“Temos a raça que os portugueses sempre têm”
Atuais campeãs nacionais de futebol feminino universitário, Sofia Rios é a capitã de uma tripulação em busca de metal precioso. Sem esconder a ambição do grupo, a líder da equipa da UP aponta ao pódio na 12ª edição do Campeonato Europeu Universitário de futebol: “Nós gostávamos de alcançar uma medalha. Já fomos campeãs da Europa, foi um ano que correu muito bem, mas antes disso tínhamos resultados do meio da tabela. Por isso, este ano, se conseguíssemos uma medalha era muito bom”. Depois de uma derrota inicial com a Norwegian School of Economics, a goleada frente à Universidade de Berna deu o bilhete de passagem à fase seguinte da competição, na qual se desenha um embate com a Universidade de Toulouse. Apesar do poder físico reinar nas adversárias, Sofia sublinha a capacidade técnica do conjunto portuense, movido pela “raça que os portugueses sempre têm”.
O embarque nesta viagem, apesar do bom vento, conheceu algumas tormentas. Sofia corrobora a dificuldade em conciliar estudos com o futebol, principalmente em épocas de exame. “Em janeiro é complicado gerir tudo, porque além de exames e treinos temos vida social”. Assim concorda o responsável pela equipa, Carlos Nascimento: “A dificuldade pode ser sempre, em primeiro lugar, a vida pessoal das atletas, num momento em que algumas ainda estão a trabalhar. Principalmente a nível de horários de treino e jogos. Às vezes é muito complicado: muitas trabalham e fazem o esforço de agilizar os seus horários nas empresas; outras, em período letivo, não podem faltar às aulas”.
Ambos acabam por salientar a vontade como o motor essencial na ultrapassagem destes obstáculos, mas há limitações que não podem ser contornadas. Rute Costa, guardiã da UP e atleta federada pelo Sporting de Braga, é uma das baixas. Essencialmente pelos melhores motivos: é a terceira escolha de Francisco Neto para a baliza da seleção nacional feminina, que por estes dias escreve história nos Países Baixos. “Duas das nossas atletas estavam na convocatória. Uma delas é guarda-redes, a outra joga no meio-campo. Entretanto, infelizmente, sofreu uma lesão no estágio e teve que regressar a Portugal. Com certeza que são baixas importantes na equipa [da UP]”, constata a capitã.
Apesar destas dificuldades, Sofia Rios garante que a Universidade do Porto tem dado apoio ao projeto da equipa feminina. O estatuto estudante-atleta confere às jogadoras condições extraordinárias, como a possibilidade de realizar exames em épocas especiais. Tudo para aumentar o foco com a bola nos pés. “Cada vez mais as universidades percebem perfeitamente a importância do desporto universitário. No caso dos alunos da UP conseguem ainda mais facilitar esse processo”, confirma o dirigente da comitiva que representa a maior faculdade do país.
A modalidade navega para bom porto, mas ainda existem tormentas a desmistificar. Sofia aponta o dedo às díspares apostas nos quadros masculino e feminino: “Os clubes grandes que já existem não disponibilizam os apoios que dão ao [setor] masculino. Qualquer clube distrital ou sénior da terceira [divisão] nacional recebe ajudas de custo. Na maior parte deles, as raparigas jogam por amor à camisola, excetuando alguns casos ou algumas equipas que recebem mais”, destaca. A jogadora disputa futebol federado há sete anos e reivindica uma maior valorização da variante feminina, que ainda devaneia pelas marés da precariedade: “Financeiramente, é preciso apostas. Começa a haver muita gente com formação, mas acaba por sair da área, porque não consegue viver disto”.