As consequências de um fenómeno natural violento são inúmeras e variadas, mas, independentemente do grau de destruição e da região afetada, o que nunca falta é a necessidade de reconstrução.

Estar à altura desse desafio é uma tarefa que pode implicar a mobilização de milhares de pessoas e, entre elas, até mesmo no outro lado do mundo, é possível encontrar um rosto português: Inês Silva tem 27 anos, é natural de Santa Maria da Feira e encontra-se atualmente no México envolvida em projetos de reabilitação do país que foi afetado por vários sismos durante o mês de setembro.

A sua ida para o México aconteceu por acaso. Depois de terminar os estudos sentiu dificuldades em arranjar trabalho na Dinamarca, onde realizou o seu mestrado em Cultura, Comunicação e Globalização, com especialização em Relações Étnicas. A licenciatura completou-a na Universidae de Coimbra, onde cursou História da Arte.

Voltou para Portugal ao mesmo tempo que esperava os resultados de candidaturas a diversos projetos em várias plataformas e com aplicação em diferentes países. O México confirmou-se como destino quando, através da AIESEC, foi aceite num plano de investigação que pretendia estudar o relacionamento entre o passado colonial da região e a sua influência na sociedade atual.

Em entrevista ao JPN, Inês explica que esse projeto está suspenso e que atualmente se dedica inteiramente aos planos de reconstrução das zonas mais afetadas pelos dois grandes abalos que se fizeram sentir a 7 e 19 de setembro no território mexicano, com magnitudes de 8,2 e 7,1 na escala de Ricther. Aquando do primeiro sismo, a jovem ainda se encontrava em Portugal, mas diz nunca ter ponderado cancelar a sua ida para o país afetado e adianta que também não o tenciona abandonar agora.

Penso que poderei ajudar e ir embora nunca me ocorreu.”

Quatro dias depois da sua chegada ao México, a terra tremeu novamente e o caos instalou-se. A voluntária portuguesa confessa o choque que foi sentir o chão a abanar e observar os edifícios ruídos à sua volta: “Estava dentro de um café, um dos meus colegas agarrou-me e levou-me lá para fora. Demorei algum tempo a perceber o que se passava, tudo tremia. Tenho a imagem de um autocarro a baloiçar à minha frente, totalmente descontrolado… só esperei que parasse.”

Seguiram-se horas de muito trabalho e noites de pouco sono. Dias depois, as pessoas estão esgotadas e, em momentos como este, há sempre um sentimento de frustração presente: “O descanso não tem sido muito e as tarefas são variadíssimas. Desde separar e empacotar roupa, até à organização do nosso pequeno espaço de apoio, distribuição de comida e medicamentos”, conta a voluntária ao JPN.

As réplicas fizeram-se sentir durante algum tempo em várias regiões. Inês conta que ainda é acordada pelo alarme de emergência. Teme um novo terramoto, mas acredita que a sua colaboração é importante demais para se ir embora: “No futuro não sei como será, mas a experiência diz-me que estes são projetos longos e que precisam de ser bem estudados de forma a que a sua implementação seja eficaz”.

Apesar de tudo, já se ultrapassou o caos inicial e os danos nas construções não são especialmente significativos, visto que “as zonas mais afetadas foram as mais pobres e junto da costa” e, nas restantes áreas, os poucos edifícios que ruíram já foram limpos ou vedados. Neste momento “o maior problema é o realojamento de quem perdeu casas” porque, apesar da grande união entre as pessoas, da ajuda dos abrigos temporários e até dos hotéis que disponibilizaram instalações, “recomeçar do zero é difícil para aqueles que perderam tudo”.

Os avanços estão a acontecer, mas o seu ritmo é comprometido pelo financiamento e recursos estatais que tardam em chegar. A falta de proatividade do Governo mexicano coloca ainda mais responsabilidade sobre os cidadãos e as ONG’s. “Como consequência, é visível uma união civil muito grande e há grupos de jovens dedicados a trazer a mudança ao país, tentando mostrar que independentemente do financiamento ou apoios governamentais, é possível reedificar o país e unir os seus cidadãos”.

Agora, é preciso criar um plano viável e de baixo custo através de técnicas de bioconstrução que resistam em caso de um novo terramoto. Estes momentos são peculiares e o auxílio requerido é muito específico. Só a implementação de um projeto bem estruturado é que permitirá que um país se erga dos estragos deixados pela força da natureza.

Mas esta não é a primeira vez que Inês se envolve em ações de voluntariado. Como parte integrante dos seus estudos na Universidade de Aalborg, na Dinamarca, a portuguesa associou-se à The Mountain Trust, uma ONG focada no Nepal com o objetivo de ajudar as pessoas que carecem de acesso à saúde, educação e a direitos humanos. Partiu para o país asiático como voluntária e lá, entre outros projetos, participou na reconstrução ambientalmente sustentável de uma aldeia e de uma escola, ambas afetadas pelo terramoto que ocorrera um ano antes.

Mulher nepalesa Fotografia de Inês Silva

“O Nepal, um dos países mais pobres do mundo, é um lugar onde vivem algumas das pessoas mais gratas, mais simples e mais humanas. Pessoas que embora não tenham absolutamente nada, te dão tudo… sempre com um sorriso, uma porta aberta e um sentimento de honestidade.” Mesmo em momentos de dificuldade, os nepaleses deixam-se guiar pela sua fé e religiosidade. Têm uma perspetiva sobre a vida muito diferente da dos portugueses e, afirma, “não sendo nem melhor, nem pior, é, em si, única e extremamente bonita.”

 “Se agirmos como um todo, dando e retirando em igual medida, criamos um mundo mais justo, mais comunicativo e onde o outro é também importante.”

As ações no México ainda são muito recentes, mas o Nepal ensinou a Inês que os portugueses são pessoas muito privilegiadas: “temos tudo e esquecemo-nos de agradecer por isso”. É preciso ajudar aqueles que não se conseguem reerguer sozinhos de algo tão catastrófico como um terramoto, mas sem se desrespeitar as suas culturas e tradições, bem como os seus valores: “Estávamos lá para os ajudar a construir aquilo que queriam de forma mais durável, resistente e segura. Acho que conseguimos! No final, as casas integraram-se perfeitamente na paisagem e mantiveram os valores da arquitetura nepalesa”.

Da parte de Inês, fica o apelo à pratica do voluntariado, “ele tem muitas formas e pode ser levado a cabo por qualquer um no seu dia a dia. Não precisa de ser transatlântico para que tenha valor”, observa.  A melhor maneira de se mostrar que a comunidade é importante, é contribuir com ajuda em momentos de dificuldade.

“Se agirmos como um todo, dando e retirando em igual medida, criamos um mundo mais justo, mais comunicativo e onde o outro é também importante”, conclui.

Artigo editado por Filipa Silva