Há dois anos, a Federação Portuguesa de Futebol anunciava um recorde histórico no número de praticantes de futebol. Cada vez mais crianças inscrevem-se em “escolinhas” de futebol. Estes são os novos futebolistas portugueses, vistos a partir de um treino de dois dos clubes com mais tradição na formação, um no Norte, outro no Sul: o Sport Comércio e Salgueiros e o Futebol Clube de Alverca.
Na cidade do Porto, o Salgueiros é encarado como clube histórico: seja pela formação de qualidade ou pelos longos anos de vida, o clube continua a ser muito procurado pelos mais jovens. No campo sintético do Viso, dezenas de atletas – entre os seis e os 12 anos – enchem as quatro linhas do recinto. André Silva, atual jogador do Futebol Clube do Porto, jogou no clube antes de rumar ao Dragão.
O auge do futebol de formação foi atingido na época 2014/2015 com 162.705 inscritos, segundo a Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Em 2016, ano em que a Seleção portuguesa se sagrou campeã europeia de futebol, registou-se um decréscimo no número de jogadores de futebol federado. Neste momento, existem 143.935 praticantes desta modalidade inscritos na FPF.
Porém, nem sempre de boas marés foi feito o Salgueiros. Pedro Seixas, vice-presidente do clube, explica as muitas dificuldades que enfrentaram nos últimos anos. Muitas delas de ordem financeira. Em 2008, houve mesmo uma reestruturação do nome: Salgueiros 08. O “novo” clube tem como objetivo apostar nas camadas mais jovens, para que depois, se possam tornar séniores e jogar pela equipa principal.
Ser pai do próximo Cristiano Ronaldo? A faculdade é mais segura
Dos atletas para os pais, o caminho e a distância emocional é mínima. A pressão que os progenitores colocam nos filhos continua a ser um dos temas na ordem do dia do futebol de formação. Quando o futebol corre bem, o entusiamo é sentido de forma ainda mais intensa pelos pais: uns revivem os sonhos, outros ambicionam ser o pai do próximo Cristiano Ronaldo.
Carlos Sousa, pai de um atleta, diz que gosta de ver o seu filho a jogar e a crescer rodeado de futebol. No entanto, salienta que o mais importante é a escola e não deixa que o filho se desleixe nos estudos. Ser o pai do próximo Cristiano Ronaldo? Carlos Sousa descarta a ideia e vê com bons olhos planos mais seguros como a faculdade.
Por sua vez, o treinador das camadas mais jovens foca-se em proporcionar as melhores condições possíveis para que os atletas evoluam não só como jogadores, mas também como homens — os valores de união e respeito uns pelos outros são as mensagens mais importantes a transmitir.
Para falar sobre o que é ser atleta, só Tomás Moutinho, capitão do Salgueiros de 11 anos, o poderá fazer. O atleta tem muito orgulho em levar o clube ao peito. “É melhor coisa que já levei na vida”, afirma. Para ele, líder nato, o mais importante é motivar os colegas, nas vitórias e nas derrotas.
Em Alverca, os jovens jogadores são uma prioridade
E é com o objetivo de ter cada vez mais jogadores federados que o Futebol Clube de Alverca, situado no concelho de Vila Franca de Xira, considera a formação muito importante. Ao longo dos anos, o clube tem formado muitos atletas que têm tido sucesso: os jogadores do Sport Lisboa Benfica, Rafa e André Almeida, são alguns dos exemplos.
Porém, a instabilidade financeira no clube não ajudou à qualidade na criação de novos atletas. A falta de condições no espaço e a inexistência de uma “folga” financeira resultaram no desinvestimento no futebol de formação. Contrariamente ao que seria expectável, a direção tem conseguido aumentar o número de inscrições de jogadores.
De forma a que as novas gerações não pratiquem o futebol de rua, sem qualquer segurança ou orientação, o Alverca quer se tornar também uma segunda casa. Isso significa não descurar os estudos, trabalhar em equipa e respeitar os companheiros e adversários.
A 16 de maio deste ano, o Alverca iniciou a primeira fase do projeto de construção do centro de treinos para ter melhores condições no espaço físico. O principal objetivo é atrair mais jovens e continuar a ser uma referência a nível local e nacional.
N.d.r. Este artigo foi escrito por estudantes do 1º ano do curso de Ciências da Comunicação e Cultura, da Universidade Lusófona de Lisboa. Trata-se do trabalho final para a cadeira de “Géneros Jornalísticos”, um trabalho iniciado em Lisboa e terminado na redação do JPN, ao abrigo da iniciativa “Alfa Pendular”.