A dissertação de Joana Miguel Moreira nasceu no âmbito do mestrado em História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e foi escolhida como uma das teses a serem publicadas pela editora Caleidoscópio e o Centro República.
A obra foca-se no teatro no Porto, entre 1914 e 1945, e levanta o véu de “um assunto muito pouco explorado”. Porquê esta data? Joana Moreira conta que “no ano de 1914, para além de assinalar o ano de início da I Guerra Mundial destacavam-se também as transformações disseminadas pelo programa republicano. Em relação a 1945, além de assinar o final da II Guerra Mundial, apresenta-se como o marco cronológico da consolidação do Estado Novo”.
Segundo Conceição Meireles, orientadora de mestrado de Joana Moreira, aqui analisam-se as representações teatrais de duas salas de espetáculo do Porto: o Teatro Nacional São João (TNSJ), “com caráter mais elitista” e o Teatro Carlos Alberto (TeCA), um espaço de frequência genericamente mais popular.
A intenção é “contribuir para a História do Porto”, ao recordar as mudanças ideológicas e comportamentais e as principais temáticas teatrais. Foi através do acesso a publicações do “O Comércio do Porto” e a repositórios da biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), da Biblioteca Municipal do Porto e do centro de documentação do TSNJ que a autora conseguiu prosseguir com a ideia de “juntar o teatro à História”.
O livro está dividido em vários capítulos, que exploram as mudanças e a forma como o teatro reflete o contexto político, a fé e a Igreja, a representação da mulher e os costumes portugueses. Para Conceição Meireles, é possível detetar na obra “continuidades e mudanças, manutenções e novidades” entre duas salas de espetáculo.
Joana Moreira conta que a principal dificuldade passou “pela escassez da informação” a que a tinha acesso. “É uma pena que muitas das coisas que se passaram no Porto estejam em repositórios em Lisboa”, acrescenta ao JPN.
No entanto, considera que o teatro não mudou muito desde a época que abordou e continua a ser “o espelho da sociedade”. “Eu acho que atualmente há bom teatro, há mau teatro, mas há essa preocupação em fazer chegar a mensagem às pessoas e com que elas se identifiquem também”, acrescenta, salientando o teatro combativo e de resistência.
Para o futuro, a autora revelou que decidiu aproveitar a oportunidade de continuar a contar a História do teatro no Porto, desta vez na sua tese de doutoramento. O tema é o mesmo, as casas de espetáculo do Porto vão ser mais e as balizas cronológicas foram alargadas, abrangendo o ano de 1910 a 1974.
Artigo editado por Rita Neves Costa