Três meses depois, o Boavista voltou a vencer fora de casa. Os axadrezados foram ao Bonfim derrotar o Vitória FC pela margem mínima, no encerramento da jornada 33 do campeonato. Uma vitória construída ao ritmo de Iuri Medeiros. O extremo açoriano decidiu a partida com um chapéu ainda na primeira parte, estragando a despedida de Meyong dos relvados.

Os sadinos somaram o sexto jogo sem vencer e a quinta derrota consecutiva. Já o Boavista suplantou os 40 pontos e garantiu que não acaba a época abaixo do nono posto — uma estatística que configura a melhor classificação da década.

Um chapéu para inverter a tendência

Com a permanência cumprida há vários jogos, as duas equipas apelaram à rotatividade. Os sadinos não foram de moda e introduziram sete mexidas de uma assentada. A pantera foi mais comedida: Renato Santos e Carraça regressaram face ao confronto com o Nacional, na estreia do chinês Aidi.

No cartaz estava, porém, um acontecimento tão ou mais importante. Albert Meyong, dez temporadas e incontáveis golos no Sado, fazia a despedida dos relvados. Antes do apito inicial, recebeu as honras de carreira. Estava acompanhado pelas filhas e pelos aplausos da plateia, sob olhar dos companheiros que erguiam uma lona com a mensagem “Obrigado Meyong”.

Foi o momento emotivo da noite. À flor da relva, o jogo trouxe mais luta que técnica, mais duelos que desequilíbrios. A formação de Setúbal teve bola e ocasiões. Ao quarto de hora, Nuno Santos protagonizou um falhanço à boca da baliza. Responderam os visitantes com pressão q.b. e tremenda eficácia.

Iuri Medeiros criou o rasgo (25’) que mais ninguém soube desenhar. Talocha enviou um passe teleguiado para as costas do adversário. O jogador emprestado pelo Sporting apareceu isolado, recebeu a bola e desferiu um chapéu na cara de Trigueira. Sétimo golo do açoriano na Liga, terceiro consecutivo. Currículo ainda inferior ao potenciado na época passada em Moreira de Cónegos.

O Vitória continuou a pegar no jogo, mas sem efeitos práticos. Aliás, esteve perto de sofrer novo golo. Aos 38’, Iuri teve nos pés oportunidade soberana. Na cara de Trigueira preferiu servir Renato Santos, mas Vasco Fernandes interpôs-se no caminho do perigo.

As dores do costume

Na segunda parte, uma amostra bem real dos problemas que têm afetado os sadinos. Perante tanta oportunidade, nenhum grau de aproveitamento. Nem uma pontinha de sorte, sempre tão necessária como desejável. Relação complicada com o golo, expressa em três atos na última meia hora: um desvio falhado de Zé Manuel ao segundo poste (63’) e duas finalizações pouco calibradas de Edinho, pelo ar (79’) ou de livre direto (89’).

As entradas de João Carvalho e Amaral deram alguma clarividência ao ataque dos visitados. Faltou quebrar a resistência de uma pantera com capacidade para sofrer à adversidade – Bulos entrou aos 72 minutos e ainda foi a tempo de ser expulso.

Depois de um começo prometedor, o Vitória termina a temporada com rostos fechados, semblantes resignados e sensações agridoces. A crise de resultados permanece sem fim à vista e tem derradeiro capítulo marcado para a Choupana. A descida na tabela é uma consequência, apenas seis pontos sobre a linha de água. Em sentido inverso, o Boavista não perde há três partidas. Se vencer o Benfica e o Feirense não pontuar, pode melhorar uma classificação já por si só meritória.

“A pantera está a ganhar força”

Miguel Leal aponta ao coletivo na hora de comemorar a vitória. “Fomos melhores na primeira parte. O futebol não é só atacar. Defendemos com qualidade e isso permitiu-nos segurar a vitória até ao fim”, destacou o técnico axadrezado em conferência de imprensa, defendendo que o Boavista superou-se em 2016/17.

“Nem eu nem ninguém esperava que isto pudesse acontecer. Provavelmente temos o orçamento mais baixo da Liga. Alguns jogadores nem minutos na Liga tinham. É uma classificação histórica, a melhor da década, e toda a gente que trabalha no Boavista e os adeptos têm de ficar satisfeitos”, referiu.

Questionado sobre as metas a estabelecer na próxima temporada, Miguel Leal valorizou a prudência. “O Boavista está a dar os passos com cabeça, devagarinho. Num curto espaço de tempo, não digo já na próxima época, vamos voltar a ser o Boavistão e lutar pelas competições europeias. Era um desejo de todos os boavisteiros, mas ainda não estão reunidas as condições, no meu entender. Estamos a trabalhar para isso. A pantera está a ganhar força e energia”, rematou.

“Era justo que tivéssemos empatado o jogo”

Do lado sadino, José Couceiro assumiu a desilusão por não ter chegado aos 40 pontos. Em conferência de imprensa, o treinador do Vitória disse que a diferença esteve na eficácia. “Estivemos mal posicionados no lance que dá o golo do Boavista. A partir daí permitimos que o Boavista jogasse de forma mais confortável até ao intervalo. Depois arriscámos mais. Era justo que tivéssemos empatado o jogo, mas temos de assumir essa responsabilidade: para se ganhar é preciso fazer golos. Nos últimos jogos temos tido esse problema”, observa.

O técnico lamenta ainda a reta final protagonizada pela equipa do Bonfim. “Não considero esta quebra normal. É um ciclo negativo e temos de perceber e analisar porque é que as coisas correm mal. Não adianta passar a responsabilidade para terceiro, independentemente de as haver ou não”, afirmou, não deixando de comentar a importância que Meyong teve no balneário.

“Queríamos que ele acabasse no Bonfim com um resultado diferente, mas ele sabe que temos orgulho do que ele conseguiu e contamos com ele no futuro. O Meyong é claramente uma das nossas referências e faz todo o sentido que continue a trabalhar connosco», adiantou.

Artigo editado por Rita Neves Costa