A Universidade Júnior é um programa nacional de iniciação ao ambiente universitário e de experimentação vocacional destinado aos alunos do ensino básico e secundário. Este ano vai para a 13ª edição, a mais concorrida de sempre. Em número de participantes, o programa bate recordes há três anos consecutivos.
No total, a Universidade Júnior já trouxe mais de 50 mil estudantes à Universidade do Porto. Neste mês de julho, 6600 jovens entre os 10 e os 17 anos participam nas mais de 175 atividades e projetos. Para saber o que motiva estudantes e monitores, o JPN acompanhou os trabalhos de três atividades do programa.
“Record Gym”: ginastas em ponto pequeno
É no pavilhão de ginástica da Faculdade de Desporto que Filipa Campos e Sofia Lopes acolhem todos os dias 14 novos juniores do 5º e 6º ano. A atividade “Record Gym (Experimenta no Verão 1)” é uma novidade e consiste em testar os jovens em diferentes provas de ginástica e comparar os resultados dos alunos aos dos ginastas participantes nos Jogos Olímpicos.
O objetivo da atividade é que os juniores explorem o espaço e os aparelhos de um pavilhão de ginástica e que conheçam melhor o seu corpo. “Como os outros dias são todos teóricos, os outros monitores e os próprios miúdos dizem-me que este dia é o que eles mais querem, porque é a parte prática”, nota Filipa Campos.
Pela segunda vez monitora na Universidade Júnior, Filipa Campos tem 20 anos e é estudante na Faculdade de Desporto. A jovem considera a Universidade Júnior uma mais-valia, quer ao nível pessoal quer profissional. Como é “um bocadinho tímida”, ajuda-a a desenvolver estratégias para se relacionar com os outros. “Ao nível profissional, uma vez que estou aqui na Faculdade de Desporto e quero ser treinadora de ginástica, passar aqui este mês com eles faz com que aprenda a lidar com diferentes miúdos e a motivá-los a praticar atividade física”, explica.
Mara Soutinho tem 10 anos e é a primeira vez que vem à Universidade Júnior. “A minha irmã e o meu primo tinham ido à Universidade Júnior há alguns anos e eles disseram-me que era muito divertido e então quis experimentar”, conta. Escolheu esta semana porque combinava tudo aquilo que queria – desporto, artes e história -, mas a atividade Record Gym foi até ao momento a sua preferida.
Eduardo de Oliveira passou para o 7º ano e já não é a primeira vez que participa na Universidade Júnior. No ano passado “já tinha feito três semanas e, como já havia algumas [atividades] repetidas, eu tentei experimentar outras novas e escolhi esta pois tinha um bocado de ciência, história e educação física e eu gosto disso”. Veio sozinho, mas não se importa. Para ele, a melhor parte da Universidade Júnior é “conhecer novas pessoas”.
Maria Miguel veio com a melhor amiga. Escolheu este dia na Faculdade de Desporto por influência dela: “Faço atletismo e ballet, mas a minha melhor amiga é que anda na ginástica, portanto ela também ficou feliz por vir para aqui”. Numa palavra, descreve a Universidade Júnior como “espetacular”.
“CSI: Cromossomas sob investigação”: à descoberta do mundo celular
Já no Campo Alegre, na sala 011 do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 14 alunos do 7º e 8º ano experimentam a atividade “CSI: Cromossomas sob investigação (Oficina de Verão 4)”. A atividade consiste numa apresentação geral da biologia molecular, passando por temas como a clonagem e doenças genéticas. O objetivo é “entretê-los, não ser só uma atividade totalmente escolar, mas ser uma atividade de verão” e “dar-lhes uma apresentação do que fazemos aqui, do que se trabalha, fala-se um pouco de tudo”, explica o monitor.
José Pereira, licenciado em Biologia na Faculdade de Ciências, acompanha os juniores nesta atividade há quatro anos consecutivos. No início do dia costuma perguntar se os jovens vêm obrigados. Pela sua experiência, “alguns vêm por pressão dos colegas, outros vêm simplesmente porque acharam que o programa era giro, outros escolhem à sorte”. “Apanhamos de tudo”, confessa. O mais gratificante é “quando chegamos ao fim do dia e temos uma turma que se envolve, que está mesmo interessada e percebemos mesmo que querem saber mais”, admite. Para o ano quer voltar a ser monitor – “enquanto puder, estou aqui”.
Quem também quer estar por cá é a Adriana Domingos e é por isso que escolheu ficar na Universidade Júnior durante três semanas. Para a júnior, o mais difícil é escolher as atividades, porque todas as apresentações são “muito cativantes”. “Quando nós nos vamos inscrever parece que gostamos de todas e depois ficamos ‘temos de escolher só três?’”, ri-se. Quanto a esta atividade, a escolha foi fácil. “Um dia o meu pai falou-me de engenharia genética e quando me apercebi que havia uma atividade nessa área, interessei-me bastante”, conta.
À tarde os juniores passam para a atividade laboratorial. “Estamos a fazer uma atividade experimental, temos de colocar soro na boca, bochechar e depois voltar a pôr no frasco e juntar detergente e álcool para conseguirmos observar o nosso ADN”, explica Diana Gomes. Além disso, “esfregámos a cotonete na parte interior da bochecha e pusemos numa lâmina de vidro e depois juntámos corante azul para vermos melhor”, continua. A Universidade Júnior mostrou-lhe uma nova possibilidade para o futuro. “Estou a pensar em biologia, mas até esta semana não tinha ideia nenhuma”, confessa.
Mariana Seabra tem 14 anos e vem pela primeira vez à Universidade Júnior. “Gosto de conhecer pessoas novas e de fazer diversas atividades que nunca tinha feito”, explica. O que gostou mais foi de encontrar respostas às suas perguntas. “Eu tinha imensas curiosidades e hoje fiquei mais esclarecida, por exemplo, como é que se formam os olhos castanhos e azuis”, conta. Repetir a experiência está nos planos de todos os juniores.
“Queres ser jornalista por uma semana?”: de câmara e microfone na mão
No Media Innovation Labs, junto à Praça Coronel Pacheco, sete juniores do 9º ao 11º ano decidiram ser jornalistas por uma semana. A atividade consiste em fazer uma reportagem televisiva com cerca de dez minutos, que inclui três mini reportagens.
Na segunda-feira, os juniores visitam as redações do JPN, da Rádio Nova e do jornal “Público”. Na terça-feira, planeiam as perguntas para os entrevistados e saem em reportagem, trabalho continuado e concluído na quarta-feira. A quinta-feira é dedicada à edição das imagens e sexta-feira à gravação de offs e finalização do projeto.
“A ideia não é formar jornalistas numa semana, porque isso é praticamente impossível, é dar-lhes noções básicas e ao mesmo tempo também lhes apresentar a licenciatura em Ciências da Comunicação, eles visitam as instalações e também visitam os projetos que nós temos aqui”, explica a monitora.
Rita Neves Costa conheceu a iniciativa através de pessoas amigas, mas até este ano nunca tinha participado “nem como júnior nem como monitora”. Para ela, “é muito enriquecedor” transmitir conhecimento: “É muito gratificante estar-lhes a passar um pouco do que fazemos aqui no dia-a-dia”.
Apesar de considerar os alunos bastante recetivos, a monitora encontra alguns obstáculos. “Acho que a maior dificuldade é tentar mostrar-lhes que o jornalismo é uma coisa séria, que estamos a contactar com a realidade das pessoas e que quando saímos em reportagem não é suposto nós sermos os protagonistas, quem é suposto serem os protagonistas são sempre os entrevistados”.
Guilherme Rodrigues tem 15 anos e passou para o 11º ano. Indeciso entre Jornalismo e Direito, viu a Universidade Júnior como uma oportunidade para tirar as suas dúvidas. Vem da Guarda e ficou alojado no Regimento de Transmissões, instalação militar disponibilizada pelo Ministério da Defesa aos alunos de outras regiões do país. As expectativas eram altas, mas Guilherme tinha alguns receios. “Só me meteu medo mesmo por causa da comida, mas até agora não tenho tido problemas”, confessa. Em relação à atividade, o júnior conta que sempre gostou da rádio: “queria saber como era um estúdio e tive esta oportunidade agora”.
Para Sara Carrulo, de 16 anos, este “é o primeiro e último” ano que pode participar na Universidade Júnior. Vinha com boas expectativas, pois sempre lhe falaram bem sobre o projeto. “Nunca pensei que fosse algo muito fácil, mas também não pensei que fosse assim tão cansativo, andar com os tripés, estar sempre a mover, mas estou a gostar da experiência”. Quanto às entrevistas, pensou “que ia ser mais difícil”. Escolheu esta semana porque ainda não está completamente decidida, mas “jornalismo é um dos possíveis cursos que possa vir a seguir”.
João Múrias já soma muitas semanas na Universidade Júnior. Passou para o 11º ano, mas é desde o 5º que ocupa o verão a experimentar atividades das 14 faculdades da Universidade do Porto. João já decidiu: “No futuro quero ser mesmo jornalista, então queria estar mais envolvido na área e saber como funciona os bastidores das notícias e reportagens”. Confessa que ficou admirado com algumas das coisas que aprendeu. “Eu pensava que, quando se ouve o jornalista a falar e as imagens diferentes a passar, era ele que falava para o microfone e afinal é gravado à parte”, ri-se. Depois de vários anos, João reconhece que a Universidade Júnior permite dissipar dúvidas e aprofundar conhecimentos. Por isso, gostava de repetir a experiência para o ano, numa outra atividade, “para ser a última”.
Artigo editado por Filipa Silva