Obasi Shaw, de 20 anos, revelou mais detalhes acerca da tese que apresentou na Universidade de Harvard e o distinguiu com um título de honra e um “A-“, nota equivalente a um 18 no sistema de ensino português. O projeto tem-lhe valido projeção um pouco por todo o mundo.
“Liminal Minds” é o álbum rap produzido e apresentado como dissertação pelo norte-americano, estudante do curso de Língua e Literatura Inglesa da Universidade de Harvard. Para além de lhe ter sido atribuída a segunda melhor nota do departamento, este trabalho conferiu ao estudante o título de honra summa cum laude minus que significa em latim, “com a maior das honras”.
O projeto discográfico conta com dez músicas que totalizam 36 minutos de um trabalho que pretende representar os “problemas centrais em questões como o racismo e o legado da escravatura”, de acordo com uma publicação do site oficial da Universidade de Harvard. A mesma fonte salienta que foi através de “mensagens positivas” e “letras simples” que Obasi deu às músicas do seu reportório um cunho de “fé” e “salvação”.
Mas o autor da dissertação também falou com o JPN sobre o trabalho. Para ele, cada música é uma “exploração do limiar negro que se encontra entre a escravatura e a liberdade”, salientando ainda que os afroamericanos são “livres”, mas os efeitos da escravatura “ainda existem”.
Questionado sobre a repercussão do formato que escolheu, Obasi Shaw assume ter sido “surpreendido em todos os passos que deu ao longo do percurso pelo incrível apoio que as pessoas demonstraram, desde o departamento de Inglês, aos amigos e público em geral”, acrescentando que “não tinha noção que as pessoas poderiam gostar tanto da sua música”.
O trabalho apresentado é inspirado numa peça do século XVI de Geoffrey Chaucer – “Os Contos de Cantuária” – na qual é abordada a identidade negra nos Estados Unidos, por isso, as canções pretendem retratar as problemáticas sociais da comunidade afroamericana que reside nos Estados Unidos da América.
Os mesmos temas têm vindo a ser abordados recentemente por vários artistas musicais, que através do seu trabalho denunciam um passado muito marcado pela escravatura e sobretudo pela (ainda) atual segregação racial. A cantora Beyoncé é uma delas: a canção e videoclip “Formation” utilizam mensagens e imagens de protesto contra a violência policial sob a comunidade negra dos Estados Unidos da América.
O álbum é influenciado pela literatura clássica inglesa e por reconhecidos artistas rap como Kendrick Lamar e Chance the Rapper, no entanto foi a mãe de Obasi, antiga estudante de Harvard, que maior influência exerceu quando sugeriu ao filho que escrevesse uma tese sobre rap.
Obasi rejeitou os padrões convencionais e decidiu inovar no modo de elaboração da tese: em vez de escrever sobre rap, fez da literatura inglesa um álbum de rap. Isto foi possível porque, segundo o estudante, o departamento de Inglês em Harvard “permite aos estudante escrever teses criativas, o que geralmente leva à criação de projetos como peças de teatro, livros de poesias, coletâneas de pequenos contos, novella [segundo o Cambridge Dictionary trata-se de um romance curto], entre outros”.
No entanto, revela que “embora tivesse gostado de ter escrito em alguma destas formas”, o rap foi a “forma de arte mais interessante”.
Agora que terminou os estudos, vai mudar-se para Seattle, em Washington, para um ano de estágio na Google, numa área na qual também tem formação académica: a engenharia de software.
Sobre planos futuros, Obasi Shaw assegura que quer continuar a escrever rap e outras formas de literatura. Porém, ainda não tem a certeza se isso será um hobby, ou se um dia mais tarde, vai haver a oportunidade de se tornar na sua carreira principal.
Artigo editado por Rita Neves Costa