Em dia de eleições, as bancadas do Estádio José Alvalade encheram para acolher o primeiro clássico da época, que colocou frente a frente FC Porto e Sporting. Para a armada nortenha, invicta à entrada para a oitava jornada da Liga NOS, estava em causa a liderança. O ciclo de vitórias dos dragões para o campeonato acabou interrompido, mas o nulo registado este domingo foi suficiente para segurar o primeiro lugar.

Azul intenso

A tática que garantiu ao Porto a coroa de príncipe no Mónaco repetiu-se. As peças de xadrez utilizadas pelo Sporting frente aos catalães também pouco mudaram. Ainda assim, nem tudo foi igual. Era nas laterais que estavam reservadas as surpresas do início da noite: Layún de um lado e Jonathan Silva do outro.

Coube mesmo ao mexicano lembrar que o Porto se deslocou a Lisboa para manter o estatuto de líder. Canto, remate e defesa fácil para Patrício. Sérgio Oliveira seguiu-lhe a moda e tentou a sua sorte, mas falhou. Brahimi e Aboubakar também. Algumas trocas de bola depois, o argelino descobre o camaronês que à entrada da grande área roda sobre a bola, já com a baliza como alvo, mas o remate cruzado falha a baliza.

Nos primeiros 20 minutos, a pressão do FC Porto no meio-campo adversário esteve em evidência. Com bola, foi a dupla Brahimi-Aboubakar a voltar a mexer com o jogo. Mesmo com visibilidade reduzida, as luvas de Patrício seguraram firmes o remate que saiu das chuteiras de Brahimi. O homem perdia-se em fintas, em trocas e baldrocas na área, sempre com os olhos postos nas linhas de passe. O jogo estava a compensar o preço de cada assento.

O perigo esteve quase sempre ao serviço dos rapazes de Sérgio Conceição. E, por isso, no relvado a voz de Jorge Jesus fazia-se ouvir. Procurar mais a bola e a profundidade eram as ideias. Contudo, só houve tempo para o cabeceamento em altura de William. O cruzamento foi de Bruno Fernandes. Luvas de Casillas esticadas e bola rente à trave. O contra-ataque portista ganha dimensão com a assistência de Marcano a Marega. O francês cabeceia à trave. No ressalto, Aboubakar permite defesa fácil a Patrício.

Soou o apito para o intervalo. Em 45 minutos houve mais “pormaiores” do Porto e menos do Sporting.

Reviravolta sportinguista sem volta a dar ao marcador

Adrien Silva foi ao relvado dizer obrigado aos adeptos do Sporting. O aplauso acabou por ser retribuído pelos adeptos em letras gigantes: “Obrigado capitão Adrien Silva”. Os filhos estavam lá para partilhar com o pai a homenagem meritória pelos 241 jogos que fez com a camisola dos leões. Nem se notou o impasse na transferência do médio para o Leicester.

O Sporting entrou no segundo tempo decidido a fazer notar-se. A sequência de cantos e livres evidenciava-se tanto como a intenção que o mister Jesus tinha em relação a Gélson procurar zonas centrais e Bruno Fernandes se colar a William.

Ao 56′, Bruno Fernandes ultrapassa Sérgio Oliveira, desmarca Gélson Martins que, de calcanhar, deixa para Jonathan Silva. que cruzou para a grande área. Faltaram alguns centímetros para Bas Dost finalizar.

O holandês primeiro e Bruno Fernandes depois, na sequência de uma perda de bola de Danilo em zona proibida. Uma asneira que não deu para o torto porque o reforço dos leões rematou forte, mas por cima. A estratégia de Jorge Jesus deixava o Sporting com maior rendimento face aos espaços abertos criados pelo Porto. Até porque mais erros individuais portistas permitem maiores desequilíbrios.

A assinalável exigência física da primeira metade não perdoou. O cansaço disse presente entre leões e dragões. Danilo, um dos motores amarelados do meio-campo, não podia sair na pressão individual porque o risco de ver o segundo amarelo era grande. E, é por razões como esta, que Sérgio Oliveira esteve lá ao pé.

Para fazer frente ao desgaste chama-se Marega. A oportunidade para os dragões começou muito antes do avançado tocar a bola. Acredite-se ou não houve um desencontro de ideias entre a equipa de arbitragem, porque não se sabia ao certo se a bola tinha ou não ultrapassado a linha lateral numa jogada entre Acuña e Brahimi. O avançado assumiu que sim e repôs rapidamente a bola. O lançamento chegou a Otávio, que fez o passe para Marega testar a atenção de Rui Patrício.

Inaugurar o marcador estava difícil para uma e outra formação. Mais para o Porto porque chegava a conta gotas à área do Sporting. Ou seja, era preciso resgatar a posse de bola e fazer fluir o bloco ofensivo. Nesse aspeto, William cresceu para o dobro do tamanho para estar em cortes providenciais, subir no terreno e distribuir jogo.

O vislumbre do empate era, cada vez mais, uma certeza. E, nos últimos minutos, só Layún tentou o golo de livre. A bola atravessa a barreira, mas dá tempo a Patrício para agarrar. A expectativa era visível tanto no relvado como nas bancadas.

O empate sem golo num clássico à moda antiga terminou com um abraço entre dois velhos conhecidos: Sérgio Conceição e Jorge Jesus.

O FC Porto mantém a liderança da Liga NOS com dois pontos de vantagem sobre os leões à oitava jornada. O próximo compromisso dos dragões é frente ao Lusitano de Évora para a Taça de Portugal. O Porto só volta a jogar para o campeonato a 21 de outubro, em casa, diante do Paços de Ferreira.

“Vamos ser campeões”

Na antevisão ao clássico, Sérgio Conceição vincou a ideia de que “cada jogo tem a sua história” e este não foi diferente: “por tudo aquilo que fizemos foi uma primeira parte muito sólida, muito madura. No momento de definição poderíamos ter sido mais rápidos a decidir, mais objetivos.”

O rendimento acima da média da formação nortenha nos primeiros 45 minutos foi descrito pelo treinador como uma “primeira parte fantástica.” Sobre os outros 45, Sérgio assumiu que “houve um certo relaxar de forma inconsciente”, muito devido à exibição inicial.

Os dois pontos perdidos em Lisboa, não foram um problema para Sérgio e a sua turma: “fomos uma equipa dominadora e os jogadores não ficam abalados com o empate”. “Vamos ser campeões. Continua o mar azul”, rematou.

“Foi um excelente espetáculo”

Para Jorge Jesus o encontro foi “taticamente bem disputado”. Com “duas partes distintas. Uma primeira parte melhor o Porto, uma segunda parte melhor o Sporting”. Após o intervalo, o técnico sublinha que, “houve muito poucas oportunidades de golo” para as duas equipas. “Não porque os jogadores do Porto e Sporting não tenham a qualidade ofensiva e defensiva, mas porque as organizações defensivas são muito boas. E daí o 0-0.”

De acordo com a análise de Jorge Jesus, “a oportunidade” do Sporting melhorar como equipa chegou com a abertura do corredor central: “ao longo do jogo começou a haver mais espaço e o Bruno Fernandes e o Battaglia começaram a aparecer um bocadinho mais”. “A entrada do Bruno César foi, também, determinante para equilibrarmos o jogo no meio-campo, porque não tínhamos bola.”

“Foi um excelente espetáculo. Não é só quando se faz golos que o espetáculo pode ser contabilizado”, concluiu Jorge Jesus.

Artigo editado por Filipa Silva