O Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa, IndieLisboa, conheceu este domingo, os seus vencedores. Com argumento de Miguel Clara Vasconcelos, “Encontro Silencioso” retrata o universo de praxe académica e arrecadou o “Prémio Allianz – Ingreme para Melhor Longa Metragem Portuguesa”.

Ao JPN, o realizador explicou que “o ponto de partida foi o acidente na praia do Meco, em dezembro de 2013, que vitimou vários estudantes universitários e que foi muito explorado nos media.” Morreram seis estudantes no mar.

“O propósito era realizar uma obra que abordasse temas contemporâneos que me interessam tratar, através de uma linguagem artística chamada cinema”, lembrou. “Ao escrever o argumento do filme, afastei-me da matéria noticiada e fui ao encontro das minhas próprias questões”, acrescentou o realizador.

Numa altura em que praxe académica continua na ordem do dia, as opiniões divergem: uns consideram ser humilhação, outros integração. No entanto, com esta longa-metragem, Miguel Clara Vasconcelos não quis construir um filme assente em depoimentos. “É uma ficção com base no argumento que eu escrevi. É fruto da minha imaginação, da criatividade dos atores e da entrega de toda a equipa”, frisou.

Na trama, cinco estudantes organizam um ritual místico e, num contexto de grande esforço físico e mental, Rafaela alucina, revisitando uma lenda medieval portuguesa.

“Encontro Silencioso” é um “filme que procura, na mitologia tradicional, uma leitura para a contemporaneidade, tentando compreender a nossa herança histórica e o nosso presente político”, lê-se na sinopse. “Na ânsia de obter um estatuto superior e aceder ao verdadeiro conhecimento, os estudantes submetem-se a estranhos rituais inventados pelo seu líder, o obscuro Dux”, explicou Miguel Vasconcelos.

Quando questionado sobre a sua posição quanto à praxe académica, o realizador não mostrou dúvidas. “Todos os mecanismos de humilhação são degradantes. Se a praxe fosse outra coisa, eu seria a favor. Defendo a riqueza da vida académica na diversidade de atividades que os estudantes desenvolvem em paralelo com o ensino universitário, muitas vezes mais importante para a sua formação do que o próprio currículo escolar”, explicou.

Miguel Vasconcelos contou ao JPN que, tanto ele como toda a equipa, gostariam que o filme circulasse nas salas de cinema do país. Por enquanto, aguardam contacto para saberem qual vai ser a distribuidora encarregue do processo, mas “com certeza que isso irá acontecer”, notou o realizador. O filme vai ser exibido esta segunda-feira, 15, às 22h15, no Cinema Ideal.

O principal prémio do IndieLisboa 2017 foi entregue ao boliviano Kiro Russo, com “Viejo Calavera”, que levou para casa o “Grande Prémio de Longa Metragem Cidade de Lisboa.” A lista completa dos vencedores pode ser consultada no site do festival. O IndieLisboa decorreu entre os dias 3 e 14 deste mês e ocupou os cinemas da Culturgest, Capitólio, Cinemateca, Cinema São Jorge e Cinema Ideal, com quase 300 filmes exibidos.