São 21h00. Típica noite de sexta-feira na baixa da cidade. À porta do Coliseu já há uma fila que chega à rua de Passos Manuel e que dificulta a passagem de quem se dirige para os Aliados.

Grupos de raparigas tiram a típica “selfie” pré-concerto para registar os momentos que antecedem o espetáculo. Os rapazes, de “hoodies”, estão vestidos a rigor para um concerto de rap e os mais novos vieram acompanhados pelos pais, para assistir ao primeiro concerto de Dengaz na maior sala de espetáculos do Porto.

O burburinho é constante e contracena com as pessoas que, em grupo, vão cantado os êxitos que esperam ouvir dali a pouco. Matilde tem 19 anos e veio para ver o cabeça de cartaz, mas também para ver Agir, um dos convidados. Flávia, a amiga que a acompanha, junta-se à conversa e diz que espera que o duo cante “Encontrei”. Mas só haverá certezas quando o espetáculo começar. “Porque é que ele viria se não fosse para cantar essa música com o Dengaz?”, questiona.

As portas abrem pelas 21h12 e, às pinguinhas, vão entrando as primeiras pessoas. O entusiamo da passagem pela porta leva a melhor de três raparigas que, de bilhetes ainda na mão, carteira semiaberta e casacos a descair da cintura, correm desenfreadamente para assegurarem um lugar cativo na “frontline”. Um dos seguranças adverte o grupo de raparigas e com um gesto de mãos pede-lhes que vão com calma, porque não é permitido correr dentro do recinto. Um casal de namorados, pelo contrário, aproveita o tempo que ainda falta para tirar uma fotografia.

22h00. Ouvem-se os primeiros acordes de guitarra. Baixam as luzes e um artista entra em cena. Plutónio, um dos convidados, sobe ao palco para começar o aquecimento para o concerto que o público espera. O artista apresenta-se a si e às suas músicas. Aproveita as pausas entre canções para pedir a adesão do público, que ainda só cobre um terço da plateia em pé, mas apenas os mais novos aderem.

O artista despede-se, mas antes de libertar o palco pergunta ao público se estão entusiasmados para ouvir Dengaz. Uma ovação foi a resposta do Coliseu. Pelas 22h30, poucos espaços havia para preencher. Podem ouvir-se os últimos preparativos atrás da cortina preta que divide o palco e o público.

“Estamos juntos”

23h00 e o Coliseu fica às escuras. As únicas luzes são as dos telemóveis e das máquinas fotográficas. No centro do palco surge uma silhueta que despoleta gritos na plateia. A cortina desvenda Dengaz, que começa a viagem pelo último álbum ao som de “Donde eu vim/Ahya Family”.

O rapper de Cascais apresenta-se e pergunta: “Porto ‘tamos juntos?”. O público reage, mas não convence o músico, que repete mais alto “Porto, ‘tamos juntos?”. A reação agrada mais o artista que apresenta “Tamos Juntos”, a música feita com o rapper brasileiro Marcelo D2. Em sintonia com Dengaz e de mãos no ar a plateia canta e entoa o refrão ­– “Tamos juntos se for pra fazer barulho”. O rapper, de sorriso no rosto diz: “Muito, muito obrigado! Vocês são do caraças!”. Há ainda tempo para repetir o refrão para mostrar que “estamos juntos e é para o sentir no coração”.

Segue-se “Música com Alma” e Matay é chamado ao palco para cantar “Tudo Muda”. Dengaz pergunta quantas rainhas há na sala e as mãos levantam-se, acompanhadas por gritos e assobios. “Rainha” é o tema seguinte e o artista dedica-o a todos os homens que tratam as mulheres como donzelas. A música é das mais conhecidas e é possível perceber porquê. A plateia acompanha o rapper, palavra a palavra, e o ambiente fica mais animado. “Está a ser uma noite incrível, Porto!”, acrescenta o rapper.

Plutónio regressa ao palco e com Dengaz interpreta “O Que é Que Tem”. O público já se apresentava mais desinibido à dança, às “hands up” e ao coro de fãs que acompanha os temas. Até os mais introvertidos na plateia sentada já não fazem uso das cadeiras para poderem vibrar com o segundo convidado da noite. Dengaz aponta para o palco e grita “Richie Campbell”. Em alvoroço o público recebe o artista que se junta ao rapper para cantarem o tema partilhado “From The Heart”. Os músicos chamam um guitarrista da banda. “Ele diz que consegue fazer tudo o que nós fazemos com a guitrarra”, explica Dengaz. O rapper canta alguns versos e o guitarrista reproduz ao som da guitarra. A brincadeira repete-se mais três vezes e o público mostrou o jubilo pela cumplicidade dos dois artistas e pela mestria do guitarrista. No final da música há uma surpresa. “Eu chateei muito o Richie para ele cantar isto”, afirma Dengaz. O cantor de reagge apresenta “Do You No Wrong”. O público reage de forma positiva à surpresa e acompanha em coro a canção, com o Coliseu pintado a laranja e azul.

“Quem é que aqui tem um sonho?”. É a questão colocada pelo rapper, que dá início a mais uma música. Subitamente, Dengaz pede para parar. “Falta aqui algo”, afirma. Dengaz pede ao público que dê as boas-vindas a Agir. Juntos cantam “Eu Consigo”. O tema seguinte cumpre o desejo de Flávia. “Encontrei” foi o ponto alto da noite, com o Coliseu ao rubro. Um grupo de raparigas na “frontline” tenta tocar em Agir e dar-lhe um papel para assinar. O artista agarra no papel, sorri para as raparigas e guarda-o no bolso. O gesto do músico gera histeria na ala esquerda da sala de concertos. A música termina com o típico “got it” de Agir.

As luzes voltam a baixar e Dengaz fala do tema que mais lhe custou a escrever. Fala da depressão como inspiração para a letra que se seguia. Tons roxos e azuis preenchem o Coliseu e “Homem Sem Alma” começa a soar. De braços no ar, mas com menor efusividade, o público deixa-se contagiar pelas palavras do rapper. O cantor convida um dos trompetistas da banda. De blazer vermelho, fecha a canção ao som de um solo de trompeta. O pedido de palmas no final surte o efeito desejado.

O cenário muda. Os membros do staff entram no palco r de forma célere plantam um tapete castanho, uma poltrona, um candeeiro metálico, um globo e um microfone. Dengaz senta-se na poltrona e fala do encanto que lhe dá ser pai. A voz de Seu Jorge não deixa espaço para dúvidas. “Para Sempre” é a música que o rapper canta, sentado, com um feixe de luz a iluminar o rosto e o videoclipe no ecrã atrás, com imagens das filhas do cantor.

O staff entra novamente em cena e, num ápice, acrescenta mais uma poltrona e um microfone. O artista coloca a mão no ombro de um dos assitentes que se preparava para abandonar o palco e pede ao público para agradecer os esforços do staff e dos técnicos de som. “São eles que tornam os concertos possíveis”, acrescenta.

O artista apresenta Tatanka que se dirige para o centro do palco, de guitarra na mão. Dengaz fala de um amigo que está preso e que serviu de inspiração para “Super Homem”. O solo de guitarra de Tatanka emocionou a plateia, que permaneceu silenciosa até ao final.

Tatanka cedeu o lugar a mais um membro da Ahya Band. Di Noise (Denise Figueira) brinda o Porto com a versão “unplugged” de “Em Casa”. António Zambujo, um dos artistas marcados para este convívio, não esteve presente por incompatibilidade de agenda. O fadista apareceu em vídeo, a desejar um bom concerto ao amigo. Para Dengaz, não há “Nada Errado” com a ausência do colega e a música cantada pelo coro coletivo do Coliseu, que agora integrava os três cantores e os dez músicos da Ahya Band.

Dengaz despede-se, de braços no ar e abandona o palco. O Coliseu pede mais uma música. A insistência compensa e o artista volta ao palco. Chama Matay e nenhum dos dois podia “Dizer que Não” ao pedido do público. A euforia toma conta da sala de espetáculos e o rapper finaliza com o soar de dois canhões de confettis que preenchem o Coliseu de diferentes cores, enquanto esvoaçam. De telemóveis nas mãos, os fãs registam o momento enquanto se deixam envolver pelo final da celebração.

A Ahya Band junta-se ao artista e vai até ao centro do palco, para agradecer. “Eu sou o Dengaz, esta é a Ahya Band e vocês são a minha família no Porto”. O frenesim não termina aqui. À saída, uma nova fila germinou para ter um autógrafo do rapper.

A celebração dos dois últimos anos de carreira do rapper de 32 anos tiveram festejos no Porto e, no dia seguinte, na capital. À Invicta ficou a promessa de um regresso em breve.

Artigo editado por Filipa Silva