Começam a ser várias as gerações que mergulham nas aulas de hidroginástica e que desafiam estereótipos de que esta é uma modalidade para “velhos”. Por aconselhamento médico, para melhorar a forma física ou porque já se tornou parte da rotina semanal, são vários os motivos que atraem pessoas mais novas para esta modalidade.

João Lima, professor de hidroginástica há seis anos, verifica que “a média de idades por turma é cada vez menor. Já há alunos de 30 ou 20 e tal anos”. A diferença que nota não é significativa, mas João considera que a procura por alunos mais novos é “cada vez maior”.

Para o técnico da Piscina Municipal da Granja, em Gaia, existe o estigma de que a modalidade é destinada a pessoas mais velhas, uma vez que “a ideia que as pessoas têm é que a hidroginástica é uma atividade muito levezinha, só de relaxamento”. Segundo João Lima, o estereótipo faz com que o desporto seja tendencionalmente associado a mulheres e idosos, neste último caso, para prevenção de lesões ou como atividade terapêutica.

“Numa aula de hidroginástica consegue-se queimar 400 ou 500 calorias, o que é equivalente a uma aula de grupo num ginásio, de step ou localizada. Eu desafio qualquer jovem, ou qualquer adulto de 20, 25, 30 anos a fazer uma aula e garanto que sai daqui cansado”, refere João Lima.

Em relação ao estigma do género, existem também mais homens a procurar as aulas. “Cada vez menos é só mulheres, também temos homens, menos claro. Mas há dez anos, 99% dos alunos por turma eram mulheres”, afirma o professor.

João Lima, professor de Hidroginástica na Piscina Municipal da Granja. Foto: Beatriz Carneiro

João Lima, professor de hidroginástica na Piscina Municipal da Granja. Foto: Beatriz Carneiro

Joaquim Carvalho tem 34 anos, pratica hidroginástica há dez e aderiu à modalidade por questões de saúde. É aluno do professor João Lima e frequenta a piscina da Granja há um ano. “Andava na natação desde miúdo e tive que abandonar a natação e o ortopedista recomendou desportos aquáticos e eventualmente a ‘hidro’”, explica.

Em relação à idade admite que não se apercebe de nenhum estigma, o que não acontece em relação ao género. “Quando eu comecei acho que o estigma que havia era que a hidroginástica era para senhoras. Eu em quase todas as turmas até à relativamente pouco tempo era praticamente o único homem”, conta ao JPN.

Segundo Joaquim, há aulas que são mais exigentes que outras, mas encontra neste desporto benefícios “quer a nível físico quer a nível psicológico”.

Joaquim Carvalho, 34 anos, aluno de Hidroginástica há 10 anos. Foto: Beatriz Carneiro

Joaquim Carvalho, 34 anos, aluno de hidroginástica há dez anos. Foto: Beatriz Carneiro

Praticou durante quatro anos e teve de parar por motivos de trabalho, mas há um ano regressou e frequenta a piscina da Granja. Isabel tem 46 anos e não consegue esconder o entusiasmo quando lhe perguntam porque é que pratica hidroginástica: “Porque adoro isto e para forma física também ajuda”.

“Eu vejo por pessoas com quem trabalho. Estou sempre a falar de hidroginástica e toda a gente diz: ‘Ai isso é para velhotes e idosos, o que é que tu andas lá a fazer no meio?’. Existe esse estigma, eu acho que é uma coisa que não vai parar”, afirma Isabel. Como motivos encontra o facto de muitas das aulas terem pessoas “mais idosas” e daí considera que “partem do pressuposto que é mesmo por uma questão de saúde e que será o único tipo de desporto que os idosos terão mais facilidade em fazer”.

Isabel nota que há mais jovens nas turmas, mas que “as pessoas não têm noção” e associam a hidroginástica a uma brincadeira.

Isabel, 46 anos, aluna de hidroginástica há um ano e meio na Piscina Municipal da Granja. Foto: Beatriz Carneiro

“As aulas de hidroginástica são sempre as mais procuradas e são as que esgotam as inscrições logo. Há sempre gente em lista de espera e nos horários nobres é muito difícil ter vagas para toda a gente”. Quem o diz é Félix João, coordenador dos professores da Piscina Municipal da Granja.

A par disso, Félix admite que a hidroginástica está na moda e que “há cada vez mais jovens a praticar não só por indicação médica, mas também por livre vontade de ir para a piscina e praticar desporto”. O coordenador refere que muitas pessoas que não sabem nadar começam por este exercício físico e depois “começam a gostar e a vir mais vezes”.

Segundo Tatiana Carvalho, coordenadora de todas as Piscinas Municipais de Vila Nova de Gaia, a Piscina da Granja tem 55 turmas de hidroginástica numa realidade com uma “miscelânea de faixas etárias”.

Na Piscina Municipal da Constituição no Porto, o JPN também falou com jovens praticantes de hidroginástica.

Bárbara Rocha tem 34 anos e “não liga nada” ao estigma de que a hidroginástica é para pessoas mais velhas. Inscreveu-se nas aulas por causa das dores nas costas e a avaliação é positiva: “Faz-bem, gosto muito. Dá para relaxar, para me rir imenso”. Com o passar do tempo já vê mais pessoas jovens nas aulas porque “no início era quase a única”.

Bárbara Rocha, 34 anos, aluna de hidroginástica desde outubro de 2016. Foto: Beatriz Carneiro

Bárbara Rocha, 34 anos, aluna de hidroginástica desde outubro de 2016. Foto: Beatriz Carneiro

Com 24 anos, Manuel Pires pratica hidroginástica há cerca de quatro semanas, aconselhado pelo médico por problemas de coluna e joelhos. “Não gosto de ir para ginásios e esse tipo de ambientes, por isso procurei a hidroginástica, para ver se poderia ser diferente e para já estou a gostar”, explica ao JPN.

Manuel considera que “ainda há muito a ideia [da modalidade ser para pessoas mais velhas] pela camada mais jovem”. Já tentou convencer os amigos, diz que as aulas são animadas, mas ainda não conseguiu.

“Já noto diferença quando não venho, tanto a nível de bem-estar como de humor nota-se. É melhor do que estar parado em casa. É o mesmo preço que um ginásio ou mais barato, só o facto de estar na água é diferente”, considera Manuel.

Andreia Martins, 36 anos, aderiu à “hidro” por consequências de sedentarismo: “casa-trabalho/trabalho-casa”. O estigma “existe”, mas não é algo que impeça esta praticante. “Faz muito bem ao corpo e não tem nada a ver com a idade”, refere Andreia. “Na minha turma há cerca de quatro pessoas da minha faixa etária”.

Segundo a aluna faz bem “esticar” os músculos na água ao final do dia, aqueles que “ficam contraídos durante as posições de trabalho, na secretária ou a conduzir”.

Andreia Martins, 36 anos, aluna de hidroginástica há 2 anos. Foto: Beatriz Carneiro

Andreia Martins, 36 anos, aluna de hidroginástica há dois anos. Foto: Beatriz Carneiro

Os três jovens são alunos da professora Carine Silva, que dá aulas de hidroginástica há dez anos. A professora de 33 anos não concorda que a hidroginástica seja direcionada para os alunos mais velhos e considera que, apesar de notar mais jovens a procurarem as aulas, esse estigma impede muitos de experimentarem.

Carine Silva, 33 anos, professora de hidroginástica na Piscina Municipal da Constituição. Foto: Beatriz Carneiro

Carine Silva, 33 anos, professora de hidroginástica na Piscina Municipal da Constituição. Foto: Beatriz Carneiro

“O público mais jovem tem essa imagem que a hidroginástica é para os velhinhos”, refere a professora da Piscina Municipal da Constituição. Carine indica que entre as vantagens da modalidade estão o aumento da resistência cardiovascular, cardio-respiratória, força, agilidade e flexibilidade.

De mergulho em mergulho, a piscina vai-se enchendo de diferentes gerações. A presença mais jovem já se faz sentir e poderá ajudar a combater a pressuposição de que a hidroginástica seja um desporto para “velhos”.

Artigo editado por Rita Neves Costa