As artes de palco chegaram à Maia. No ‘Artgym Center’, em Vermoim, há alunos a subirem por cordas ou a atingirem o ponto mais alto e vertiginoso de uma pirueta ao som de um rádio. Estamos no Instituto Nacional de Artes do Circo (INAC).

Além do nariz vermelho e da música polifónica, a arte circense tem uma veia ginasta e acrobata. O circo contemporâneo pensa em política e requer a cada artista que explore a sua expressão, o seu movimento e a sua identidade.

O  INAC é, como o Chapitô em Lisboa, um núcleo de formação para artistas de circo com vista à inserção no mundo do espetáculo. O curso abriu em setembro de 2016, tem a duração de dois anos e uma carga horária que supera as 2.160 horas, repartidas entre aulas teóricas e práticas. Neste pavilhão, na Maia, estudam 23 artistas.

Luís: “A ginástica é a filha do circo”

Na hora dos alongamentos ouvem-se berros. Luís é um dos que grita. Iniciou a sua formação no INAC em outubro de 2016, prefere o ‘diablo’ e a ‘bola de contacto’, dois objetos de manipulação circense derivados do malabarismo.

Afirma que “entrou no instituto para sair do malabarismo e aprender outras técnicas” e que os treinos “são intensivos e duros”. As aulas são diárias, decorrem das 09h00 às 17h00. “Aleijam para ‘caraças’ e as pernas ficam todas rasgadas. É muito intenso”, conta Luís.

“Eu sou profissional, tenho 30 anos, quase nos 31, e sempre aprendi de uma forma autodidata. Mas apercebi-me que deveria ter um diploma e o INAC pareceu-me uma excelente oportunidade”, explica o malabarista. Quem conhece o instituto destaca a vantagem da parceria com o ‘Acro Club da Maia’, tirando partido da sua vasta experiência em ginástica.

Luís acredita que no circo “não conta só a fisicalidade, mas também a intelectualidade”. O aluno, que frequenta o primeiro ano de formação, destaca “o estudo sobre a produção de espetáculos, dos impostos envolvidos, do preenchimento do IRS de um artista, dos artigo a acionar quando se passa um recibo, entre outras ferramentas que apoiam o artista circense na sua vida profissional”.

“Posso ser o circo que eu quero”

“A minha especialidade é ‘equilíbrios’, como por exemplo o pino de cabeça para baixo”, explica Fausto. O aluno é brasileiro, já viveu na Áustria durante cinco anos, e veio para Portugal para integrar a formação do INAC.

Quando os colegas pedem, Fausto ajuda a aperfeiçoar os pinos e afirma que “esta escola tem uma nova proposta de linguagem para o circo contemporâneo. Não sou obrigado a seguir um padrão”, regozija-se.

Sobre o circo e a sua contemporaneidade, Fausto explica que “as artes circenses ainda têm o espírito cigano: deixa a vida e segue o circo, é esse o apelo”. O aluno tem o sonho de, no final do curso no INAC, abrir a sua própria companhia de circo.

Para o equilibrista, “o circo contemporâneo ainda tem uma voz política”. “Posso ser o circo que eu quero, isso é muito importante, a liberdade de expressão”, conclui.

Julio: “o professor sem dó nem piedade”

O aluno Fausto retrata o professor Julio como um “professor sem dó nem piedade, mas com muito amor”.

“Sou cubano, casado com uma portuguesa, e quando vim para Portugal candidatei-me ao INAC. Quando entrei no instituto troquei de vida: passei de profissional a professor”, explica Julio, o professor que corrige os alunos com movimentos rápidos e num tom exigente.

O sotaque espanhol do professor faz eco no ginásio de Vermoim: “Os alunos são pessoas que confiam o seu futuro em nós”, declara. Julio destaca a responsabilidade da docência e acredita que os alunos, até agora, têm apresentado uma rápida evolução e dedicação.

O balanço do primeiro ano de funcionamento do instituto é positivo e já se encontram abertas as inscrições para a prova de admissão para o próximo ano letivo 2017/2018 que irá decorrer nos dias 20 e 21 de maio de 2017.

Artigo editado por Filipa Silva