Na sequência das manifestações contra e a favor do presidente Nicolás Maduro, desta quarta-feira, na Venezuela, morreram dois civis e um militar. As manifestações provocaram confrontos entre os civis e a polícia, com as autoridades a lançarem gás lacrimogénio. As manifestações foram descritas como a “mãe de todas as manifestações”, e ocorreram, precisamente, no dia em que se comemora a revolução de 1810 que levou o país à libertação do domínio espanhol.

De acordo com a Agência Reuters, o jovem de 18 anos foi baleado com um tiro na cabeça em Caracas, quando ia a caminho de um jogo de futebol, sem intenções de participar nas manifestações e os apoiantes do governo se aproximaram dos protestos da oposição e dispararam tiros. Uma mulher de 24 anos terá sido igualmente baleada numa outra manifestação contra Maduro, no estado de Táchira. Um militar venezuelano, também, foi morto a tiro, em San Antonio de los Altos, no estado de Miranda, perto da capital.

Na sequência do violento protesto, 500 pessoas foram detidas e as autoridades venezuelanas ordenaram às operadoras de televisão por cabo que impedissem a emissão das estações El Tiempo, da Colômbia, e Todo Notícias, da Argentina, por terem transmitido as manifestações contra o governo de Nicolás Maduro. Já a televisão estatal VTV apenas transmitiu imagens dos protestos de apoio ao governo.

A conta do Twitter do presidente da Venezuela mostrou imagens da manifestação de apoio e Maduro disse que “o povo revolucionário encheu as ruas de Caracas para defender a pátria”. Já Henrique Capriles, governador opositor e candidato presidencial por duas vezes, afirmou na sua conta de Twitter “Aqui está a resposta de Maduro – matar venezuelanos”.

Como alguns motivos dos protestos está a decisão do governo venezuelano de entregar armas aos civis, decisão esta que foi condenada pela Organização dos Estados Americanos. Os protestos são, também,  contra a alegada ruptura constitucional e contra duas sentenças em que o Supremo Tribunal de Justiça limita a imunidade parlamentar e assume funções no parlamento, onde a oposição detém a maioria.

A mobilização contra Maduro, desta quarta-feira, integra o conjunto de 26 protestos promovidos pela oposição, na capital, com a intenção de se juntar uma marcha até à sede principal da Defensoria del Pueblo (Provedoria da Justiça), junto ao local dos acontecimentos.

O presidente da Venezuela, para prevenir o protesto, prometeu uma reação implacável. Maduro convocou as Forças Armadas, ordenou que se espalhassem por todo o país e ainda anunciou que vai armar 500 mil civis para a Milícia Nacional Bolivariana — uma milícia composta por civis que serve como complemento às Forças Armadas da Venezuela.

Plano de contingência do governo português

O governo português está a  preparar um programa de contingência para retirar um milhão de portugueses da Venezuela, caso a situação se agrave.

“À luz da lei portuguesa, dispomos sempre de planos de contingência, também procurando responder a eventuais problemas que ocorram, e esses planos de contingência existem em relação a todas as regiões onde se localizam comunidades portuguesas”, afirmou Augusto Santos Silva numa conferência de imprensa, esta quarta-feira, conjunta com o chefe da diplomacia de Havana, Bruno Rodríguez Parrila, em Lisboa.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros, lembrou, ainda,  que “Portugal tem cerca de 5 milhões de naturais de Portugal ou com nacionalidade portuguesa vivendo no estrangeiro”.  “Em relação a todos eles temos obrigações constitucionais de proteção consular e de proteção em circunstâncias de insegurança ou de outros incidentes que possam pôr em perigo o seu bem-estar ou as suas próprias condições de existência”, concluiu.

Artigo editado por Rita Neves Costa