A Liga dos Campeões tem sido uma espécie de montanha russa para o FC Porto. Muitos golos marcados e sofridos nos três encontros já realizados, com resultados saídos a papel quí­mico de cada exibição. Esta terça-feira, a equipa portuguesa saiu da Alemanha com uma derrota que complica as contas do apuramento.

De forma geral, foi um dia para esquecer para os ‘azuis e brancos’. O jogo em Leipzig evidenciou fragilidades dos jogadores comandado por Sérgio Conceição, dos que jogam e, sobretudo, dos que saem menos do banco. O treinador que no dia anterior disse que não é “pago para fazer surpresas” fez duas alterações no onze, que se revelariam marcantes. Ricardo Pereira vinha com bom ritmo desde o início da temporada, mas sentou-se para dar o lugar a Miguel Layún. Mas a grande novidade foi a aposta em José Sá que se estreou em jogos da Liga dos Campeões, relegando Iker Casillas para o banco.

Antes do jogo, houve ainda tempo para um minuto de silêncio, escrupulosamente cumprido, em memória das vítimas dos incêndios em Portugal.

E foi mesmo pelo guarda-redes português que a ‘porca torceu o rabo’. Aos 8′, e a remate do compatriota Bruma, Sá não encaixa bem o remate e permite que Orban inaugure o marcador. Estava feito o 1-0, com a equipa portuguesa a abrir várias brechas na defesa e a não acertar as marcações.

Mas durante a primeira parte, os vice-campeões alemães não mantiveram no setor defensivo o mesmo ní­vel de rigor e solidez que mostravam no ataque. Exemplo disso foi a resposta do FC Porto. Aos 18′, Aboubakar restabelece a igualdade no placard. Golo magistral do avançado camaronês. Depois de um lançamento lateral longo de Layún e de uma bola dividida e ganha por Marcano, o camisola 9 rematou a meia volta, com o pé esquerdo.

Apesar do golo, os portistas pareciam perros. Faltou sempre um elo de ligação entre o ataque e a defesa. É como quem diz que faltou meio-campo, e o Leipzig aproveitou essa situação. Os níveis de posse de bola foram sempre favoráveis aos alemães, o controlo geral da partida já não mais lhes fugiu das mãos e apesar de pontuais lances mais audazes do adversário, o 2-1 chegou aos 37′ sem surpresa. Mais um lance de má marcação do Porto e Forsberg não desperdiçou.

O surpreendente foi mesmo a rapidez com que os visitados chegaram ao 3-1. O descontrolo era notório. As investidas chegavam à área visitante sem descanso. Os jogadores do FC Porto não conseguiram fazer com que a bola saísse em sua posse após o meio campo. E foi numa perda de bola de Marcano que Augustin faz o terceiro golo do Leipzig.

Os alarmes começavam a soar: iria a equipa sofrer mais um resultado pesado como a derrota em casa frente ao Besiktas?

Ainda antes do intervalo, o resultado foi, contudo, atenuado. Marcano redimiu-se aos 43′, concretizando o canto batido por Alex Telles. O golo prometia uma resposta portista na segunda parte, mas o resultado não mais se alteraria.

Sem lutar verdadeiramente pela vitória

Na segunda parte, era intenção portista virar o resultado. A derrota colocaria a equipa no terceiro lugar do grupo, ultrapassados exatamente pelo oponente da partida. Mas para isso, tudo teria de funcionar de forma mais fluída, mais rápida, mais concretizadora – melhor, no geral. Uma das chaves para o sucesso poderia passar pela reforma do meio-campo. Talvez alguém mais veloz, mais atacante e mais fresco. Sérgio Conceição chamou do banco Óliver Torres aos 57′ e tirou Sérgio Oliveira, que tinha acabado de levar um amarelo.

Mas não foi o suficiente. Apesar do FC Porto ter conseguido disputar mais o jogo, e mesmo assumindo a espaços o controlo do jogo, o resultado nunca esteve em causa no segundo tempo. De nada trouxe a troca de Corona por Brahimi aos 75′ nem a de Hernâni por Herrera aos 81′.

Brahimi, Aboubakar e Alex Telles foram dos mais inconformados. Mas o FC Porto perde o jogo, fundamentalmente, na organização defensiva. O meio-campo, composto por Danilo Pereira e Sérgio Oliveira, foi por várias ocasiões anulado em contra-ataques alemães. Os defesas Felipe e Marcano falharam decisivamente em acompanhar os atacantes. Há, inclusive, um lance belí­ssimo protagonizado por Augustin aos 13′ em que de uma assentada ultrapassa os centrais portistas e por pouco não faz o golo da noite. Já os alemães, entusiasmados com a vitória sobre o Borussia Dortmund na última jornada da Bundesliga, colocaram o FC Porto a provar do mesmo veneno. Liderado pelo técnico Ralph Hasenhuettl, o RB Leipzig foi um exemplo de como bem atacar e asfixiar o adversário. No entanto, tremia sempre que os portugueses chegavam à sua baliza. Com alguma sorte, talento e ideias bem definidas o resultado ajustou-se por inteiro à exibição das duas equipas.

“Tivemos alguns erros que não costumamos cometer”

Felipe foi o primeiro a falar à RTP após o encontro. O brasileiro ficou desiludido com o resultado, mas acredita na reviravolta na próxima jornada do grupo. “Temos que prestar mais atenção. [Na Liga dos Campeões] vamos encontrar equipas que sabem trocar bem a bola. Não podemos marcar um ou dois golos e sofrer três. Apesar de tudo, a equipa teve uma boa postura e manteve a pressão. Podíamos ter feito o empate, mas em casa o jogo será diferente”, declarou.

Sérgio Conceição reconheceu a justiça no resultado e apontou algumas falhas menos habituais como justificação do resultado. “Esta é uma equipa agressiva e poderosa. Cometemos demasiados erros, apesar do perigo que cada vez mais causámos. Tivemos alguns erros que não costumamos cometer. Perdemos contra uma equipa forte e o jogo em casa será bastante importante.”

Quanto às surpresas no onze, repetiu a frase-chave na última conferência de imprensa antes do encontro e garantiu que foi por preferência técnica que colocou José Sá a titular. “Disse-o na antevisão: não sou pago para fazer surpresas, sou pago para por a melhor equipa. Coube-me a mim escolher estes e hoje foi assim. Haverá jogos onde joguem outros, hoje o Casillas ficou no banco por opção.”

O FC Porto fica assim no terceiro lugar do Grupo G com três pontos, a seis do líder Besiktas que esta terça-feira derrotou o Mónaco em casa. O Leipzig é segundo, com quatro pontos e o campeão francês fecha o conjunto com apenas um ponto.

O próximo encontro dos dragões está marcado para sábado, às 20h30, contra o Paços de Ferreira no Estádio do Dragão. Volta a jogar na Liga dos Campeões, também no Dragão, no dia 1 de novembro, às 19h45, frente ao RB Leipzig.

Artigo editado por Filipa Silva