“O Porto no futuro” foi o mote da conferência de que Rui Moreira fez parte, esta sexta-feira. O presidente da Câmara do Porto deslocou-se à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) para debater temas como a mobilidade, a habitação e o turismo na cidade. A sessão contou ainda com a presença da diretora da FLUP, Fernanda Ribeiro, e do especialista e docente de Geografia, José Rio Fernandes.

No quadro da unidade curricular, que pretende analisar a importância da ação política nos territórios, é usual serem convidados autarcas para debates e conferências, explicou o docente Rio Fernandes.

Rui Moreira começou a sua intervenção por salientar que o futuro é acima de tudo um desafio. “O mais importante é imaginar o que podemos fazer no futuro do que imaginar o que possa suceder, que decorre de fatores exógenos que não dominamos”, frisou o autarca.

Mobilidade e acessibilidades

Consequência de o Porto ser o centro de uma área metropolitana, o trânsito e a sinistralidade agravam-se. A população do Porto é flutuante, reside nas zonas periféricas e passa o dia no centro da cidade. “Vivemos num regime de marés: todas as manhãs vem a maré alta e à noite temos a maré baixa”, explicou Rui Moreira. O autarca acrescentou ainda que “a maré da manhã cria problemas de trânsito, de estacionamento e de infraestruturas necessárias para acolher essas pessoas”.

“A cidade tem que ser capaz de responder a essa oportunidade e, também, a esse desafio”, completou.

O primeiro problema ficou exposto. Se por um lado esta população representa mais encargos para a cidade, por outro, o Porto “definharia” sem ela. “Teria menos atividade, comércio e consumo. Temos que considerar um justo equilíbrio”, lembrou Rui Moreira.

“Será mais importante votar onde vivemos ou onde dormimos?”

Para um Porto no futuro, a hipótese explorada pelo autarca centra-se no poder de decisão. Rui Moreira considerou que em matérias fundamentais, como é o caso da acessibilidade à cidade, as pessoas que se deslocam para lá todos os dias, deviam ter poder de voto. “Será mais importante votar onde vivemos ou onde dormimos?”, questionou.

Habitação

O Porto é a cidade do país com mais habitantes a viver em habitação social (mais de 10%). A procura por este tipo de habitação tem sido crescente, o que acaba por esmagar a oferta.

A procura deve-se, em larga medida, às centenas de euros de diferença entre o custo de habitação social e da convencional. Rui Moreira explicou que o valor médio de uma habitação social é de 60 euros por mês, enquanto que para quem vá ao mercado o preço dispara para, no mínimo, 350 euros.

“O princípio da habitação social é ser temporária e isso não se tem verificado”, explicou Rui Moreira. De um lado existem pessoas com idade mais elevada que vivem em habitações sociais. Por outro lado, existem jovens à procura de casa a um preço acessível e novas oportunidades.

O segundo problema ficou em cima da mesa. A solução apresentada, pelo autarca, para o futuro recaiu na criação de condomínios municipais, com serviços partilhados, para as pessoas idosas e a renovação das conhecidas “ilhas” para que a população jovem as possa ocupar.

Turismo

Para encerrar a sua intervenção e abrir a conferência aos presentes, Rui Moreira iniciou o último tópico. “A cidade do Porto – deve ser por alguma razão que se chama Porto – sempre teve afluxos temporários”, lembrou.

Uma das caraterísticas do turismo nesta cidade é o facto de o turismo ser muito concentrado numa só área, como é o caso da Ribeira. Como consequência, fica a faltar a potencialização de outras zonas do Porto.

“O comércio tradicional sobrevive graças aos turistas.”

Rui Moreira lembrou que, se por um lado o turismo provoca a saturação dos espaços para a população residente, são os turistas quem tem mantido vivo o comércio tradicional. “O comércio tradicional sobrevive graças aos turistas”, disse.

Colocado o problema, a solução apresentada na conferência centrou-se em garantir experiências que cativem os turistas, a par com a autenticidade e tradição do Porto.

A sessão terminou com a abertura da discussão ao público. Alunos, professores e a comunidade em geral focaram-se, para a conversa, em temas como os espaços verdes da cidade, o impacto do turismo na economia da cidade, os problemas para pessoas com mobilidade reduzida, entre outros, acompanhados de possíveis soluções.

No final da conferência, Rui Moreira não prestou declarações aos jornalistas.