O estudo “Lifetime abuse and quality of life among older persons” — “Abuso ao longo da vida e qualidade de vida entre pessoas idosas” — é uma investigação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), em parceria com a Mid Sweden University, e teve como objeto de análise 4467 indivíduos, com idades compreendidas entre os 60 e os 84 anos. Portugal é o país com o maior registo de violência sobre os idosos, de entre os sete países estudados (Alemanha, Grécia, Itália, Lituânia, Portugal, Espanha e Suécia).

Joaquim Soares, um dos investigadores, revelou ao JPN que “é complicado medir a evolução da violência sobre idosos porque se trata de um assunto sensível, o que leva faz com que não se fale sobre isso”. “No entanto, a nossa impressão é de que tem havido um aumento devido às condições precárias em que os idosos vivem”, acrescentou o professor da Mid Sweden University.

Os resultados mostram que quase metade (45,5%) dos participantes no estudo já foram vítimas de violência pelo menos uma vez durante a vida adulta. Por outro lado, 40,4% dos portugueses que participaram no estudo já foram vítimas de violência financeira, o que constitui mais de metade da média (18,5%), o que revela que já foram obrigados a abdicar do seu património e/ou dinheiro.

O tipo de violência mais comum, entre os sete países, é a psicológica que se situa nos 34,5% — a única em que Portugal está abaixo da média, com 33,7%. Segue-se a violência financeira — como já foi referido — (18,5%), física (11,5%) e sexual (5%).

Ao JPN, Joaquim Soares explicou que as principais causas que levam à violência sobre os idosos são de cariz cultural. “A maneira como os idosos são tratados e encarados em cada país é um fator muito importante. Falando do caso português, a antiga estrutura familiar em que avós, pais e filhos viviam na mesma casa, já se alterou bastante”, frisou. Outras razões que estão na origem dos maus tratos são a situação económica, a falta de apoios sociais, a influência do álcool e a saúde mental.

Por outro lado, as vítimas não apresentam queixa. Segundo Joaquim Soares, isso acontece uma vez que não existem, nos países em estudo, centros de apoio com os quais os idosos possam estabelecer um contacto e abordar o assunto. Se por um lado, a denúncia devia ser apresentada pelos médicos, enfermeiros ou assistentes sociais que lidam com as vítimas de maus tratos, tal não acontece.

“Quando uma pessoa idosa vai ao médico, ao enfermeiro ou assistente social e apresenta certas caraterísticas clínicas, essas pessoas deviam saber que há uma certa violência vinda de casa. No entanto, os idosos não denunciam e os profissionais que lidam com eles também não perguntam por ser uma questão muito sensível”, explicou.

O estudo conclui que a exposição a diversos tipos de violência durante a idade adulta afeta de forma negativa a qualidade de vida das pessoas idosas. Cada tipo de violência pode afetar diferentes parâmetros da qualidade de vida do idoso.

Por exemplo, uma maior exposição à violência psicológica ao longo da vida conduz a um aumento de perda de autonomia, à incapacidade de participar em atividades sociais, e à dificuldade de criar intimidade com outras pessoas. Também a exposição a agressões físicas leva o idoso a ter uma participação menos ativa a nível social.

Segundo o investigador, a escolha dos países prendeu-se com um facto de se querer uma análise a países com diferentes culturas e de diversos pontos da Europa, conclui.

Artigo editado por Rita Neves Costa