Champanhe aberto. Entre passos hesitantes, o sonho da medalha de bronze concretizou-se. Há lá um espacinho com o nome de Portugal escrito que o comprova. Não dá tanto nas vistas como o ouro – verdade seja dita – mas, na estreia na Taça das Confederações, já significa qualquer coisa.

Fernando Santos revirou o onze. No papel, o desenho tático delineou-se com oito substituições face ao encontro com o Chile. Pepe e Adrien Silva foram os homens golo. Neto não teve direito à estrelinha da sorte… o golo do defesa central entrou na baliza errada. Um episódio do jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares contado alguns pares de parágrafos abaixo.

O importante é que o justo balde de água fria das meias-finais das Confederações não se repetiu no Spartak Stadium, em Moscovo. A missão lusa foi (desta vez) bem-sucedida.

Onze de recurso para pensar a longo prazo

O empate no “olá” de Portugal e México à Taça das Confederações deu o pontapé de saída dos campeões europeus e sul-americanos na competição. O “adeus” tratou de reescrever a história com um final diferente. Não foi fácil Portugal sair sorridente na despedida da Rússia.

Gelson Martins engendrou o primeiro susto para o guardião mexicano. Não é mentira nenhuma que, dentro nas quatro linhas, o 18 das quinas foi a versão portuguesa do Usain Bolt. Rotineiramente, lá ia ele pormenorizando o que ainda havia para correr rumo à área mexicana: umas vezes pela ala direita, ultrapassando Reyes; outra vezes, face à necessidade de recuperar a bola, lá estava ele a recuar no terreno.

No sítio certo esteve André Silva. O avançado seguia isolado para a baliza de Ochoa, no instante em que Rafa Márquez decidiu pôr um travão às intenções de golo do camisola 9. Se existissem dúvidas quanto à marcação do penálti, o vídeo-árbitro tratou de as esclarecer. Fahad Al Mirdasi, o árbitro nomeado para o encontro, oficializou o lance. Expectativa em Moscovo. A mais recente contratação do AC Milan falhou. Reza a história que, em cinco penáltis nas Confederações, Portugal só converteu um. Probabilidades viradas do avesso pelo pé do campeão europeu Adrien Silva. Episódio do próximo capítulo!

Não se engane quem pensa que não houve México em campo. Aliás, os “aztecas” eram tudo menos sossegados. A propósito, contar que de um livre assinado por Layún sobra uma bola enrolada e indecisa em cima da linha de golo. Valeu a Portugal a atenção de Rui Patrício, o homem de uma expressão facial fechada como quem não quer deixar nada entrar nas redes nacionais.

A flexilidade daquelas luvas laranjas e brancas de Patrício foram meio caminho andado para o bronze. Chicharito que o diga. O mexicano quase congelava os homens da seleção nacional com um remate e trajetória enquadrados com o golo. Um aperto de mãos e um sorriso fecharam o lance. Dois senhores do futebol que levaram o fair play à letra.

As dinâmicas de uma construção tática em 4x4x3 garantiam argumentos à movimentação ofensiva de Portugal. São sobre Pizzi estas quatro linhas. O médio não se esqueceu dos óculos que descobrem linhas de passe, do desenho criativo que dá à bola assim que lhe chega aos pés e, claro, do remate que só não foi feliz porque estava lá um sul americano a marcar posição.

Em cima do som do apito para o intervalo, mais um momento curioso. Peralta, habituado aos golos de cabeça, responde erradamente ao cruzamento de Gelson. Por centímetros não deu vantagem à equipa lusa.

Minutos de desnorte lusitano

Portugal e a baliza estavam de costas voltadas. Esperava-se que, no balneário, o engenheiro apresentasse um plano-solução para a falta de eficácia. É que as combinações e a posse de bola até estavam lá, mas em remates certeiros não davam uma para a caixa.

Estranho e inesperado, dois adjetivos que descrevem o golo mexicano. Ou será melhor dizer o autogolo português? É que Chicharito sacudiu a bola para a área e foi Neto quem se viu na posição infeliz de a converter em golo. Um corte involuntário, que durante uns largos minutos, pôs em causa o pódio.

À queda de rendimento português, somavam-se, uns atrás dos outros, os lances rápidos da ofensiva mexicana. Em nenhum deles Patrício vacilou.

No banco só se ouvia a voz grossa de Fernando Santos. O técnico tentava impôr um Norte aos jogadores e alimentá-los de vontade desmedida para dar uma cambalhota ao resultado. Pizzi percebeu a dica. Abriu na ala para Gelson, livrou-se dos mexicanos e rematou. A bola passou uns três palmos ao lado do poste direito do guardião mexicano.

No horizonte da linha de baliza vislumbrava-se o empate. Tudo não passou de uma ilusão – que, agora, sabemos temporária. A razão? Uma jogada a três toques entre André Silva, Moutinho e Gelson. O jogador do Sporting estava em sitio tão certo como o golo que ia marcar, não fosse a luva de Ochoa a desviar a bola.

Uns minutos a seguir, um remate de Carlos Vela quase acaba com as esperanças de Portugal.

Pouco a pouco, há cada vez menos Portugal. Faltam desequilíbrios, coordenação e passes acertados. Devia ser ao contrário. Mas, sabemos nós que do que é ao que devia ser, Portugal tem um longo historial de trocas.

Foi um jogo em que Portugal fez quase tudo e quase que não levava nada para Portugal. Até que Pepe demonstrou que ainda valia a pena acreditar. A ponta da bota direita de Pepe deu o melhor seguimento a um cruzamento da direita de Ricardo Quaresma e empatou o jogo já depois dos 90, levando o jogo para o prolongamento.

Se não foi uma final, pareceu

Rui Patrício cresceu muitos metros para dizer não ao México. Nas imediações do segundo poste, e na resposta a um desvio de Lozano, o guarda-redes fechou à chave a porta da baliza. Só não se sabia que assim se iria manter até ao fim.

Em cima da centena de minutos, penálti para Portugal. À quinta é de vez? Chamou-se o especialista para estas ocasiões e Adrien Silva não deu oportunidade a Ochoa. Portugal não assinou os papéis para o divórcio com a marca dos onze metros.

Expulsão atrás de expulsão –  Nélson Semedo, Raul Jiménez e Juan Carlos Osorio – os 120 minutos de prolongamento chegaram ao fim.

A imagem das medalhas de bronze ao peito dos homens de Portugal é captada pelas objetivas e aplaudida pelos fiéis fãs nacionais que marcaram lugar no Spartak Stadium. Gerações assistiram a um futebol com ritmo de uma autêntica final, tal era a raça portuguesa e mexicana no relvado.

O adeus à Rússia leva o peso do bronze na bagagem dos campeões europeus. Quem sabe se no Mundial 2018 não é a vez de Portugal subir para o degrau de campeão do mundo.

“A união que esta equipa demonstra na vontade de continuar a fazer história”

Fernando Santos queria seriedade e compromisso em campo. Teve o que pediu. “Foi uma vitória justa. Portugal trabalhou pelo resultado e acabou por ser feliz.” O selecionador nacional assumiu a qualidade adversária e reconheceu os minutos em que Portugal perdeu volume ofensivo. “Foi um bom jogo, com as duas equipas a procurarem ganhar. E só isso é que fazia sentido. A parte final é sempre difícil, há uma ansiedade muito grande, os jogadores estão cansados.”

“Hoje, Portugal foi bem representado”, garantiu Pepe. O defesa-central não deixou passar despercebida a qualidade nacional dentro de campo – “somos uma equipa difícil de ser vencida” – e fora dele – “o mais importante é o espirito de grupo que nós temos, é a união que esta equipa demonstra na vontade de continuar a fazer história.”

Pizzi apontou para a dificuldade enfrentada em campo frente a “uma seleção complicada.” Contudo, admitiu estar feliz pela conquista do bronze, uma medalha com “um sabor especial” que queria que “fosse de outra cor.”

A Taça das Confederações terminou ao final da tarde deste domingo com a Alemanha a bater o Chile por 1-0 – golo de Lars Stindl – e a conquistar, pela primeira vez no seu historial, esta competição.

Artigo editado por Filipa Silva