O desaire caseiro frente aos turcos do Besiktas ainda ecoava pelo balneário portista. Agora, frente a um adversário teoricamente mais difícil, Sérgio Conceição prometia concentração máxima para partir do principado com os três pontos assegurados frente ao campeão gaulês. O Mónaco, apesar do empate diante do RB Leipzig na primeira jornada, apresentava-se como o maior desafio da equipa azul e branca na fase de grupos. O passeio pela liga francesa e as goleadas distribuídas pelos seus adversários mostravam o bom momento de forma da formação de Leonardo Jardim.

A verdade é que na guerra pelo trono do Louis II, o FC Porto levou a melhor. A reedição da final da Liga dos Campeões de 2004, desta vez em solo monegasco, apresentou igual placar. Num jogo em que se destacou o equilíbrio entre ambas as equipas em termos de posse de bola e ataques, as disparidades fizeram-se notar nas intenções de golo e, claro está, na sua eficácia. Com a novidade de Sérgio Oliveira no meio-campo, os azuis e brancos superiorizaram-se nas oportunidades e nos golos. Aboubakar mostrou a falta que fez no Dragão há duas semanas com dois tiros certeiros. Já Layún integrou a excursão mexicana que deu “check-in” na segunda parte portista e selou a goleada no principado.

Chegar ao pódio sem acelerar

A primeira parte foi marcada por um grande equilíbrio de ambas as equipas, com um futebol bastante disputado a meio-campo, ataques rápidos de ambos os lados e poucas ocasiões flagrantes de golo. O FC Porto demorou a encarrilar nos primeiros minutos e o Mónaco aproveitava para ameaçar a baliza portista. A bola chegara mesmo a resvalar a barra da baliza de Casillas, embora se tratasse de uma falta: Diakhaby “chutou” a bola com o braço.

Aos poucos e por intermédio da irreverência de Brahimi e da caixa de mudanças infindável de Marega, os azuis e brancos iam reconhecendo o último terço do território inimigo, até que à meia hora de jogo a armada portista conseguia conquistar a baliza monegasca. Após lançamento de Alex Telles para a grande área adversária, a bola sobrevoa a zona depois de um desvio de Marcano e sobra para Danilo, que à entrada da área remata com força, para defesa improvisada de Benaglio. Ainda sem dono, a bola encontra o pé esquerdo de Aboubakar que, demasiado afinado, atira contra o guardião monegasco. Apenas à segunda tentativa, e de pé direito, o camaronês resolveu a jogada. Uma bomba para a baliza da equipa de Leonardo Jardim.

Depois dos festejos de Aboubakar perto dos adeptos portistas, o Mónaco tentava responder, sempre com Falcao como referência no ataque, mas sem sucesso. Até ao final da primeira parte, a formação da Invicta conseguiu gerir a posse de bola e desacelerar as intenções de golo monegascas.

Cruzar a meta na frente sem precisar das ‘boxes’

A substituição de cariz ofensivo ao intervalo é feita pelo Mónaco, mas são os dragões que ameaçam mais na segunda parte. Embora o início do segundo tempo tenha sido um espelho dos 45 minutos passados, o FC Porto viria a, gradualmente, construir um maior caudal ofensivo. Aboubakar e Marega tentavam responder aos passes de Sérgio Oliveira e Brahimi, sem grande sucesso.

Aos 69 minutos, os portistas uniam-se numa ode ao futebol. A jogada começa desde trás, com Herrera a roubar o bem mais precioso aos príncipes e a deixá-la para Brahimi começar o seu espetáculo de ilusionismo. O mágico portista tira um adversário da frente e faz um passe teleguiado até aos pés de Marega. O maliano, com espaço para progredir no flanco direito, meteu a quinta e ia observando o rival pelo espelho retrovisor. Atingindo a grande área do Mónaco, sai o passe rasteiro e com sentença de morte para Aboubakar. O camaronês desta vez não precisou de recarga. De primeira, bate o guarda-redes suíço, sem quaisquer hipóteses de defesa. Dois tiros certeiros no alvo e o FC Porto estava cada vez mais próximo de assegurar uma vitória preciosa.

Com as substituições, os dragões relaxam e retiram o pé do acelerador. O Mónaco aproveita a situação e, logo no momento seguinte, atinge a barra da baliza de Iker Casillas. Após um cruzamento de Lemar, Radamel Falcao, conhecido dos portistas, foge à marcação de Marcano e beija a bola. Tal carinho não foi suficiente para fazer balançar as redes, pelo que bateu com estrondo na barra. Passavam os calafrios para a defesa portista.

Quando os monegascos estão instalados no meio-campo azul e branco, a comitiva da Invicta vê a oportunidade perfeita para congelar o estádio Louis II. Num ataque rápido, Corona centra a bola em esforço, em cima da linha final. Sobrevoando meia defesa do Mónaco, Marega é presenteado com tal oferenda e não faz quaisquer cerimónias: o remate é imediato, mas Benaglio consegue conter a tentativa do africano. Mesmo assim, a bola teimava em sair da área dos monegascos e passeava ainda pelos pés do maliano, que não a conseguia controlar de maneira eficaz. Herrera aparece para o ressalto e domina o esférico. Numa tentativa de serpentear o guardião, o mexicano perdia a bola, mas mais uma vez esta rolava pela área. Marega, numa última estirada, consegue deixar a bola para Miguel Layún. O lateral portista, diante dos postes, não teve quaisquer problemas em encostar para o terceiro golo dos azuis e brancos. Estava assim consumada a goleada.

“Queríamos voltar a dar a imagem forte do FC Porto na Europa”

Sérgio Conceição mostrou-se naturalmente satisfeito com o resultado final. O técnico azul e branco considerou que a sua equipa fez um jogo “bem conseguido” e que a atitude dos seus jogadores foi fulcral para a vitória: “Quando começou o jogo, deu logo a ideia de que seria muito difícil perdermos, da forma como estávamos em campo, com uma atitude diferente, uma dinâmica diferente que resultou em campo”, aferiu o líder do FC Porto.

O treinador dos dragões mostrou-se também muito contente com o trabalho feito pelos jogadores, atribuindo-lhes todo o mérito, num jogo frente “a uma grande equipa, de grande qualidade”. Contudo, o técnico procurou não hiperbolizar o significado desta vitória, salientando, à semelhança do discurso de Leonardo Jardim, a dificuldade do grupo: “Se não éramos a pior equipa do grupo quando perdemos com o Besiktas, não somos agora os melhores do mundo por ganharmos aqui ao Mónaco por 3-0”, afirmou Sérgio Conceição.

No final, a sensação é o de dever cumprido: “Queríamos voltar a dar a imagem forte do FC Porto na Europa e hoje foi uma demonstração inequívoca da força do FC Porto e dos adeptos”. O treinador que também não deixou de agradecer o apoio dos mais de 1.400 adeptos portistas no Estádio Louis II: “Se fechasse os olhos, pensava que estava a jogar em casa”, disse o timoneiro da formação portista.

“O Porto hoje foi melhor nos vários capítulos do jogo”

Leonardo Jardim, técnico madeirense dos monegascos, admitiu a superioridade dos azuis e brancos em conferência de imprensa: “O Porto hoje foi melhor nos vários capítulos do jogo, principalmente na agressividade e nos duelos”. O treinador, que está na sua quarta época na liderança da equipa do principado, reconheceu também que todas as comitivas do Grupo G têm “grande qualidade, intensidade e agressividade”, tornando-se num grupo “bastante equilibrado”.

Em relação à próxima partida, com o Besiktas, Leonardo Jardim especificou que o objetivo é ganhar para “continuar a trabalhar” e atingir o objetivo principal: a qualificação para a fase seguinte da Liga dos Campeões.

Pode ver aqui o vídeo com a conferência de imprensa na íntegra dos dois treinadores portugueses após a partida:

O FC Porto conquista assim os três pontos e ascende ao segundo lugar do grupo, graças essencialmente a uma exibição de gala do ataque. O placar final dava uma sensação de “dejá vu” para os dragões, um pesadelo para a equipa de Rony Lopes, João Moutinho e Falcao, que caiu para a última posição da tabela, com apenas um ponto. Na próxima jornada, o FC Porto desloca-se até Leipzig, enquanto o Mónaco recebe em casa os turcos do Besiktas, líderes neste momento, após uma vitória caseira sobre os alemães (2-0).