Na sexta-feira, dia 30, o Cinema City Campo Pequeno, em Lisboa, e o Parque Nascente, no Porto, receberam a antestreia do filme alemão “Uma Vontade Cega” na sua versão tradaptada. Por outras palavras, uma versão com áudio-descrição, áudio-legendas, língua gestual e legendas.

Baseado numa história verídica, “Uma Vontade Cega” conta a história de Saliya (Kostja Ullmann), um estudante que perde quase a totalidade da visão durante a adoslencência. Apesar das dificuldades, Saliya não desiste dos objetivos que traçou quando a sua visão ainda era plena e consegue uma vaga no seu emprego de sonho. Com a ajuda do amigo Max (Jacob Matschenz), Saliya tenta ultrapassar barreiras diárias subtilmente, de modo a que ninguém se aperceba da sua condição. Contudo, ao se apaixonar por Lauren (Anna Maria Mühe), o seu plano começa a falhar.

Ao enredo inteiramente inclusivo, juntou-se áudio-descrição, áudio-legendas, língua gestual e legendas que correm simultaneamente, na versão tradaptada, de modo a abranger uma audiência diversa.

“Uma Vontade Cega” estreou em Portugal a 1 de junho

Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência – que marcou presença na antestreia – acredita que a existência da versão tradaptada do filme em questão pode significar uma mudança positiva no indústria do entretenimento nacional. “O facto de se ter investido na adaptação deste filme é em si um sinal de que as distribuidoras começam a perceber que existe um público específico, cidadãos com deficiência ou algum tipo de incapacidade, que até agora não tinham oportunidade de assistir a um filme retirando daí o máximo da experiência que o filme oferece”, disse ao JPN.

A secretária de Estado foi ainda mais longe ao salientar “a divulgação deste tipo de iniciativas é fundamental para gerar procura”. “Existem hoje ferramentas tecnológicas que permitem a adaptação dos filmes com custos cada vez mais reduzidos e penso que quanto maior for a oferta de cinema adaptado, maior será a procura e as distribuidoras vão chegar à conclusão de que é um investimento que pode compensar”, defendeu Ana Sofia Antunes.

A opinião de Ana Sofia Antunes é partilhada pela fundadora da Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes (AAICA), Teresa Vaz. A mesma acredita que a frequência de projetos inclusivos tem sido cada vez maior, ainda que a versão tradaptada de “Uma Vontade Cega” seja “um caso raro”, “de louvar”, por estar disponível em duas sessões diárias “quando o habitual é apenas uma com um dia específico e pronto”.

“Cada vez mais fazem-se iniciativas destas. Ainda há pouco tempo no [Teatro] São Luíz, organizaram um espetáculo de guitarra portuguesa do Pedro Caldeira Cabral que também era inclusivo”, comentou a fundadora da AAICA.

Além do apoio institucional da AAICA, a tradaptação de “Uma Vontade Cega” recebeu a aprovação da Associação Portuguesa de Deficientes (APD). A presidente da instituição, Ana Luísa Sezudo, considera a iniciativa “um avanço na produção cinematográfica que deve ser tido como exemplo para futuras produções”. “Quando falamos de inclusão este filme é sem dúvida, um exemplo do que se pretende para a sociedade do futuro”, completou.

O filme “Uma Vontade Cega” está em exibição desde o dia 1 de junho, no Cinema City Campo Pequeno, em Lisboa, e no Parque Nascente, em Gondomar, onde a versão tradapatada vai estar disponível até 14 de junho.

Artigo editado por Filipa Silva