Natércia Margarida, da Lion of Porches, referencia Francisca Perez como caso paradigmático de modelo que continua a desfilar para a marca desde que fez o primeiro trabalho de catálogo. “Nós gostamos muito que continue a desfilar para nós. Portanto, não temos problema em manter o manequim durante muitos anos”, admite. Tal como a marca portuguesa, vários estilistas mantém os mesmos modelos há anos. Mas a aparente regra não é igual para todos.

A criadora da Lion of Porches confirma que “há modelos que tem sido uma [aposta] constante”, algo que se explica pelo facto de a marca ter um “ADN muito british”, o que se verifica em alguns manequins.

Lion of Porches utiliza as mesmas modelos regularmente. Foto: JPN

Ainda assim, afirma que não é condição necessária que o modelo compreenda determinados parâmetros, como por exemplo, a idade: “Acima de tudo, temos de nos identificar com a pessoa, com a postura que tem e se gostamos, ou não, da imagem. A faixa etária não é um inconveniente, nem uma limitação ao nível de desfile”.

Já Nuno Baltazar destaca Fabiana Capra como modelo de eleição para desfilar as suas criações, “porque é uma mulher muito especial, muito neutra, muito intensa e porque consegue interpretar sempre as diferentes mulheres que eu desenho”, confessa ao JPN o criador de 41 anos.

Nuno considera que “não bastar ter só um corpo e uma cara, é preciso ter mundo” e a modelo da L’Agence, de 27 anos — “tem mundo para perceber as histórias que eu estou a contar”.

Ana Sousa afirma ter muitas modelos de que gosta. Foto: JPN

Também Ana Sousa reconhece que há modelos que gosta particularmente de ter a desfilar as suas coleções. Seja porque já estão familiarizados com a roupa ou com os gostos da estilista, Ana não descura determinados modelos que utiliza nos catálogos e que, depois, faz questão que estejam também presentes em eventos como o Portugal Fashion.

Ainda assim, prefere não se pronunciar quanto a nomes: “Tenho tantas modelos que gosto”.

Criadores sem necessidade de ter sempre a mesma pessoa a desfilar

Com uma visão diferente, Hugo Costa dispensa o uso de um mesmo manequim com frequência. “Para fetiche tinha de pensar num estereótipo ou num manequim para criar e não faço isso. Até porque eu tenho interesses que vão mudando”, adianta o criador que já passou pelo espaço Bloom. “Quando estamos a fazer uma coleção, não sabemos com quem vamos trabalhar”.

Também Carla Pontes, que já passou pela plataforma de novos criadores, afirma que a escolha do modelo é um pormenor e que não se prende a esse detalhe.

Já Micaela Oliveira salienta que não recorre a alguma figura em particular para fazer desfilar as suas criações. Ainda assim, diz que se liga “afetivamente” a algumas manequins, com quem acaba por trabalhar posteriormente.

Figuras públicas impulsionam projeção mediática das marcas

À semelhança da Lion of Porches, que se fez representar pela atriz Maria João Bastos, também Nuno Baltazar viu os seus coordenados figurados nos corpos das “amigas” e “consumidoras da marca”, a apresentadora Raquel Strada e a atriz Jéssica Athayde. O criador admite que podia recorrer a clientes com menos ou nenhuma visibilidade, “mas isso seria mais difícil para que o público compreendesse”.

Todavia, Natércia Margarida, da Lion of Porches, revela um certo descontentamento quanto ao enfoque, por vezes, inadequado dado pela imprensa nacional portuguesa à marca: “A imprensa só dá importância quando usamos uma figura pública, o que nos deixa muito tristes. Infelizmente, nas revistas que saem cá [em Portugal], se não tivermos uma figura pública, não saímos. Não é com bom agrado que vemos isso”, explica.

Também Ana Sousa trouxe a mais uma edição do Portugal Fashion a apresentadora de televisão Andreia Rodrigues, presença assídua nos seus desfiles, em quem confia para propiciar uma imediata identificação com a mulher portuguesa. “É uma imagem muito forte, sendo [a mulher] Ana Sousa muito dinâmica, muito distraída. Uma mulher que está sempre ao alcance dos negócios e do dia-a-dia.”

Hugo Costa não vê mais vantagens em usar figuras públicas como modelos. Foto: JPN

Por outro lado, Hugo Costa é categórico ao desconsiderar o uso de figuras públicas como forma de projetar mediaticamente a marca, justificando que o trabalho assenta apenas no conceito e no vestuário da marca: “Eu não acredito que seja uma figura pública que vá valorizar o meu projeto. [Este] tem que se valorizar por ele, pelo trabalho que fazemos durante meses. Se chamamos a atenção para outras coisas, vamos dispersar”.

Embora saiba que o seu trabalho é “mais visto e mais visível com essa exposição”, Micaela Oliveira tem vindo a dispensar o uso de figuras públicas para desfilar as suas criações, até mesmo na estreia no Portugal Fashion, e explica que é “precisamente porque é muito expectável.”

O que valorizam, afinal, os criadores de moda num manequim?

Para Carla Pontes, a escolha da modelo é apenas um pormenor. Foto: JPN

Nuno Baltazar é categórico quando afirma que a atitude e a inteligência com que os modelos interpretam uma coleção é fundamental para o entendimento do público, porque “quanto melhor elas e eles interpretarem a história, melhor o público vai compreender”.

Também Carla Pontes valoriza a atitude como fator diferenciador, “independentemente dos tons de cabelo, de pele ou alturas”, e Micaela Oliveira frisa a humildade e empenho como características indispensáveis para singrar no mundo da moda.

A simplicidade ou maneira com que “assumem” a roupa são também atributos que Ana Sousa valoriza. “Há modelos que são muito bonitas, mas que, na realidade, não funcionam. A minha preocupação é que a modelo seja amorosa, vista a roupa e que se sinta bem dentro dela”, explica a criadora minhota.

Artigo editado por Rita Neves Costa