Ao início é medo e choque e no entanto o drama vai-se esbatendo com o tempo. A gravidez adolescente é cada vez mais excecional, mas quando acontece parece que vai acabar o mundo. Histórias de mães demasiado novas.

Mostra-se tranquila com as câmaras, pois o seu trabalho é lidar com elas todos os dias. Patrícia faz parte de uma equipa de beleza que lida com gente famosa diariamente. A sua vida mudou quando engravidou aos 17 anos e foi mãe aos 18. Tem hoje 20 anos.

Ao descobrir que estava grávida, teve um grande choque. “Tinha 17 anos, uma miúda autêntica, mas fui construindo uma ideia de que talvez não fosse nada, ou seja, eu podia talvez abortar”.

Enquanto considerava as suas opções, Patrícia soube que já estava grávida de cinco meses. Era tarde de mais para pensar em processos abortivos. O seu corpo começou a alterar assim como os desejos, principalmente de comida.

“Descobri [que estava grávida] porque comecei a comer muito, muito mesmo, e sou pessoa de comer pouco”, conta. Antes disso, tudo corria dentro da normalidade, continuava a ter menstruação e a fazer a sua vida habitual.

Nestes casos, no que se pensa logo é na reação da família e do pai do bebé. Normalmente, a novidade é encarada de forma negativa. Neste caso, não foi assim. Com historial de maternidade jovem, a família da adolescente não considerou muito chocante a gravidez, apesar de não ter sido fácil de início.

“Mudámos muito. Éramos putos autênticos.”

O pai da criança nunca pensou no aborto como uma opção, e foi a pessoa que, segundo Patrícia, se mostrou mais tranquilo. Assim que soube da gravidez da namorada, saiu da escola e começou a trabalhar.

Descobriu a gravidez ainda não tinham completado um ano de namoro, agora já estão juntos há quatro. “Ninguém nos queria ver juntos, foi uma relação complicada, mas foi-se construindo aos poucos. Mudámos muito, éramos putos autênticos.”

Antes de engravidar, não era uma jovem rebelde. Não costumava sair à noite e só ia de vez de quando a festas de aniversário.

Na escola, Patrícia não ligou aos que falavam dela. Pensa até que o falatório foi algo “natural”, mas recorda que “era preciso ter um físico e psicológico danado”, relativamente aos comentários que recebia.

O cansaço venceu

Nunca pensou em desistir da escola já grávida. Quis sempre prosseguir os estudos, apesar de muito cansada psicologicamente. “Não vou prejudicar os meus estudos por causa do meu filho”, pensava enquanto a barriga crescia.

O parto aconteceu nas férias da Páscoa, no dia 13 de março de 2015. Na semana seguinte já estava de volta às aulas, e não faltou ao primeiro dia.

Mas o cansaço venceu. Desistiu da escola já o Afonso tinha nascido. Teve de o fazer porque os seus horários ocupavam-lhe os dias inteiros, e com um bebé em casa, as noites eram em branco.

Queria prosseguir os estudos, tornar-se psicóloga forense, mas agora já não pensa em seguir essa área, tanto por ser de difícil acesso como por não ver aí uma boa forma de sustento para a sua família.

Para ela, ser mãe é algo que não se consegue explicar, é um amor que vai evoluindo. A pior parte eram as noites, pois via-se sozinha sem a ajuda de ninguém à exceção da mãe que ajudava quando podia, e não descansava. Havia noites em que ela não dormia quase nada ou zero, para depois despertar às seis da manhã.

Mesmo assim, boa aluna, as notas nunca baixaram, devido ao gosto pelo curso. Se pudesse voltar atrás, Patrícia não hesita em dizer que faria tudo igual.

Não tem medo do futuro, é uma pessoa ligada ao presente. Sente-se mais madura desde o nascimento do filho. Palavras para exprimir o que sentiu quando viu o filho pela primeira vez, quase não as tem. “Ver aquilo que é teu ter nascido, não tem explicação. É uma coisa maravilhosa”. Refletindo sobre o futuro, “O mais importante é que ele tenha saúde e seja muito feliz”

Visto à distância

Graça Palmito tem 48 anos e, há 33, engravidou de um homem mais velho. Ela tinha 15, ele 21. A bebé nasceu no auge da sua adolescência e ela é a primeira a dizer que foi difícil cuidar da criança. Na altura andava na escola, era boa aluna, tinha ambições de prosseguir os estudos. Mas era uma grávida adolescente, coisa rara e nem sempre vista com bons olhos. Também na família as reações foram variadas.

A gravidez adolescente era mais frequente antigamente. Em 1980, o número de nascimentos na adolescência em Portugal era de 17.973. A partir daí, o número baixou progressivamente, e em 2015 nasceram apenas 2.295 crianças nestas circunstâncias.

A primeira a saber da novidade de Graça foi a irmã mais velha, Carolina. Foi a pessoa que mais a apoiou durante a gravidez. Ajudou Graça a preparar tudo para contar aos pais e, eventualmente, conhecerem o pai da criança. Quem teve o choque maior foi a mãe.

“Começou a chorar, só chorava, só chorava… foi complicado”, lembra.

Quanto ao pai de Graça, a reação foi de preocupação sobre o futuro. “Ele só dizia que eu já não ia tirar o curso que queria, e que já não ia ser doutora, que já não ia fazer nada da vida, que já não ia ser ninguém”.

O pai do bebé, seis anos mais velho que Graça, era de uma família com “valores” que não eram os mesmos que no seio familiar dela. Quando Graça engravidou, ele já trabalhava e encarou a notícia de ânimo leve.

Chegaram à conclusão que o melhor seria casar. Ser mãe solteira era visto como vergonhoso para a família. Quando aceitou casar, a família tranquilizou, e assim, passados alguns dias, a adolescente passou a poder contar com o apoio da família. O pai dela teve de assinar uma autorização para a sua filha poder casar, visto que era menor.

A opção de abortar passou-lhe pela cabeça, mas na altura os abortos ainda não eram legais e constituíam riscos muito elevados para a saúde. Então, essa ideia foi excluída.

Graça considera que o pai da criança foi o seu primeiro grande amor. Tinha esperanças que tudo corresse bem com ele. Apesar das diferenças, gostava muito dele. Deixou-se levar pela aparência, como se se tratasse de um príncipe encantado. Pelo menos é o que sente hoje. “Ele era um rapaz alto de olhos azuis, cabelo louro, lindo, maravilhoso, tudo o que uma adolescente queria”, ri-se.

Achava que em termos amorosos não arranjaria melhor companheiro. Mas nem tudo eram rosas. Após o enlace, foram viver com os pais dela, e a partir desse momento nada de bom resultou da mudança, especialmente após a entrada de Graça no ensino superior.

“E nessa altura percebi que não. Que aquilo que ele queria eu não queria, que a forma de estar dele era diferente da minha”. Divorciou-se aos 21 anos.

No liceu, foi a primeira grávida a acabar o ano

Ao descobrir que estava grávida, o seu maior receio foi o futuro profissional. Sempre foi uma rapariga ambiciosa, com gosto pelo estudo. A área de eleição era a saúde, mais concretamente a medicina. Tinha já um plano bem definido na cabeça.

Frequentou a Escola Secundária da Bela Vista em Setúbal. Quando concluiu o 12º ano, deram-lhe os parabéns, visto que na altura as jovens que engravidavam interrompiam por norma os estudos. “Eu fui a primeira rapariga que fez o ano letivo grávida do princípio até ao fim do ano”, refere com orgulho.

Na altura questionou-se se conseguiria conciliar os estudos com a vida pessoal e com um emprego.

A aceitação da parte dos colegas e professores foi imediata. Prestaram todo o apoio que precisava e integraram-na de forma a continuar a ir à escola. Graça estava no primeiro ano do ensino secundário na área da saúde.

No entanto, o resto da comunidade escolar não aceitou de bom grado. Entre comentários e olhares desagradáveis, foi complicado para a jovem manter a postura, mas com a proteção e ajuda dos colegas e dos professores, não desistiu.

Emociona-se ao falar da mãe da sua melhor amiga que a incentivou a continuar. “E foi ela que me foi matricular no 11º ano, porque a minha mãe não tinha coragem de lá ir”.

Graça sempre foi estudiosa e ambiciosa. Era extrovertida e gostava de sair, no fundo, uma adolescente normal. Para ser mãe, abdicou do sonho de seguir medicina, tanto pela média exigida como pelo tempo de duração do curso. Seguiu então psicologia e não se arrepende.

Ser mãe aos 16

Graça tinha 16 anos quando foi mãe. Chegado o grande momento do parto, a adolescente não sabia o que a esperava. Era um mundo quase totalmente desconhecido. Não tinha conhecimentos suficientes sobre o que era ser mãe. Ao falar desse grande momento, volta a sorrir.

Morava em Setúbal, trabalhava em Lisboa e estudava em Coimbra.

Foi um parto provocado. Era inocente, não sabia que as dores iriam aumentar e o que a esperava. Acabou tudo por correr bem sem demoras nem complicações. Hoje tem três filhos, todos partos provocados.

O início da vida como mãe foi suavizado com o apoio da família e amigos, pois viviam todos na mesma casa, apenas as noites eram complicadas como seria de prever. Passado um ano começou a trabalhar e a ter aulas de noite, então, a sua mãe tomava conta da criança apenas até ela chegar.

Queria candidatar-se ao curso de psicologia em Lisboa, mas um engano fez com que fosse parar a Coimbra. Ficou angustiada e desanimada, mas foi na mesma e concluiu lá o primeiro ano da licenciatura, conseguindo depois voltar para Lisboa. Morava em Setúbal, trabalhava em Lisboa e estudava em Coimbra.

O seu desejo era não ter casado quando engravidou, referindo isso como a única coisa que mudaria se pudesse voltar atrás.

Defende que nestas situações os pais devem ter um maior controlo parental, que nos dias de hoje os rapazes já têm maior responsabilidade nestes assuntos. “O “problema” não é só das raparigas”, aponta. São responsabilidades partilhadas que na altura não havia. Não se arrepende e diz que a responsabilidade não foi só dela.

Já deu palestras sobre a maternidade na adolescência, fez ações de formação com jovens e exerce a profissão de psicóloga até hoje.

N.d.r. Este artigo foi escrito por estudantes do 1º ano do curso de Ciências da Comunicação e Cultura, da Universidade Lusófona de Lisboa. Trata-se do trabalho final para a cadeira de “Géneros Jornalísticos”, um trabalho iniciado em Lisboa e terminado na redação do JPN, ao abrigo da iniciativa “Alfa Pendular”.