Em maio de 2011, surge na Maternidade Júlio Dinis, no Porto, o primeiro Banco de Gâmetas de Portugal. Os tratamentos de reprodução medicamente assistida têm uma taxa de sucesso nas mulheres de 60% e nos homens de 40%, de acordo com Isabel Sousa Pereira, diretora do Banco Público de Gâmetas, e é das mais relevantes esperanças para quem quer ter um filho e não consegue.

É o primeiro banco público no país, facilitando a vida daqueles que não possuem elevados recursos financeiros e que querem submeter-se ao tratamento de reprodução assistida. O banco disponibiliza gâmetas, não só para utentes do Centro de Procriação Medicamente Assistida do Centro Hospitalar do Porto (CPMA-CHP), mas também para instituições que os solicitem com fins específicos.

Isabel Sousa Pereira explica o processo pelo qual passam receptores e doadores.

O banco dispõe de uma área de atendimento ao utente, uma área psicológica para acompanhamento dos pacientes, e conta com materiais qualificados para a criopreservação de embriões, espermatozóides e óvulos.

Segundo o jornal “Diário de Notícias”, no ano de 2014, Portugal foi o país da União Europeia com a taxa de fertilidade mais baixa. Em Portugal, nesse ano, nasceram em média 1,3 crianças por casal. No ano seguinte, o valor baixou ainda mais para os 1,21.

A redução no número de filhos por mulher, em Portugal como no Mundo, está longe de se dever exclusivamente a questões de infertilidade. Contudo, são as pessoas com problemas de fertilidade as que mais recorrem à reprodução medicamente assistida, recorrendo ao Banco Público de Gâmetas ou clínicas privadas da especialidade. O tempo de espera é mais elevado no público.

Em Portugal, ainda há poucas doações. De acordo com especialistas, na origem do facto estarão quer a falta de divulgação quer a de sensibilização para a doação.

“Para fazer face às necessidades imediatas precisaríamos de cerca de 200 candidatos masculinos (considerando que cerca de 75% não serão dadores efetivos) e de pelo menos 150 dadoras efectivas”, explicou Isabel Sousa Pereira numa entrevista dada em março ao “Diário de Notícias”.

Para que se aumente o número de doações é necessário um investimento na comunicação – idas a escolas e faculdades, por exemplo. Para a recolha de gâmetas, algumas instituições criaram campanhas nas universidades e associações de estudantes para aumentar potencialmente o número de doadores, algumas com sucesso e outras nem tanto.

No geral, o país conta com cerca de 15 clínicas onde é possível a doação de ovócitos e espermatozóides, localizadas no Porto, Lisboa, Coimbra, Faro e Ponta Delgada.

Mitos associados à doação

Não existem riscos na doação de espermatozóides e doar óvulos não significa que a mulher tenha algum tipo de dificuldade futura.

Além da questão da falta de conhecimento da existência destes serviços, constata-se que o receio dos doadores de gâmetas também se relaciona com o conceito de parentalidade, que se coloca aos pais cujos rebentos vão resultar de material genético que não lhes pertence.

“Nós tentamos sempre que sejam utilizados gâmetas do casal, caso isso não seja possível, a possibilidade de utilização de gâmetas doados na utilização dos tratamentos de infertilidade é uma hipótese”, explica Catarina Júlio da GINEMED (International Center For Assisted Reproduction), com quem também falámos para esta reportagem.

No geral, há menos receio nos homens, pois a recolha é feita de maneira natural. Nas mulheres, o processo é mais invasivo. Além de ser necessária a aplicação de anestesia local, os óvulos são extraídos com um aparelho próprio. Além disso, há o medo de virem a perder a capacidade de produção de óvulos, o que de acordo com os especialistas não corresponde à realidade.

Para Catarina Júlio, do que não restam dúvidas, é de que a doação contribui para a realização do sonho de outros: “Não tenho a menor dúvida disso. O desejo de paternidade está muito assente na nossa sociedade e o facto de não poder ter filhos é algo com grande impacto emocional. Este impacto está associado a um elevado índice de depressão, de divórcio. Portanto o facto de nós podermos resolver os problemas de infertilidade sem dúvida que é a realização de um sonho.”

A doação é um ato que contribui para a concretização de um projeto de vida e que tem também uma contrapartida financeira. Como conclui Filipa Santos, psicóloga na Clínica Privada IVI – Instituto Valenciano de Infertilidade, o que existe “é uma recompensa que vem compensar a dadora e o dador, pelos custos e incómodos que o processo tem para eles”. Nas instituições privadas, os valores podem oscilar entre os 42  e os 450 euros, enquanto que no público os valores estão fixados por despacho ministerial e variam entre os 336 para homens e um máximo de 843 euros para as mulheres.

 

N.d.r. Este artigo foi escrito por estudantes do 1º ano do curso de Ciências da Comunicação e Cultura, da Universidade Lusófona de Lisboa. Trata-se do trabalho final para a cadeira de “Géneros Jornalísticos”, um trabalho iniciado em Lisboa e terminado na redação do JPN, ao abrigo da iniciativa “Alfa Pendular”.