Nas passadas terça e quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa esteve de visita ao Luxemburgo. A comunidade portuguesa naquele país é de mais de 100 mil habitantes, que representam cerca de 16% da população. Durante a visita, o Chefe de Estado português apelou à população portuguesa no país para que inscreva os filhos nas aulas de português.
“Apelo aos portugueses para que inscrevam os seus filhos no ensino que foi recriado com um acordo entre os dois governos”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
No âmbito do reforço do ensino da língua portuguesa, foi assinado, a 5 de abril, um acordo entre os primeiros ministros português e luxemburguês, António Costa e Xavier Bettel. O acordo prevê o alargamento do ensino do português ao pré-escolar. Por outro lado, dada a progressiva diminuição da oferta dos cursos integrados de português foram criados cursos complementares.
O ensino complementar da língua portuguesa, fora do horário escolar, já foi criticado pelos representantes da comunidade portuguesa no Luxemburgo, por considerarem que os pais não têm condições de vida que lhes permitam levar os filhos a estas aulas.
O presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo, José Coimbra de Matos, referiu que esta oferta de ensino complementar só será positiva “se as autarquias locais facilitarem a alimentação e o transporte das crianças”, devido à falta de tempo dos pais para acompanharem os filhos porque “trabalham todo o dia”, considerou.
Atualmente, frequentam os cursos de português no Luxemburgo cerca de 2.750 alunos, segundo um artigo do “Público”, da autoria da presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, e do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
O JPN falou com alguns emigrantes portugueses, no Luxemburgo e em França, com o intuito de perceber o estado do ensino da língua portuguesa no estrangeiro.
Anabela Paiva Lameirinhas está há 15 anos a viver no Luxemburgo, tem dois filhos e fala português em casa. Ao JPN, contou que a língua materna foi a escolhida para falar no lar com as crianças, desde sempre.
“Considero que falar a nossa língua-mãe é uma mais-valia porque quando levo os meus filhos a Portugal eles sabem falar e conseguem relacionar-se bem com as pessoas”, explicou.
Os filhos de Anabela nunca frequentaram aulas de português ou escolas portuguesas no Luxemburgo. No entanto, a emigrante lembrou que há muita gente a inscrever os filhos em escolas portuguesas naquele país.
Por outro lado, Anabela lembrou o caso de um conhecido que, por um dos membros da família ser luso-descendente e já ter nascido no país, optou por não falar português em casa. “Escolheram não ensinar português aos filhos e, por exemplo, quando vão a casa não entendem os avós e precisam de tradução”, frisou.
A nível de socialização com os colegas, os filhos de Anabela não tiveram qualquer tipo de problemas. “Tiveram sim dificuldades a nível escolar na adaptação à língua porque, como frequentam o ensino luxemburguês, não falavam português”, explicou.
Aprender com institutos
Um caso diferente é o de Juliana Neiva que está emigrada, também no Luxemburgo, há 10 anos. Juliana fez ainda o ensino completo em Portugal, a filha já nasceu naquele país e frequenta o 2º ano na escola luxemburguesa.
A emigrante inscreveu este ano, pela primeira vez, a filha em aulas de português do Instituto Camões. “Sempre falámos português em casa. Este ano, por opção própria, e porque o saber nunca é demais, decidimos inscrever a minha filha numa atividade extracurricular de aulas de português”, explicou.
Os custos das aulas de português da filha são pagos pelo agregado familiar, uma vez que não são obrigatórias e em nada têm a ver com o ensino luxemburguês. “É uma atividade extracurricular como qualquer outra. Há quem vá para o ballet ou para a música, nós optámos pelo ensino da língua portuguesa”, frisou.
Juliana contou ao JPN que é normal para a filha falar tanto uma língua como a outra, mas que se nota mais facilidade ao falar em luxemburguês.
Nascer lá fora
Elisa Ferreira tem 20 anos, nasceu em França e desde pequena que, em casa, fala português. A mãe vive naquele país desde bebé e o pai emigrou aos 20 anos. “Os meus pais sempre falaram português em casa comigo, até porque é mais fácil para o meu pai falar a língua materna do que o francês”, lembrou.
A jovem nunca frequentou aulas de português, ao contrário do primo, e vê com bons olhos que, mesmo emigrados, os membros da família continuem a falar a língua portuguesa. “É muito bom que se fale português em casa para não perdermos as nossas origens”, frisou Elisa.
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, disse, esta quarta-feira, em França, que vai trabalhar para reforçar o ensino do português no país e do francês em Portugal.
“O português é uma língua muito importante em França porque Portugal é importante para a França, há muitos portugueses em França, muitos franceses de origem portuguesa”, lembrou Jean-Michel Blanquer, ministro da Educação francês.
No ano passado, Tiago Brandão Rodrigues assinou com a anterior ministra da Educação francesa, Najat Vallaud-Belkacem, um protocolo que colocou o ensino de português no dispositivo EILE (Ensino Internacional de Língua Estrangeiro). Por consequência, ficou também situado no mesmo patamar de visibilidade de línguas já oferecidas no sistema de ensino francês, como o inglês, o espanhol, o alemão e o italiano.
O ensino
De acordo com a Direção-Geral da Educação (DGE), existem, oficialmente, escolas portuguesas em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé, Cabo Verde, Macau e Timor-Leste. Naquelas escolas o ensino é ministrado com currículo e programas portugueses.
Por outro lado, o Instituto Camões, está presente nos cinco continentes, através de Coordenações de Ensino Português no Estrangeiro, Escolas e Centros Associados, Centros de Língua, Cátedras, Leitorados, Centros Culturais Portugueses e Unidades de Cooperação.
Artigo editado por Filipa Silva