Em Vila Verde quem manda é o Vilaverdense. O emblema da vila minhota eliminou o Boavista na terceira eliminatória da Taça de Portugal (1-0) e não deixou ninguém esquecer que, no futebol, os pequenos também podem ser grandes.

Surpresa, surpresa

O Campo da Cruz de Reguengo fazia lembrar futebol à moda antiga. É que além das bancadas preenchidas, havia ainda uns quantos adeptos empoleirados nas grades para não faltar ao encontro.

No relvado, esteve tudo muito embrulhado a meio-campo até à dezena de minutos. As investidas aqui e ali do Vilaverdense eram contrariadas pelos onze homens de Jorge Simão que, recuperando o domínio da bola, deixavam avisos claros de perigo aos minhotos. Prova disso é que, à passagem do minuto 10, a trave da baliza de Pedro Freitas negou o golo a Rui Pedro.

Mesmo assim, as oportunidades para cada uma das equipas inverteram-se ao longo do tempo. Um cabeceamento de José Pedro e um remate fora da área da autoria de Fábio Espinho iam dando dinâmica à eliminatória.

O relógio aproximava-se a passos largos do intervalo quando, nas bancadas, se gritou golo para os da casa. Ahmed converteu um livre na esquerda e o central Rafael Vieira, ao segundo poste, deu-lhe a melhor finalização. Em cima dos descontos, o Vilaverdense adiantou-se no marcador e eram os de verde e branco a fazer a festa.

Pressão boavisteira sem efeito

Os onzes regressavam do balneário com afazeres distintos. Por um lado, o Vilaverdense procurava dar mais um passo feliz na competição. Por outro, o Boavista reentrava em campo com a responsabilidade de justificar o favoritismo de clube da primeira liga.

Sem oportunidades flagrantes de golo, os nortenhos pressionaram alto e já iam no oitavo canto para a grande área. Rui Pedro ainda tentou o cruzamento para Mateus empatar o encontro, mas o angolano não chegou onde devia. A bola saiu pela linha de fundo e o marcador manteve-se inalterado.

Os axadrezados carregaram nas linhas ofensivas e já eram donos dos últimos trinta metros do terreno. Só que o clube do terceiro escalão ia aguentando como podia até ao final: mantendo o bloco médio-baixo coeso para segurar a vantagem pela margem mínima.

Os cinco minutos de compensação do Vilaverdense FC – Boavista FC descrevem-se assim: Rui Costa, líder da equipa de arbitragem, expulsou Jorge Simão por protestos; Vagner foi mais um avançado no último canto do Boavista; Rui Pedro viu cartão amarelo e a euforia da vitória ficou para os adeptos da casa.

Na histórica receção do Vilaverdense a um emblema do principal escalão do futebol português, um golo sem resposta deu ao clube da vila a terceira vitória consecutiva na Taça de Portugal e o primeiro passaporte para a quarta eliminatória da prova. Costuma dizer-se que à terceira é de vez.

A prova-rainha do futebol português vai sorrindo aos vilaverdenses. O plantel de António Barbosa afastou da Taça de Portugal o Bragança (2-0), o Esmoriz (0-1) e o Boavista (1-0). Já o clube de Bessa, está afastado da Taça da Liga (foi eliminado pelo Sp. Braga) e agora da Taça de Portugal. Sobra o campeonato para os homens de Jorge Simão.

“O sonho fica para trás”

Jorge Simão assumiu que tinha a ambição de chegar mais longe na Taça de Portugal: “Encarámos este jogo com responsabilidade e seriedade. Por aí, não há nada que se possa tocar nos jogadores. Corremos, trabalhámos, tentámos de todas as formas.”

Em Vila Verde, o técnico axadrezado reconheceu o momento menos bom da equipa, mas defende que o pensamento tem de estar nos próximos jogos. “É um momento duro, difícil, mas no futebol não há equipa nenhuma que não passe por momentos destes. A questão que se coloca é a reação que vamos ter de ter, é isso que me preocupa. Há muita coisa ainda para se fazer nesta época. A Taça de Portugal fica pelo caminho, o sonho fica para trás, o nosso e o dos adeptos que foram incansáveis no apoio à equipa.”

“Foi histórico o que fizemos”

Após o apito final no encontro, António Barbosa, técnico do Vilaverdense, não escondeu a satisfação pela passagem à quarta eliminatória da Taça de Portugal: “Estou muito feliz essencialmente por ver a felicidade dos jogadores. Acreditámos sempre desde o início, este grupo é especial. Foi histórico o que fizemos, porque é a primeira vez que o clube chega a esta eliminatória.”

A vencer pela margem mínima ao intervalo, o treinador reforçou a defesa para garantir a vitória: “não conseguimos bloquear a saída do Boavista, por isso reforcei a defesa com a entrada de um central para os cruzamentos”. Táticas de um clube que quer “ganhar em todos os campos e contra qualquer adversário. Quando ganhamos ficámos contentes, mas não somos a melhor equipa do mundo, assim como quando perdemos não somos a pior”, remata o técnico.