Foi, em tempos, o mais prestigiado hospital da cidade do Porto. A área hospitalar da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, uma das mais importantes instituições particulares de solidariedade social do país, fecha portas em abril. Em conversa com o JPN, o provedor da Ordem, Rui Barbosa, lamenta o curso que a instituição levou nos últimos anos e considera que “vender o hospital foi a única hipótese” que restou à entidade.

De hospital a hotel

Seis anos após o início da crise que assolou a instituição, em 2010, a Ordem do Carmo anunciou a venda do edifício que acolhia o hospital, para a construção de uma unidade hoteleira. “Desde o início de 2016, acontece um negócio entre um grupo empresarial e a Ordem do Carmo para decidir instalar um hotel”, conta Rui Barbosa.

O presidente do grupo Nelson Quintas, Jorge Quintas, confirmou ao jornal “Público” a compra do edifício pelo grupo hoteleiro. O projeto prevê um investimento de 25 milhões de euros, que poderá contar com a etiqueta Hilton ou Vincci.

O grupo Quintas revelou ainda ao jornal “Público” que o novo hotel, com lugar na Praça Carlos Alberto, vai ter uma área de 13 mil metros quadrados, com 227 quartos previstos.

Uma dívida que deixou corredores vazios

O hospital da Ordem do Carmo chegou a ser o mais conceituado da cidade. O surgimento de novos grupos hospitalares no Porto tornou cada vez mais difícil fazer frente à concorrência, sufocando a instituição.

Contaram-se muitos anos de uma dívida à Segurança Social, que se foi agravando e que entretanto foi saldada. O agravamento dos problemas financeiros, em 2010, conduziram à demissão de muitos médicos e outros funcionários da área hospitalar e, entretanto, à penhora do património imobiliário da Ordem do Carmo.

A ausência de muitos profissionais da instituição deixou na mesa o agravamento das questões financeiras que, mais tarde, conduziria ao fim da área hospitalar.

Até finais de março, a Ordem do Carmo já só tinha ativos o gabinete do Provedor e a secretaria, ocupando uma área de apenas 10% do edifício. A infraestrutura que albergava a área hospitalar é agora entregue para obras.

“A vocação principal vai ser o lar de idosos”

A venda do imóvel encerra definitivamente o hospital, mas o lar de terceira idade e as restantes residências que a Ordem acolhe continuam em funcionamento.

A venda do edifício não terá, no entanto, impacto para os dois serviços que a instituição ainda detém: além do lar, uma residência de vitalícios e de antigas funcionárias da Ordem do Carmo – ativos no imóvel conexo ao do antigo hospital.

O atual provedor confessa que, a partir de agora, “a vocação principal vai ser o lar de idosos” e que as residências vão ser restauradas, para que possa “concorrer com outros lares de classe média-alta da cidade”.

Criado em 1797, o hospital da Ordem do Carmo tornou-se uma referência na área, tendo ao serviço alguns dos mais conceituados profissionais de saúde.

A instituição manteve, desde a sua criação, uma ligação direta à igreja. “Quem procurava o hospital da Ordem tinha, por base, motivações de ordem espiritual”, conta Rui Barbosa. O atual provedor acrescenta que “a Ordem ainda continua a ajudar quem a procura”.

No entanto, Rui Barbosa sabe que é preciso trabalhar o que resta para dar fôlego ao nome da Ordem, entretanto abalado.

Artigo editado por Filipa Silva