproduzir na tela um corpo feminino, tentamos sempre representar a sensualidade, a beleza e tudo o que a mulher tem, na sua forma de estar e de ser”, explica.

Segundo Conceição Rosa, a pornografia e arte são coisas distintas, uma vez que vê na pornografia “o ato repetitivo de algo que se faz constantemente sem pensar, sem sentido, que tenta vender algo, que tenta vender o corpo” enquanto que “a parte sensual não”.

“Um homem pode olhar para uma mulher, mesmo que esteja com um vestido comprido, sem decote, mas o gesto, o mexer no cabelo, o olhar. Todas essas sensações para mim são sensualidade”, refere.

A artista plástica Conceição Rosa utiliza o corpo feminino como tela. Foto: César Castro

A artista plástica considera ainda que relativamente à hipersexualização da mulher, se esta “for natural, se for de uma forma cuidada, se for de uma forma sem ser ousada” é “fantástica”. Já no que toca ao exagero defende que é “ridículo, quer na parte feminina, quer na masculina”.

Para Emir Garcia, caricaturista há anos, a representação do corpo da mulher é cada vez mais encarada como algo natural, coadjuvada em muito pela aceitação popular crescente no que toca à pornografia como “profissão”, assente, portanto, numa evolução que considera ter havido.

Para Emir Garcia, o corpo da mulher na arte é encarado como algo natural. Foto: César Castro

No entanto, considera que “os tabus sempre vão existir”, independentemente da disponibilidade das pessoas para entender a modernidade. “As pessoas que estão estagnadas, não conseguem aceitar a contemporaneidade, a modernidade”, conclui.

Artigo editado por Rita Neves Costa