Óscar Afonso, presidente do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF) e Manuel Carlos Nogueira, associado no Observatório, apresentaram, na manhã desta quarta-feira, na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), o estudo de Índice de Perceção de Fraude em Portugal (IPF). Uma das conclusões foi a de que as mulheres conseguem percecionar mais a fraude do que os homens.

O estudo concluiu que 51% das mulheres tem uma perceção de fraude contra os 49% dos homens. A região de Grande Lisboa (32%), Norte litoral (17%), Centro litoral (15%) são as zonas que mais percecionam a fraude. Os inquiridos que têm os 12º ano, o 9º ano e a primária completa (23%) representam os mais curiosos contra os que têm um curso médio/politécnico (1%) e a primária incompleta (2%). São, então os indivíduos de classe média/baixa (47%) entre os 35 aos 45 anos (22%) os que representam a maior cotação.

O Índice de Perceção de Fraude de 2016 é, assim, de 100%, “uma vez que não temos a comparação do ano passado – vamos ter no próximo ano – mas não podemos dizer que a perceção da fraude aumentou ou diminuiu”, referiu Manuel Nogueira. No entanto, a evolução da fraude no último ano teve a perceção de 81%: “O que para nós é preocupante”, continuou.

“A corrupção, o suborno e a fraude fiscal são as fraudes que as pessoas consideram como mais altas em economia não registada”, disse Óscar Afonso. A eficácia da justiça no combate à fraude é, segundo 62% dos inquiridos é entre média e pequena. No que se refere ao contacto pessoal com situações de fraude, 18% refere ter sido vítima destes procedimentos, enquanto 21% diz desconhecer.

Ainda foram referidas outros tipos de fraudes, como a utilização indevida de bens, apropriação de informação e a apropriação de informação privilegiada, apropriação indevida de dinheiro, corrupção e suborno, satelização no mercado, lavagem de dinheiro e fraude fiscal.

“Achamos [o inquérito] que é uma informação muito útil para a política porque a partir daqui, tendo o conhecimento destes dados, podem tomar as medidas necessárias. É sobretudo, criar algo que possa ser usado pelas estações de política que possam servir de medidas”, disse o presidente do OBEGEF.

Algumas das soluções para melhorar os processos fraudulentos em Portugal seria fazer “a justiça funcionar melhor e melhorar a qualidade das instituições. Para melhorar a qualidade da justiça, teriam que existir leis que tornassem a fraude mais leve. Mas a justiça tem que funcionar, não funcionar então não serve de nada, mas eu diria que é a principal medida”, terminou.

Para a composição do estudo do IPF,  fizeram parte, ainda, José António Moreira, Raquel Ribeiro, Paulo Vasconcelos, Orlando Mascarenhas e Jorge Alves. O OBEGEF elaborou um índice de economia não registada com o objetivo de avaliar a tendência nos próximos anos.

Como foi feito o estudo de Índice de Perceção de Fraude em Portugal

O estudo recolheu 1210 inquéritos anónimos, dos quais foram removidos 20% para garantir uma maior qualidade da informação recolhida. Assim, a amostra final foi constituída por 1007 indivíduos que representam as características da população portuguesa.

O índice de economia não registada já existe desde 2011, mas só no ano passado é que o Observatório conseguiu avançar com o estudo, graças à parceria com a multinacional GFK.  “A GFK deu-nos a hipótese de fazer por nós os inquéritos à escala nacional, porque nós não tínhamos recursos e a GFK propôs juntar-se a nós e suportar o custo dos inquéritos”, referiu Óscar Afonso, durante a apresentação.

A amostra cruzou as variáveis de sexo, idade, instrução, atividade, região e habitat/dimensão dos agregados populacionais. O trabalho em campo foi realizado por 51 entrevistadores, recrutados e treinados pela GFK, que receberam uma formação adequada às especificidades deste estudo.

“Este estudo inclui economistas, gestores, matemáticos e pessoas que trabalham na Polícia Judiciária e foram todos muito úteis para a construção do inquérito”, continuou o presidente.

O IPF foi dividido em sete dimensões, das quais correspondem a evolução geral da fraude, a evolução por tipos de fraude, o destaque da comunicação social atribuída à fraude, o tamanho atual da fraude, os tipos de vítimas de fraude, a eficácia da justiça no combate à fraude e o contacto com a fraude.

Artigo editado por Rita Neves Costa