O FC Porto não foi além de um empate (1-1) nos Barreiros. Dragões voltam a derrapar, complicam as contas do título e deixam caminho livre ao Benfica.

Um Caldeirão de água gelada. Pela quinta época consecutiva, o FC Porto saiu do Estádio dos Barreiros sem os três pontos na bagagem. O empate (1-1) obtido este sábado diante do Marítimo subiu para cinco o número de igualdades registadas nos últimos sete encontros.

O dragão aparentava ter as operações controladas, sobretudo após o tento de Ótavio no primeiro tempo. Só que Donald Djoussé tinha ideias diferentes e assombrou a noite das hostes azuis e brancas. O FC Porto perdeu a oportunidade de saltar provisoriamente para o comando da tabela classificativa.

Mais: pode mesmo ter entregue de bandeja o campeonato ao Benfica. Os encarnados estão a cinco pontos do tetracampeonato, quando ainda têm três jornadas para disputar. Se ganharem este domingo em Vila do Conde, têm tudo para fazer a festa no próximo fim de semana.

Convencer de entrada

Os perigos para a armada nortenha aparecem com pré-aviso no corredor direito. Tendo Maxi castigado, Nuno Espírito Santo optou por deixar Layún no continente. Aproveitou a vaga Fernando Fonseca. Presença assídua na equipa B, o lateral fez a estreia absoluta pelo plantel principal dos dragões aos 20 anos.

De resto, o jogo marcou o retorno de Brahimi aos relvados. Herrera não era titular há quase três meses. Já Óliver e André Silva voltaram a iniciar o jogo a partir do banco. Do lado maritimista, Daniel Ramos também introduziu o fator-surpresa no corredor destro. De ala, Pedro Coronas foi adaptado a médio para travar as investidas de Brahimi. Raúl Silva, melhor marcador dos insulares na liga, voltou depois de ter estado suspenso.

Sem investidas de renome, o duelo arrancou com polémica. Numa disputa de bola, Keita envolveu-se com Felipe e caiu à entrada da área. Os Barreiros – registaram a melhor casa da sua história – pediram grande penalidade, Jorge Sousa deu ordem para jogar.

Aos poucos, o FC Porto ia subindo linhas e somando oportunidades. André André testou a meia distância (11’), antes de Charles sair aos pés de Francisco Soares (23’). À terceira, o cântaro ficou mesmo na fonte. Aos 28 minutos, um cruzamento atrasado tirado na direita por Herrera tomou a direção de Zainadine. O central moçambicano fez um corte defeituoso e deixou a bola à mercê de Otávio. O brasileiro teve tempo e espaço para preparar um remate rasteiro e colocado e obter o primeiro golo no campeonato.

As contrariedades para o Marítimo não se esgotaram aqui. Daniel Ramos foi forçado a mexer à meia hora, com Brito a render Luís Martins, por problemas físicos. A alteração levou Coronas a transitar para o flanco esquerdo, sem quebrar o tradicional 4-3-3 com que os insulares partiram para o encontro.

Só que a superioridade azul e branca continuou a ser evidente. Antes do intervalo, Fernando Fonseca, um dos melhores em campo, quase dilatou a vantagem. Valeu uma estirada de Charles a evitar xeque-mate precoce.

Para morrer com um suplente de luxo

A toada continuou na etapa complementar: portistas a tomar as despesas atacantes, perante um adversário sem capacidade para incomodar Casillas. Aliás, à passagem da hora de jogo, Soares voltou a desperdiçar na cara de Charles, com Raúl Silva a afastar por completo o perigo.

Só que a vantagem era curta. Muito curta. E quando Daniel Ramos decidiu arriscar um bocadinho, acertou em cheio na lotaria. Três minutos após ter colocado Djoussé no lugar de Edgar Costa, o camaronês repôs a igualdade. Patrick bateu um canto na direita e o dianteiro africano apareceu ao segundo poste a desviar de cabeça para o empate. Segundo remate certeiro de Donald no campeonato – o primeiro tinha sido no Dragão, contra o FC Porto.

O golo teve efeitos contraditórios. Os visitados estiveram perto da reviravolta por Brito (71’), os visitantes não encontraram argumentos lúcidos para recuperar a vantagem. Numa situação nada inédita em 2016/17, Nuno desguarneceu o setor defensivo para reforçar o ataque (Corona, André Silva e Rui Pedro). Perante tanta bola aérea, desespero retilíneo e decisão precipitada, respondeu o Marítimo com trancas à porta. E novo jogo sem perder em casa desde que Daniel Ramos assumiu o comando técnico dos insulares.

Os dias vão continuar a sorrir na Madeira, tendo plantado na consicência o regresso às competições europeias. Quanto aos dragões, muito fogo de vista e pouca resiliência à contrariedade. A “sentença” parece certa. Aplicá-la é uma questão de tempo, a definir pelos encarnados.

“A Liga ainda não acabou”

O treinador do Porto considera a igualdade na Madeira “um resultado dececionante”. Em conferência de imprensa, Nuno Espírito Santo admitiu algum desalento, mas lembrou que o campeonato ainda não terminou. “Desde o princípio do jogo que procurámos outro resultado. Deixa-nos mais longe do nosso objetivo, que era ganhar os três pontos e continuar nesta luta, mas a Liga ainda não acabou e vamos manter a nossa dedicação e o nosso trabalho”, garantiu.

O técnico considera que os dragões dominaram as incidências do encontro, mas esbarraram na eficácia. “O jogo foi totalmente controlado por nós. Pena foi não termos matado o jogo quando ele tinha de ser definitivamente fechado. O Marítimo não teve oportunidades para chegar à nossa baliza, à exceção do lance de bola parada em que fomos penalizados”, lamentou, deixando um pedido de desculpas aos adeptos.

“Reforcei ao intervalo que era possível fazermos o golo”

Daniel Ramos gostou da postura do Marítimo face ao maior poderio do adversário. Em conferência de imprensa, o técnico insular destacou a importância do empate conquistado. “Sabíamos que o FC Porto nos iria trazer grandes dificuldades, mas a equipa respondeu muito bem. Conseguimos disputar, palmo a palmo, o jogo com o FC Porto. Conseguimos um ponto, que nos dá alento para continuarmos a lutar pelo sexto lugar importantíssimo para nós”, sublinhou.

Apesar de os portistas terem chegado à vantagem na primeira parte, o treinador realça que a confiança nos maritimistas nunca esmoreceu. “Mesmo após sofrermos o golo, nunca deixámos de acreditar. Reforcei ao intervalo que era possível fazermos o golo. Com 1-0, estávamos sempre em jogo e o 1-1 veio-nos dar a crença de que podíamos conquistar, pelo menos, um ponto”, recordou, defendendo que a colocação de Coronas sobre o corredor direito foi propositada.

“O regresso do Brahimi ia dar outro tipo de criatividade e capacidade de envolvimento pelo corredor esquerdo. Seria importante um travão. O Coronas já desempenhou essa posição [médio direito] no passado e acho que foi uma boa decisão colocar um corredor direito com mais robustez”, explicou.

Artigo editado por Filipa Silva