A notícia foi avançada pelo “Público”, este domingo, e esclarece que a prova que permite aos médicos aceder a uma especialidade vai ser substituída em 2019 por um novo modelo de exame. No próximo ano está planeada a realização de um primeiro teste-piloto. A partir desta segunda-feira e por um prazo de 30 dias, o documento vai estar disponível para consulta pública.

A proposta foi apresentada por uma comissão nomeada pelo Ministério da Saúde. Na origem da mudança está a constatação de que o Harrison, que existe há 40 anos, é um exame desadequado à avaliação das capacidades dos estudantes. “Nós, neste momento, temos um exame que apela única e exclusivamente à memorização e para a prática clínica é importante incentivar o raciocínio clínico”, esclarece ao JPN Rita Ramalho, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM).

Se a proposta não sofrer alterações significativas, o novo exame vai passar de 100 para 150 perguntas de escolha múltipla, vai ser mais longo e vai incidir nas áreas da medicina interna e da medicina geral e familiar. Estas mudanças, segundo a presidente, permitem uma maior semelhança “com o que os futuros médicos vão necessitar para a prática clínica”, pois possibilita a articulação do conhecimento como um todo. Se o modelo for aplicado de acordo com as recomendações, “vai ser um modelo mais justo e adequado para os propósitos que são adstritos à prova”.

A bibliografia utilizada para a prova vai também sofrer alterações. Atualmente é utilizado o livro do cardiologista Tinsley Harrison, mas no futuro serão recomendadas obras para cada uma das áreas que o exame trata.

Para Rita Ramalho, a ANEM, que integrou a comissão responsável pela proposta, teve a preocupação de garantir “que os estudantes tenham acesso à matriz com antecedência”.  Este aspeto foi salvaguardado. A matriz da prova vai ser conhecida com pelo menos 18 meses de antecedência, para “permitir que os estudantes tenham tempo para fazer uma preparação adequada à prova que determina o futuro enquanto médicos”.

“Uma mudança consensual”

Em comunicado, a associação “espera ainda ver acedido o pedido para que aconteça, com brevidade, uma apresentação pública, aliada a sessões independentes em cada Escola Médica, sobre a adoção do novo modelo de Prova Nacional para Acesso à Formação Específica”.

Francisco Sousa Vieira, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (AEFMUP), conta ao JPN que a falta de informação é uma preocupação partilhada pelos estudantes. A ideia das sessões de esclarecimento é bem vista pelos futuros médicos, pois “quanto mais informados estiverem em relação à prova que vai decidir o futuro das suas vidas, melhor”.

“Nós vimos as ciências, a medicina a mudar de ano para ano, sabemos que o médico atual é um médico diferente de há uns anos e o estudante de Medicina tem uma formação diferente de há 40 anos. Vemos isto década após década a mudar com o mundo, e o exame permanecia igual”, considera o representante associativo.

O estudante acrescenta que “esta é uma mudança consensual nos estudantes de Medicina”, pois o Harrison, que tem quatro décadas, já há algum tempo que “não cumpre o seu papel como deveria”.

Em 2016, mais de 2.400 alunos fizeram o Harrison em Portugal.

Artigo editado por Filipa Silva