Metade dos jovens emigrantes não tem intenção de voltar a Portugal. Os resultados são de um inquérito da Fundação AEP e foram conhecidos na passada sexta-feira. Dos que pensam voltar, 31,4% dizem que têm vontade de o fazer, mas apenas 8,4% desses têm planos.
Entre os inquiridos, pouco mais de 40% dizem que, a voltar, só o farão daqui a mais de cinco anos e outros 27% adiam esta possibilidade para daqui a mais de três anos. Voltar a Portugal seria pela família e os amigos, sendo que os grandes motivos para não o fazerem é a oportunidade de carreira e os salários. O JPN foi conhecer a opinião de alguns jovens emigrantes.
Hugo Vaz Vieira tem 33 anos e está em Londres há quase cinco anos. Emigrou porque não tinha trabalho em Portugal e não pensa voltar ao país. “Definitivamente, não”, diz Hugo. Os motivos para emigrar, conta, foram vários: “Garantias para o futuro é o primeiro, realização a nível profissional é o segundo e estabilidade a nível familiar. Porque não tendo trabalho não consegues ter estabilidade familiar também”.
Nem os recentes atentados em Inglaterra o assustam “não me assustam rigorosamente nada. É certo que a percentagem de risco é maior, mas não penso nisso”. Em Londres, Hugo é diretor de uma escola e, por isso, o seu gosto pela educação faz com que a única razão para voltar a Portugal seria para ocupar o lugar de reitor da Universidade do Porto. “E mesmo assim pensaria duas vezes”, confessou.
Cátia Silva tem 28 anos e é namorada de Hugo. Foi para Londres há quatro anos e é supervisora num hotel. Também não tem intenção de voltar a Portugal. “Eu sempre quis ir para fora do país, porque é uma forma de me tornar independente”, contou Cátia.
Os atentados deixam-na um pouco mais apreensiva do que a Hugo: “Assustam-me porque são perto de mim. Sinto que as pessoas têm medo, mas temos de pensar que os acidentes acontecem em qualquer lado”.
A independência que conquistou ao viver e trabalhar fora de portas é a principal motivação que Cátia tem para ficar em Londres. “Não penso voltar a Portugal porque provavelmente seria dependente de alguém. Em Londres, consegui a minha independência e cresci.Tudo o que tenho é à minha custa e se não saísse do país provavelmente ia depender dos meus pais”.
Ricardo Silva tem 24 anos e emigrou para França há dois anos e meio. Ao contrário de Hugo e Cátia, pensa voltar a Portugal porque tem “saudades da família” e confessa que a qualidade de vida em terras francesas não difere muito da de Portugal.
Para Ricardo, a única vantagem de estar fora de “casa” é o facto de conseguir melhores salários: “Ganha-se mais dinheiro, mas também se gasta mais” e acrescenta “ao domingo não se pode ir a lado nenhum porque está tudo fechado, por isso viver em Portugal é muito melhor”. Assim, e apesar de viver com a mulher e o filho em França, pretende voltar ao país natal quando as condições assim o permitirem.
Salomé Rodrigues Amaral tem 20 anos e está na Suíça há já dez anos. Emigrou com os pais e os irmãos. Apesar de ter a oportunidade de voltar a Portugal, não vê vantagens em fazê-lo: “Portugal não me oferece aquilo que a Suíça me oferece. Aqui tenho um trabalho seguro e já criei amizades que não quero perder. Já tenho uma rotina de vida que não quero alterar”.
Para Salomé, viver na Suiça oferece-lhe muito mais do que viver em Portugal lhe poderia oferecer. “Por exemplo, se quiser ir estudar para fora da Suíça ou do Ticino (cantão italiano), posso pedir uma bolsa de estudo. Posso planear ter filhos porque tenho possibilidades financeiras para os manter, mesmo trabalhando só em part-time. E tenho a possibilidade de ter os meus hobbies, como viajar sempre que estou de férias”, conclui Salomé.
Artigo editado por Rita Neves Costa