O ano de 2017 marca um ciclo importante na história do Erasmus. O programa completa 30 anos de oportunidades ao nível do ensino e da formação,e mais recentemente, da cultura, da juventude e do desporto.

Desde o seu lançamento, em 1987, o projeto foi bem aceite e ganhou força. Nos anos mais recentes, evoluiu e transformou-se em Erasmus+, uma versão mais alargada e que passou a incorporar outros programas de mobilidade como o Erasmus Mundus, Leonardo da Vinci, Comenius, Grundtvig, Juventude em ação e pela primeira vez, desporto.

Dados da Comissão Europeia de 2015 revelaram que o número de participantes naquele ano passou os 600 mil. Quanto aos portugueses, entre 1987 e 2014, foram cerca de 83 mil os que fizeram Erasmus.

Em conversa com o JPN, Pedro Couto Soares, diretor da Agência Nacional de Erasmus+ Juventude em Ação, considera que a grande barreira para o arranque do Erasmus foi o conhecimento: “O desafio foi, de alguma forma, as comunidades, os pais, os professores, o meio académico, reconhecerem as vantagens e a mais-valia do período de mobilidade para os jovens”.

Programa 30 anos Erasmus na UP

8-12 de maio – Erasmus na Queima das Fitas

18-21 de maio – International Erasmus Games 2017

Maio – Ciclo de Cinema Erasmus

23 de junho – Sardinhada Erasmus na noite de S. João

13 de julho – Sunset Boat Party no Rio Douro

Setembro – 30 anos, 30 receitas (Workshop de gastronomia europeia)

Outubro – Erasmus Solidário: Erasmus e as necessidades educativas especiais

Outubro – Erasmus Running

15 de novembro – Concerto Erasmus na Casa da Música (Orquestra Académica da FEUP)

7 de dezembro – Jantar de Encerramento.

A iniciativa Juventude em Ação está estruturada com base em três pilares, um dedicado à mobilidade – no qual se inserem intercâmbios ou, por exemplo, o Serviço Voluntário Europeu (cerca de 70 mil mobilidades, de acordo com Pedro Soares) -, outro a parcerias de entidades já existentes e que se dedicam a matérias relacionadas com a juventude ao nível local, regional, nacional ou europeu e uma terceira vertente dedicada ao apoio às reformas políticas.

Pedro Soares diz que espera “ver reforçado o financiamento do Erasmus+” no futuro acompanhando “a procura crescente” do programa. O diretor do Juventude em Ação sublinha  a relevância do programa no processo de ingresso do jovem no mercado de trabalho: “Eu acho que é fundamental. Os empregadores procuram os jovens com competências transversais. Competências transversais são aquelas que são adquiridas também fora das aulas e do contexto escolar.”

Experiências

E para assinalar a data, o JPN reuniu algumas histórias de pessoas que viveram a experiência Erasmus e que trouxeram uma bagagem de recordações.

Miriam Pinto

Miriam Pinto

A primeira delas é Miriam Pinto, portuguesa, estudante de Ciências da Comunicação na Universidade do Porto. Foi de Erasmus para a Grécia, na National and Kapodistrian University of Athens.

A estudante revela que na altura da candidatura não lhe passou pela cabeça que fosse seleccionada: “Na altura eu e a minha amiga, a Rita Cerqueira, estávamos na faculdade (ainda no primeiro semestre, do primeiro ano) quando vimos um cartaz sobre uma sessão de esclarecimento de Erasmus, decidimos ir à sessão e a partir daí resolvemos arriscar e inscrever-nos, isto com a noção que era quase impossível sermos seleccionadas”.

Miriam conta que a experiência a ensinou  a “dar valor à família e aos amigos” e sublinha que aprendeu  a “viver a vida”, “a não ter medo de entrar em aventuras”. A jovem termina a dizer : “neste momento se me dissessem para ir viver/trabalhar para um pais diferente, iria sem problema algum e com um à vontade enorme. E acho que não iria ter tanta certeza senão tivesse ido de Erasmus”.

Yuri Oliveira, 28 anos

Yuri Oliveira Foto: Yuri

Yuri Oliveira, é brasileiro, estudava na Universidade de Fortaleza, no estado do Ceará, Brasil, e tinha 24 anos quando decidiu participar no programa que o levou até Cadiz, em Espanha: “Eu sempre tive a  vontade de fazer parte do programa Erasmus e surgiu uma oportunidade em que eles iriam financiar a viagem através de um concurso de currículos, entrevistas e de provas. Como eu já tinha o desejo, inscrevi-me para participar no concurso. Eram quatro vagas, e eu consegui uma destas quatro”, conta ao JPN.

O jovem ressalta os benefícios da experiência ao nível da empregabilidade: “Se o estudante vai com um foco no estudo e vai para uma universidade que é forte numa área, você vai ter uma melhoria no conhecimento profissional. Se você vai com o intuito de uma experiência pessoal, aproveita para ampliar a sua visão do mundo, para relacionar-se com pessoas diferentes, isso também conta muito para a empregabilidade. E na visão das empresas, isso varia. Algumas empresas valorizam muito estas experiências porque já têm essa cultura, outras não. E tem outra perspetiva que eu nem chamo de empregabilidade, chamo de empreendedorismo: essa experiência de estar em outro país pode expandir a sua visão sobre o empreendedorismo quando você retorna. Você vê o que dá certo ou não lá, você observa a cultura, o comportamento das pessoas”.

Miguel Brito

Miguel Brito Foto: Miguel Brito

Uma brincadeira entre amigos foi de onde partiu a ideia de estudar fora. Miguel, português e estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na altura tinha 19 anos e foi de Erasmus para a Polónia.

Segundo o estudante, foram muitos os desafios e o maior deles aconteceu na chegada ao país: “Apanhamos um autocarro e eu tinha de falar com o motorista a pedir para avisar quando a paragem estivesse próxima. Entretanto, o motorista não sabia falar inglês. Depois de um tempo, saímos do autocarro, a paragem era no meio do nada. Conseguimos um táxi, o taxista também não sabia falar inglês, mas colocamos no GPS e encontramos o dormitório. Ao chegar lá,  novamente a rececionista não entendia basicamente nada do que estávamos a dizer. Acho que a única coisa que ela percebia era “Erasmus”, e deu-nos a chave”, ri o estudante de Geografia.

Miguel, como grande parte dos estudantes, sublinha a experiência como ” uma oportunidade de abrir as mentes”. O jovem diz que é importante interagir não só com os locais mas com pessoas de outros países, “outros Erasmus” :”É bom ter aqueles amigos que vêm nos visitar, e que nós vamos visitar, é muito bom”, conclui.

Sara Corrieri

Sara Corrieri Foto: Sara Corrieri

Da Itália para Portugal, Sara Corrieri, aos 20 anos, decidiu que precisava de uma mudança. A estudante de jornalismo diz  que a escolha foi uma necessidade, mas que aconteceu de uma forma impulsiva: “Fiz o Erasmus durante o primeiro semestre do segundo ano, eu era um pouco jovem em relação à média. Eu vi as chamadas para o Erasmus no site da minha universidade e pensei: ‘Sim, eu preciso ter esta experiência, preciso viver no exterior, amadurecer’. Hoje vejo que foi a melhor escolha da minha vida”, diz ao JPN.

A italiana confessa que o período de adaptação ao Porto foi muito difícil: “No início, na segunda, terceira semana, foi terrível. Não gostei da cidade, sentia-me no lugar errado, na hora errada. Na universidade [do Porto] senti-me totalmente estranha e a língua portuguesa era incompreensível. Depois de um tempo, a situação mudou e tudo, todos os dias, todas as pessoas eram especiais. Eu sempre digo: todas as pessoas deveriam ter uma experiência de Erasmus pelo menos uma vez na vida”.

Por fim, Sara compartilha com o JPN a maior aprendizagem da experiência: “Eu aprendi que eu posso ser eu mesma. Aprendi que viver no exterior, longe de casa, pode ser difícil, mas dá-nos muitas oportunidades e chances. Eu entendi que não sou apenas uma cidadã italiana, eu sou uma cidadã europeia, uma cidadã do mundo. As fronteiras existem apenas na mente”.