Dois restaurantes, dois proprietários com ligações a um país que já teve melhores dias. António Oliveira e Francisco Gonzalez saíram do ambiente pesado da Venezuela e vieram para Portugal em busca de tranquilidade e sucesso.

António Oliveira é luso-venezuelano e viveu durante 37 anos na Venezuela. Desde os 20 anos até aos 57, António fez carreira na América do Sul e conseguiu ser proprietário de vários supermercados no tempo que lá esteve.

António Oliveira é proprietário do restaurante “Casa das Arepas”. Foto: José Correia

No entanto, há um ano viu-se obrigado a partir para Portugal: “Vim por causa da situação e por causa da falta de respeito. Não me respeitavam. Era um abuso de autoridade. E eu, como não estava para me chatear e para não perder a paciência preferi vir para Portugal”.

Já Francisco Gonzalez, também luso-venezuelano, tem 25 anos. Filho de português, vive em Portugal há sete anos — saiu da América do Sul para vir estudar para a Europa. Apesar das motivações académicas, Francisco não esconde que a situação que se vive na terra natal levou, também, à emigração.

Há pouco mais de um mês, Francisco abriu o restaurante Dona Arepa, um restaurante tipicamente venezuelano, com vista a “matar” algumas saudades do país e trazer paladares típicos à boca dos portugueses: “Havia uma falta de oferta de comida venezuelana, por isso também quis criar este projeto”, explicou ao JPN.

A chamada “guerra do pão” na Venezuela limita todo o acesso da população a produtos básicos como o pão, dado o controlo que Nicolas Maduro, presidente do país, tem sobre as questões de importação, exportação e produção. “Uma situação lamentável num país que está a travessar uma mudança política e onde parece que estão a querer instaurar uma ditadura”. É assim que o staff de nacionalidade venezuelana vê, a partir de Portugal, o país de origem.

Dois restaurantres, dois “areperas” atrai portugueses

O restaurante Casa das Arepas, de que António Oliveira é proprietário, está aberto há quatro meses. O que se vende sobretudo, neste espaço, são as arepas, como o próprio nome indica. Uma arepa trata-se de um dos pratos mais famosos do país. Por dia, trabalham cerca de oito funcionários. Segundo Oliveira, o seu espaço “recebe todo o tipo de clientes, não só portugueses e venezuelanos, como outras pessoas com outras nacionalidades”.

O proprietário luso-venezuelano explica que a adesão ao espaço tem sido boa: “Apesar das arepas serem uma coisa nova em Portugal, acho que a comida se tem adaptado bem. As pessoas têm vindo cá em força, sobretudo nos dois primeiros meses, em dezembro e janeiro”.

Já no Dona Arepa, Francisco Gonzalez compara a procura das arepas na Venezuela à das francesinhas no Porto. O proprietário de 25 anos procurou mais venezuelanos a viver no Porto e assim arranjou um chef, um ajudante de cozinha, e uma empregada de mesa.

Também neste restaurante, à semelhança do de António Oliveira, a adesão dos portugueses tem sido boa. Destaca que costuma ter muitos clientes com ligações à Venezuela ou que já estiveram lá. Revela, também, que têm “bastantes venezuelanos” a visitar o estabelecimento, dado o crescente número de cidadãos a viver em Portugal: “Existe bastante migração, com retornados e descendentes por causa da situação difícil que se vive na Venezuela”, explicou o gerente do Dona Arepa.

Ricardo Teixeira e Manuel Fonseca são clientes do Dona Arepa e gostam de visitar o restaurante. Um deles viveu mesmo na Venezuela e vê no restaurante uma maneira de recordar sabores da terra: “Há coisas que ficam. A comida é uma delas. Acho que um restaurante é sempre um referência de um país passado e que pode ser revivida no país de origem”.

Antoni é o responsável por cozinhar as “arepas”. Foto: José Miguel Soares

Antoni Goncalves é venezuelano e é chef do Dona Arepa. Está há dois meses na Invicta e admite que na altura de deixar a América do Sul foi o ambiente de Portugal que o atraiu. O país é “interessante e tranquilo, e a sua gente social e amigável”, admitiu. Quanto ao feedback que tem obtido à sua comida, diz que os clientes gostam porque é uma comida pouco comum e pouco distribuída pelo mundo.

O objetivo primordial é trazer os sabores e costumes da Venezuela e pô-los à disposição dos paladar dos portugueses. A maior dificuldade para o chef está ao nível da confeção da comida, no sentido de agradar a um paladar que não está acostumado aos sabores em questão. Antoni Goncalves diz mesmo que “a mistura de sabores tem que ter uma grande harmonia”.

Os restaurantes podem ser considerados uma arepera, o nome dado a um especialista em arepas, mas a oferta não se resume a estas. As arepas são um prato tradicional da Venezuela e são a principal oferta do restaurante. Trata-se de um pão feito de farinha de milho que leva um recheio à escolha do cliente entre várias opções como frango, carne estufada, atum, entre muitos outros.

O custo de cada arepa ronda os quatro/cinco euros em ambos os restaurantes. No caso do Dona Arepa existem, ainda, outros pratos como as empanadas, espécie de rissol gigante ou a carne estufada desfiada com arroz branco e plátano (espécie de banana) venezuelano. No caso da Casa das Arepas também existe variedade, nomeadamente a cerveja venezuelana polar ou mesmo o refrigerante frescolita.

Artigo editado por Rita Neves Costa