Vai ser aberto um concurso público para a recuperação da Escola Secundária Alexandre Herculano. Por agora, os tetos continuam com buracos e as janelas sem vidros.

No teto, manchas de humidade que sobrepõem manchas de humidade mais antigas. Sente-se uma corrente de ar, apesar de nenhuma janela estar aberta. Não é preciso, porque mesmo fechadas não têm vidro. Ao fundo do corredor, uma fita amarela a barrar a passagem para um corredor onde pedaços de teto já caíram. São estas as condições em que a Escola Secundária Alexandre Herculano se encontra.

Debaixo de uma das muitas manchas de humidade está a secretária de Amadeu Fernandes, funcionário da Escola Secundária Alexandre Herculano, transferido depois da conversão do edifício da vizinha Escola Secundária da Rainha Santa Isabel na Direção-Geral de Estabelecimentos de Ensino.

Não é novo ali e por isso já não se choca com mais um buraco no teto. “Ainda hoje caiu mais um pedaço no corredor debaixo”, avisa “e parece que a sala 11 também fechou, semana passada”, acrescenta, apontando para uma sala fechada com a palavra “manutenção” na porta.

Quem entra no “Alexandre” e avança além do corredor principal, percebe que não está numa escola em boas condições. Os problemas são muitos: janelas sem vidro, buracos no teto, humidade em todo o edifício e madeiras podres. Para Amadeu, o “cancro” da escola são as caleiras. “Estiveram muito tempo sem manutenção e a água tem que ir para algum sítio. Se as caleiras não a escoam, ela infiltra-se no edifício”, explica.

O funcionário aponta para uma das caleiras, que se podem ver a partir do primeiro andar e o que diz confirma-se. As caleiras azuis da Escola Secundária Alexandre Herculano parecem verdadeiros canteiros – têm pedaços de terra, folhas e alguma vegetação. É impossível que a água ali passe.

Um concurso público para as obras no Alexandre

Apesar da escola Alexandre Herculano ser um edifício histórico, inaugurado em 1921, e precisar de uma remodelação profunda, as obras parecem não estar para breve. Embora a escola seja um equipamento do Ministério da Educação, a Câmara Municipal do Porto (CMP) comprometeu-se a lançar um concurso público internacional e comparticipar em 15%, os sete milhões de euros que as obras vão custar.

A decisão de ser a CMP a lançar a obra, foi anunciada na Assembleia Municipal de 8 de Maio e terá sido tomada numa reunião entre Rui Moreira e a tutela. O autarca portuense explicou que aceitou lançar a obra porque “o senhor ministro explicou qual era a conveniência em termos de IVA de ser a Câmara a lançar a obra”.

O Liceu Alexandre Herculano tem mais de 100 anos de história.

O “Alexandre” foi inaugurado em 1921 e é um Monumento de Interesse Público Foto: Patrícia Garcia

Segundo o portal de notícias da câmara, o Estado e os fundos comunitários assumirão “a maior parte do investimento e a autarquia a ajudar com a comparticipação nacional”. O projeto para recuperar o edifício, classificado como Monumento de Interesse Público, custará menos de metade do valor inicial (15, 8 milhões de euros). Desta forma, a recuperação do edifício histórico que é o Liceu Alexandre Herculano assumirá um caráter minimalista.

Para já, a escola recebeu uma verba do Ministério da Educação para fazer algumas reparações urgentes. O diretor Manuel Lima explica que o mais urgente é reparar as janelas que não têm vidros ou as têm vidros partidos e fazer a correta manutenção das caleiras.

A 26 de Janeiro, a escola fechou porque os alunos recusaram ter aulas nas condições de degradação em que a escola se encontrava. Consequentemente, os alunos do 7º e 8º ano, cerca de 300, foram transferidos para a Escola Básica Ramalho Ortigão, os outros continuaram na Alexandre Herculano que teria sido alvo de alguns reparos.

A presidente da associação de estudantes, Mariana Pereira, explicou ao JPN que os reparos consistiram apenas na colocação de faixas “como as da polícia” em alguns corredores e sublinha que os vidros não foram arranjados.“Apenas colocaram um plástico, que acaba por não servir de nada, porque o frio entra na mesma”.

As obras adivinham-se assim importantes, mas o concurso ainda está para ser lançado e os pormenores dos projetos acertados. A complexa intervenção que a escola precisa não vai estar terminada até setembro de 2017, início do próximo do ano letivo. Manuel Lima aponta o “final do primeiro semestre de 2018” como data aproximada da conclusão de obras.

O diretor acredita na solução encontrada para a Alexandre Herculano e afirma que a opção de trabalho concertado entre a CMP e o Ministério da Educação fizeram despertar um clima de otimismo.

Mas nem todos parecem ter sido contagiados pelo mesmo sentimento. Amadeu Fernandes não tem fé na recuperação da escola. “Isto tem cada vez menos alunos e se fosse para fazer obras já tinham feito há mais tempo. A escola não tinha chegado a este ponto. Tenho pena, mas isto é para fechar”, refere.

Pela boca dos alunos, tudo pesa mais

Entre os alunos ouve-se que a escola “não pode fechar”. Quem o diz é Alexandre Alves, aluno do 12° que embora vá deixar a escola em junho preocupa-se com os tetos que todos os dias caem e com as janelas partidas. “A escola é muito importante e por isso não vai fechar”, avança. Mas rapidamente retifica a ideia: “Fechar até pode, só não acredito que seja demolida. Mais depressa fazem um hotel”.

“Não acredito que seja demolida, mais depressa fazem um hotel”

É com as palavras dos alunos que melhor se compreende o real estado de degradação da escola. Quer Mariana Pereira, presidente da associação de estudantes, quer Alexandre Alves, aluno do 12º ano listam uma série de problemas. “Faltam até as coisas mais simples”, diz Mariana, “muitas das salas não têm projetor e não há estores nas salas, portanto mesmo nas que têm é difícil utilizá-los com a luz do sol a bater”.

Também as aulas de Educação Física trazem grandes adversidades para os estudantes do “Alexandre”. “Chovia dentro do pavilhão e por isso colocaram uma lona”, explica Mariana, “mas entretanto a lona também ficou com buracos e então a água já escorre”. Alexandre completa: “Quando estamos a jogar voleibol, a bola fica muitas vezes presa no plástico. É impossível manter um jogo”.

Alguns alunos tiveram que trocar a sala onde habitualmente tinham aulas porque deixou de ser possível ou saudável estar naquele no espaço. Alexandre Alves explica que “nunca ninguém se aleijou, mas foi apenas uma questão de sorte”. Conta também que certas áreas da escola estavam vedadas — “não era suposto passarmos lá porque era perigoso” — mas, entretanto alunos e professores começaram a passar por baixo das fitas e acabaram por retirá-las.

“Nunca ninguém se aleijou, mas foi uma questão de sorte”

Para Mariana, a principal preocupação é a proximidade entre os sistemas elétricos e a humidade que se faz sentir na escola. “As salas têm muita humidade e às vezes chove através do teto. Tenho medo quando cai água perto das tomadas”.

Alexandre não esconde o desagrado com as condições em que a escola se encontra que adjetiva de miseráveis. A colega Mariana concorda e alerta que apesar do estado de degradação da escola não afetar diretamente o funcionamento das aulas — “embora alguns professores evitem trazer powerpoints para as aulas, porque sabem que é difícil mostrá-los” – -pode fazer com que os alunos percam o interesse na escola. “Muitos já não participam em nada do que a associação de estudantes organiza porque a escola não oferece muita comodidade”, conclui Mariana Pereira.

Artigo editado por Rita Neves Costa