O Dia Mundial da Poesia, criado em 1999 pela UNESCO, é celebrado todos os anos no dia em que a Primavera começa. O objetivo é promover o gosto pela leitura, pela escrita e pelo ensino da poesia.

A Poetria, uma livraria na baixa do Porto, sabe o que isso é porque se dedica exclusivamente à arte poética e é, desse ponto de vista, única no país. Em entrevista ao JPN, Dina Ferreira, gerente da Poetria, considera que há cada vez mais jovens a gostar de poesia e que “se não compram mais é por motivos financeiros”.

A responsável da livraria, de portas abertas desde 2003, acredita que se tem vindo a apostar no ensino nesta área e sublinha o valor dos jovens poetas portugueses, alguns dos quais “são muito bons mesmo”, frisa.

“A poesia não é para se entender completamente”

Escolher as palavras certas no momento certo pode ser uma definição de poeta e é um dom que João Negreiros considera ter. Tem 41 anos, nasceu em Matosinhos e foi em criança que começou a gostar de poesia. Um gosto que cresceu e que levou o escritor, em 2009, a ser o primeiro classificado no Prémio Internacional OFF FLIP de Literatura, na categoria de poesia. Em Portugal, João venceu o Prémio de Poesia Nuno Júdice e já conta cinco livros, incluindo “O cheiro da sombra das flores”, o primeiro que publicou e que viu esgotado.

Para João Negreiros, o fascínio pela poesia reside no facto dela exigir a “capacidade de dizermos tanto em tão pouco espaço”. “É muito precisa e rigorosa, quase científica”, acrescenta o autor.

Já a ligação entre os jovens e a poesia pode revelar-se mais atribulada. Para o poeta, a relação é “péssima” e isso deve-se muito à forma como se ensina. “Não sei como é que um professor pode fazer um teste sobre poesia. É muito estranho. A poesia é uma forma de expressão, fazer um teste sobre a expressão de outra pessoa em relação ao mundo e em relação a si próprio é esquisito”, explica o autor.

Mas para que não seja tão difícil para os jovens gostar e entender poesia, basta “dizê-la bem”. E nem sempre é imediato: “O conceito de explicarmos a alguém que não percebeu uma coisa que não era suposto ela perceber naquele momento, impede-a de chegar lá por ela. Se calhar a poesia não é para se entender completamente”, defende João Negreiros.

“Estou imerso em poesia”

Nuno Brito tem 36 anos, nasceu no Porto mas vive nos Estados Unidos, onde integra o Centro de Estudos Portugueses da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde obteve, em 2008, o primeiro lugar no concurso literário AE/FLUP na categoria de Poesia e tem quatro livros publicados, o último dos quais “As abelhas produzem sol”.

A poesia, também, faz parte da vida deste autor, que acredita no potencial dos jovens poetas, cuja idade “é um tempo privilegiado com a poesia porque as pessoas que gostam de poesia têm uma relação de maior intensidade durante a juventude”. “A poesia faz parte da totalidade da minha vida. Estou imerso em poesia”, admite o escritor.

Nuno Brito acredita que a poesia nunca pode ser difícil de se gostar: “é como andar ou respirar, é uma relação de contacto. A poesia intensifica a nossa relação com o mundo, provoca um estremecimento e um mergulho”.

Haverá uma idade para ser poeta?

A maturidade é um “elemento essencial para a poesia atingir estados de maior crescimento”, mas esta nem sempre se define pela idade. “A poesia exige um crescimento e esse crescimento pode ser feito com diferentes graus de intensidade, essa maturidade pode acontecer na juventude e, até, na infância”, como explica Nuno Brito.

A simplicidade e honestidade são, para João Negreiros, as características necessárias a um poeta.

E se, para uns, a maturidade é um fator importante para quem escreve poesia, para o autor, é o contrário: “acho que a pessoa para escrever poesia tem de ser profundamente infantil”. “As pessoas que melhor escrevem poesia são as crianças. O processo de desenvolvimento humano é um processo de re-aprendizagem daquilo que nós já sabíamos quando nascemos”, sublinha o autor.

Artigo editado por Filipa Silva