Para perceber qual o problema que mais aflige os vendedores do Mercado da Foz, não é preciso muito. Basta meter-se num carro e tentar estacionar nas imediações. Para facilitar a vida à clientela que não se possa deslocar a pé, os vendedores fazem quanto podem.

A dona Adusinda – “Adusinda com ‘ésse’” – explica como: “Às vezes vou lá fora levar as encomendas, mas já aconteceu uma cliente que estava parada levar uma multa, veja lá! Por isso é que as pessoas vão aos Pingos Doces e assim. Têm lá onde estacionar”.

Adusinda está há 10 anos no Mercado da Foz.

Adusinda está há 10 anos no Mercado da Foz. Foto: Filipa Silva

Guilherme Braga que é cliente no mercado há 20 anos concorda. Mas acha que faltam outras coisas ali: “A cobertura é um nojo. E precisa de animação. Você vai à Boqueria, em Barcelona, e há bares e restaurantes. Tem uma vida própria”.

Claro que o Mercado da Foz tem os seus trunfos. Guilherme Braga tem-nos na ponta da língua, ou não estivesse a meio de uma empada: “A comida [do take away] da senhora Adusinda, as bolas de Berlim do senhor David, a peixeira” que também serve bem e, viemos mais tarde a saber, as pizzas lá do fundo com uma massa “tão fininha que mais parece uma folha de papel”.

A pizzaria está ao fundo do Mercado da Foz.

A pizzaria está ao fundo do Mercado da Foz. Foto: Filipa Silva

O mercado tem também uma nova entrada – obra do atual executivo da junta, liderado por Nuno Ortigão Oliveira, eleito pelo movimento de Rui Moreira em 2013 – e foi esta semana alvo de algumas pinturas, que a dona Adusinda apreciou.

Nessa entrada, esta quinta-feira o movimento era superior ao normal. Álvaro Almeida, o candidato do PSD/PPM à Câmara do Porto, foi lá fazer uma visita, acompanhado do candidato da mesma força partidária à junta de freguesia, Tiago Fonseca.

Depois de falar aos jornalistas, foi entrando loja a loja para cumprimentar os vendedores. Queixas recebeu-as sobretudo pelo problema do estacionamento. Foi no talho que a crítica saiu mais afiada. “Se eu não tivesse onde estacionar, até eu ia a outro lado. Temos duas paragens de Táxi que ocupam 200 metros de estacionamento”, criticou o comerciante.

Álvaro Almeida ripostou com uma das suas propostas eleitoriais: “Uma das coisas que propomos para facilitar a vida dos comerciantes é que os primeiros 15 minutos do estacionamento sejam gratuitos para que os portuenses possam parar nos locais de estacionamento pago para fazer uma recolha de uma encomenda, para entregar as crianças, para qualquer coisa rápida que lhes permita manter o dia a dia”, referiu.

De resto, não se falou muito mais de comércio tradicional. Falta um dia para encerrar a campanha e o tempo vai sendo de balanços.

O professor universitário mantém a confiança num “excelente resultado” apesar das sondagens apontarem o contrário. “Por onde andamos fomos bem recebidos e por isso estamos convencidos que no domingo vamos ter um excelente resultado e que o PSD vai continuar a ser uma força importante na cidade”, declarou.

Em caso de não ser eleito presidente, mantém que ficará na autarquia como vereador sem pelouro. Cenários de coligação não é assunto para o momento, a promessa que deixa é que o PSD não vai ser uma força de bloqueio à governação do município.

O mercado é pequeno. A volta faz-se com relativa rapidez. Ali onde há opções vegan e de pastelaria fina a conviver com a tradicional florista e o sempre útil sapateiro, o ambiente de tranquilidade não se altera muito com a campanha.

Mas na presença de tanta comunicação social – “a dificuldade, se alguma temos tido, e hoje é claramente uma exceção, é que não nos deram tempo de antena”, queixar-se-ia Álvaro Almeida à chegada –, não deixou indiferentes os clientes. “A menina é sa TSF? Amanhã vem cá a TSF?” Confirmamos que não, não somos da rádio, mas sim, esta sexta-feira terão uma equipa da TSF em direto daquele mercado, na última manhã dedicada pela estação às autárquicas.

A caravana do “Porto Autêntico” dispersa. Achamos que “as melhores bolas de Berlim do Porto” não podiam ali ficar sem prova. Entramos uma última vez na loja do senhor David. Tem ali mercearia aberta há nove anos. “Mercearias há muitas”, explica-nos, pelo que procurou “um elemento distintivo” para a sua.

“As pessoas que compram Skip compram-no igual em todo o lado. Temos que ter qualquer coisa que faça com que elas queiram vir aqui”, diz-nos. No seu caso, são as bolas de Berlim. Vai buscá-las à Aguda.

"As melhores bolas de Berlim do Porto" vendem-se na mercearia do senhor David.

“As melhores bolas de Berlim do Porto” vendem-se na mercearia do senhor David. Foto: Filipa Silva

O que pediria a um candidato à câmara? “Que ajudassem a preservar o comércio tradicional. Não tenho nada contra as grandes superfícies, mas acho que não deviam deixar que se proliferem como cogumelos. Fazem falta na exata medida da necessidade. O Porto sempre foi uma cidade de comércio tradicional mais do que qualquer outra.”

Não resistimos à prova. Uma bola pelo preço de 90 cêntimos e a segurança de que a publicidade não é aqui enganosa.

A campanha encerra esta sexta-feira com Álvaro Almeida a contar com a presença do líder dos sociais-democratas, Pedro Passos Coelho, que vem ao Porto para acompanhar o candidato do PSD/PPM numa reunião na Reitoria da Universidade do Porto, às 15h00, seguida de uma subida à Torre dos Clérigos.

As eleições autárquicas estão marcadas para o próximo domingo dia 1 de outubro.