O Jornal Universitário do Porto (JUP) nasceu em 1987 e desde a fundação foi idealizado por estudantes e para estudantes. Com oito editorias — Sociedade, Cultura, Política, Desporto, Ciência e Saúde, Educação e Opinião –, o JUP concentrou atenções na comunidade estudantil. Esta semana, celebra 30 anos e o JPN foi ao encontro de várias gerações de diretores do JUP.

Com sede na Praça Coronel Pacheco, no edifício do Pólo de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, o JUP atualmente tem apenas a versão online. Apesar da equipa ter lutado durante vários anos para manter a versão impressa, a “falta de financiamento obrigou a trabalhar apenas através do website”, diz o co-diretor André Ferrão ao JPN. O também aluno de Ciências da Comunicação acrescenta que “o financiamento é o grande tendão de Aquiles do JUP”.

“O financiamento é o grande tendão de Aquiles do JUP”.

A direção neste momento está focada na questão do financiamento e, segundo André Ferrão, trabalham em conjunto com o Núcleo de Jornalismo Académico do Porto (NJAP) para “dar continuidade ao trabalho feito pela antiga direção, que dedicou muito tempo na reestruturação do jornal”.

A anterior co-diretora Beatriz Rainha, de fevereiro de 2016 a fevereiro deste ano, esclareceu ao JPN que o problema com o financiamento já é antigo. Um dos objetivos a que se propôs quando assumiu a direção foi reativar a edição impressa, no entanto, não foi possível. Decidiu em conjunto com a colega de direção, Beatriz Pinto, dedicar-se a 100% ao site que “precisava de um upgrade considerável, tanto no aspeto como no funcionamento”. A mudança acabou por ser concretizada.

Ainda que o JUP acabe por se associar à Universidade do Porto, uma vez que a maioria dos seus colaboradores são estudantes desta instituição, o jornal tem de pagar uma renda mensal à universidade por causa da sala que ocupa como redação, com uma biblioteca e um “arquivo enorme”: “Estamos a falar de um arquivo que data de 1987 e a sala é necessária”.

A questão do financiamento e da relação com a UP tem sido, ao longo dos anos, algo bastante discutido. No entanto, os pedidos para reuniões com a Reitoria da UP eram quase sempre adiados: “Nunca deu em nada”, confessa Beatriz Rainha ao JPN. O jornal chegou mesmo a escrever uma carta à Reitoria.

Neste momento, o jornal universitário não recebe qualquer tipo de financiamento. Contactada pelo JPN, a Reitoria da Universidade do Porto confirmou que a instituição de ensino superior não concede atualmente qualquer verba monetária ao JUP. A razão apontada consiste na redução do orçamento que a própria universidade também sofreu nos últimos anos.

As Galerias Lumiére foram o local escolhido para a exposição comemorativa dos 30 anos do JUP. Foto: Cláudia Silva

Vários cursos e várias perspetivas

A diversidade é uma das imagens de marca do JUP ao longo dos seus 30 anos: “Os vários estudantes a integrar o jornal são o que lhe confere identidade. É isso que somos. O jornal da Academia do Porto”, explica o atual co-diretor.

Para André Ferrão, ter alunos dos mais diversos cursos da Academia confere ao jornal uma perspetiva mais “holística”, contribuindo para a exploração de diferentes e várias vertentes, de forma a “dar voz a todos”: “Ter tantos colaboradores de diferentes instituições ajuda, porque abordam os temas de diferentes formas”.

Quanto ao rigor, André Ferrão assegura que não está comprometido, uma vez que os editores das diferentes editorias são quase todos do curso de Ciências de Comunicação ou seja, “estão a par das técnicas de escrita jornalística e sabem que tem de haver brio naquilo que é feito”.

Olhares de quem já passou pelo JUP

A co-diretora do JUP em 2015, Margarida David Cardoso, partilhou com o JPN os melhores momentos que viveu no JUP.  Desde cedo, Margarida não tinha dúvidas que queria ser jornalista: “Eu quando entrei para o curso já queria jornalismo”, afirma.

Na sua primeira reunião no JUP, ficou-lhe atribuído a tarefa de fazer um “artigo a sério”: o Fanstasporto. “O JUP acabou por ser um bocadinho isso, expormos a nossa zona de desconforto. Atirar-nos um bocadinho aos leões”, confessa Margarida.

Apesar da pouca experiência na área, foi-lhe atribuído um “voto de confiança gigante” para assumir o cargo de diretora do jornal universitário mais antigo do país. Margarida relembra que o JUP a ajudou a perceber aquilo que queria fazer. “Deu-me aquela segurança de ‘é mesmo isto o que eu quero fazer’. Por outro lado, também me deu a oportunidade de conhecer imensas pessoas e de contactar com uma série de estudante que não eram do meu curso”, explica.

As memórias são muitas e, numa perspetiva mais pessoal, a ex co-diretora afirma que “a Faculdade de Letras da UP é sempre um bocado deixada de parte, mas o JUP não é só ‘Letras’, é de toda a Universidade do Porto”.

Já Beatriz Rainha vê o seu percurso “com muito orgulho”, especialmente por “ter continuado o legado do jornal universitário mais antigo do país”. Acrescenta ainda: “Ver o JUP completar 30 anos e saber que fiz a diferença, pelo menos, num desses anos, é muito gratificante”.

O JPN acompanhou Jorge Pedro Sousa à exposição comemorativa do 30º aniversário do JUP nas Galerias Lumière. O professor de Jornalismo da Universidade Fernando Pessoa foi um dos fundadores do jornal, em 1987. Reconhece que foi com carinho e “predileção” que folheou algumas edições do jornal que se encontram na exposição.

Jorge Pedro Sousa foi um dos fundadores do jornal universitário mais antigo do país. Foto: Cláudia Silva

Há três décadas, o digital não estava tão em força como hoje e o professor afirma que “não havendo Internet, muitas pessoas liam, quanto não fosse mais por curiosidade”. “A Internet veio de alguma maneira democratizar a produção e também a receção de noticias e informações”, explica.

“Não havendo Internet muitas pessoas liam [o JUP], quanto não fosse mais por curiosidade”, Jorge Pedro Sousa.

Apesar da diminuição do consumo tradicional de informação, o professor afirma que “não deixa de ser importante a existência de instituições que brotam das livres vontades de um grupo de pessoas que se juntam para criarem algo que pode ser útil aos outros”.

Jorge Pedro Sousa recorda que viveu uma “vida académica plena”. Quando chegou ao ensino superior, foi para o curso de ciências “com a intenção de ser biólogo”, no entanto abandonou a ideia, para “ser jornalista”. Segundo o professor, os projetos de comunicação universitários aumentaram a paixão pelo jornalismo e a “desilusão” pelas ciências.

Quando o financiamento era assegurado pela UP

Recuando ainda no tempo, o professor afirma que tinham o financiamento da generalidade das instituições do ensino superior e da publicidade.  O facto de ser um projeto aberto levava os estudantes a “abandonarem as suas capelas em favor de projetos comuns”, ou seja, viviam num “espírito ecuménico”.

A Reitoria da Universidade do Porto, liderada pelo professor Alberto Amaral, era o principal financiador que permitiu criar “alicerces suficientemente sólidos para o jornal ainda existir”, explica Jorge Pedro Sousa.

A direção do JUP revelou ao JPN que a equipa está a trabalhar num suplemento para comemorar o 30º aniversário do jornal. Estão, por isso, a trabalhar na recolha de testemunhos de antigos colaboradores que seguiram a profissão de jornalista, com reportagens mais detalhadas e “algumas surpresas”.

O jornal quer que o aniversário seja um marco para recordar antigas publicações do jornal em papel. “O jornal é próximo da Academia do Porto e quer que os estudantes sintam isso”, salientou André Ferrão.

Artigo corrigido a 19 de junho de 2017, às 11h49min, com a correção do número e nome das editorias

Artigo editado por Rita Neves Costa