Corrupção e falta de apoios. São as principais razões que levaram para a frente as manifestações que decorreram, este domingo, na Rússia. Centenas de manifestantes foram detidos, entre eles, o líder da oposição, Alexei Navalny, de 41 anos.
“A população russa está descontente com a política do presidente Putin e com a corrupção”, afirma José Milhazes ao JPN. O escritor viveu durante muitos anos na Rússia e continua ligado ao país, entre muitas outras coisas, por laços familiares.
De acordo com a polícia russa, Moscovo foi a cidade que contou com mais pessoas na rua. O protesto na capital registou cerca de sete mil manifestantes, ainda que a organização aponte um número maior. Daí resultaram cerca de 500 a 700 detenções, entre elas dez jornalistas e o líder da oposição Alexei Navalny que foi condenado a 15 dias de prisão, uma multa e está proibido de se candidatar à presidência em 2018. A polícia russa alega que os atos de manifestação são ilegais.
José Milhazes conta ao JPN que a as autoridades proibiram qualquer ato de protesto quando souberam do que estaria a ser planeado pela população descontente. Como tal, explica que os protestos podem ser chamados de “passeios”, uma vez que “ao serem proibidas de se manifestar, as pessoas decidiram simplesmente passear”. Como tal, o escritor condena a atuação da polícia que considera ter sido “dura”.
Acrescenta que “não será de esperar que o senhor Putin estabeleça qualquer diálogo com aquelas pessoas que vieram para a rua e que foram detidas”.
Esta manifestação é o maior protesto na Rússia, segundo a Bloomberg, desde 2012. No país conhecido como “a última ditadura na Europa”, os protestos são condenados e fortemente reprimidos, daí José Milhazes afirmar que esta situação “é surpreendente”.
O “passeio” estava a assinalar o Dia da Liberdade que marca o aniversário da fundação da República Popular da Bielorrússia, a 25 de março de 1918, uma festividade não reconhecida pelo Governo.
Vídeo no YouTube apela a que a população demonstre o descontentamento
Na origem da manifestação está um vídeo publicado no YouTube por Navalny que revela os resultados da investigação que diz ter feito ao primeiro-ministro Dmitry Medvedev.
O principal líder da oposição aponta que o primeiro-ministro russo criou um império de milhões de euros de forma ilegal. Alega que Medvedev faz transações para próprio benefício em nome de instituições de caridade geridas pelos seus associados. Na lista de bens adquiridos de forma ilegal, Navalny refere várias sapatilhas da marca Nike, daí esse ser o símbolo das manifestações de domingo, na Rússia. Para além disso, na lista estão também várias mansões, dois iates, uma vinha e muitos milhões de euros.
Assim, as manifestações estavam planeadas como forma de mostrar o descontentamento para com o primeiro-ministro. No entanto, os manifestantes acabaram por se manifestar também contra as políticas do presidente Vladimir Putin.
José Milhazes destaca ainda que “aquelas pessoas não estão organizadas, algumas delas nem são apoiantes por completo de Navalny. Mas estão todas de acordo de que é preciso combater a corrupção.”
Este “passeio” de populares descontentes significa, para José Milhazes, que “alguma coisa na Rússia se está a mexer”.
O papel internacional
Quando questionado sobre o que será possível prever no desenrolar de toda a situação, José Milhazes afirma que “É difícil de prever e o seguimento da situação vai depender de vários fatores, sendo um deles o fator internacional”.
O escritor acrescenta ainda que dos outros países é de esperar que condenem este ato, tal como já aconteceu por parte da União Europeia e dos Estados Unidos que mostraram o seu descontentamento pela detenção de “centenas de manifestantes pacíficos” e apelam a sua libertação.
No entanto,l realça que “estando a Rússia sob um regime de sanções”, é difícil e “nem sempre é útil estar a fazer pressão externa sobre os governos, nomeadamente sobre o governo de Putin que dirige uma potência nuclear”.
“Quanto mais ativas são as pessoas melhor a condição do país. Nos países em que as pessoas têm a liberdade para se manifestar nas ruas, as suas condições de vida são melhores”, disse um manifestante
Inicialmente, eram 99 as cidades onde as manifestações estavam previstas, mas, segundo a organização, em 72 delas as autoridades opuseram-se à sua realização invocando razões como, segundo o DN, a necessidade de operações de limpeza das ruas e os concertos marcados.
Artigo editado por Rita Neves Costa