A viagem começou em 2016, mas a ideia surgiu muito antes. Os proprietários do Truck Surf Hotel, ambos do Porto, conheceram-se há três anos.

Daniela Carneiro, após a conclusão do Mestrado em Ciência e Tecnologia do Ambiente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, ainda chegou a exercer como engenheira do ambiente, mas o apelo das ondas e de um estilo de vida mais livre levou-a a despedir-se do trabalho para viajar pelo mundo.

Passou pelo Havai, pelo Brasil, pela Indonésia e pelo México para se dedicar ao surf e à fotografia, duas das suas grandes paixões. A paixão pelo surf é também partilhada por Eduardo Ribeiro. Treinador da modalidade e instrutor de kytesurf, desde cedo participou em várias competições regionais e nacionais.

O espírito de aventura de autocaravanista uniu-os na vida e, mais tarde, no negócio. Foi quando trabalhavam na Holanda, em barcos que também são hotéis, que pensaram: “porque não fazer isto num camião, por terra?”.

Surfistas de espírito inquieto, sempre sentiram a vontade de “viajar e de explorar diferentes praias”, até porque, quando as ondas não são as melhores, “é necessário procurar novas paragens”. Daniela diz que o hotel sobre rodas é “um projeto inovador, fora da caixa, que traz um conceito muito interessante para qualquer pessoa que goste de viajar e do contacto com a natureza e com diferentes culturas”.

Um hotel em movimento

O Truck Surf Hotel foi desenhado e projetado por uma empresa especializada em “Motor Homes” para possibilitar todas as facilidades esperadas de um hotel. O camião com dois pisos tem também uma cozinha totalmente equipada, máquina de lavar e secar a roupa, uma mesa onde todos se reúnem à hora das refeições, um projetor e tela para ver filmes, casa de banho, chuveiro e cinco quartos duplos no piso superior. Um veículo destes pode atingir o custo de 400 mil euros, investimento cuja fonte ou fontes preferem não revelar.

O projeto português é pioneiro na Europa e destaca-se de uma autocaravana rudimentar ou de um hotel convencional. Em vez disso, proporciona “flexibilidade e conforto” e possibilita “conhecer vários lugares ao longo de uma semana”.

O projeto tem atraído famílias, grupos de amigos, surfistas e até marcas que querem promover-se em festivais, eventos de cultura ou palestras. Eduardo Ribeiro acredita que não têm apenas um hotel mas também “uma ferramenta de marketing”.

“Em qualquer sítio onde paramos, o Truck Surf Hotel chama a atenção de toda a gente”, diz ao JPN. Os curiosos são muitos e dizem que quem embarca na aventura tem dificuldades em voltar ao conceito tradicional de férias.

O hotel oferece experiências diferentes a cada rota. Há ainda um “mini-bus” que conduz os participantes a diversas atividades lúdicas. Daniela e Eduardo dão aulas de surf, mas os viajantes também podem usufruir de passeios a cavalo, aulas de ioga e passeios de barco, entre outras atividades, proporcionadas por parcerias que a dupla portuguesa cria com instituições dos locais por onde este hotel passa. A bordo, o ambiente é familiar e promove-se o convívio: “aqui sentem-se como se estivessem numa casa e não como se estivessem numa autocaravana ou num camião”.

Experiências entre 500 e 750 euros por semana

O camião foi, pela primeira vez, para a estrada em finais de julho deste ano e partiu de Espanha, onde esteve em dois festivais. Depois, percorreu a Costa Vicentina, fazendo uma média de 300 quilómetros por semana. O hotel oferece vários pacotes, que podem ir dos 500 aos 750 euros por semana, por pessoa, dependendo também da época. Partem apenas com o mínimo de três hóspedes. De domingo a domingo, um novo grupo instala-se e escolhe entre as atividades de aventura, de surf guiding ou aulas de surf. Os pacotes incluem ainda o pequeno-almoço e o transporte por mini bus até aos locais onde as atividades se realizam.

A cada semana, parte um novo grupo. Já as peripécias são diferentes todos os dias. Os cenários, também. Daniela e Eduardo já passaram por percursos enlameados, cheios de obstáculos e floresta, e o GPS já os conduziu por caminhos onde até de carro sentiriam medo, mas o espírito de aventura e de descoberta fala sempre mais alto.

Para abraçar o projeto, o casal tirou a carta de pesados e abdicou da casa onde vivia. Mas dizem valer a pena, só pelo prazer de apreciar “paisagens diferentes todos os dias”.

Além disso: “se nos chateamos com o vizinho, no dia seguinte vamos embora”, dizem, entre risos. De mãos dadas e sobre rodas, Daniela e Eduardo não se importam de remar contra a maré. Adotaram um novo estilo de vida, em que a monotonia não tem lugar. “A maior aventura agora vai ser em Marrocos”, mas já estão a sonhar com novas rotas para o próximo ano. Para eles, o limite não é o céu, é a terra, mas ainda há muitas por conhecer. O conta-quilómetros só agora começou a trabalhar e há muitas estradas por percorrer.

Artigo editado por Filipa Silva