Lançado em 2004, o Programa Aconchego oferece um lar a jovens universitários e companhia aos mais velhos. O objetivo é combater a dificuldade em encontrar alojamento enfrentada pelos jovens que se deslocam para o Porto para ingressarem no ensino superior e, simultaneamente, diminuir o isolamento social dos munícipes com mais de 60 anos.
Raquel Castello-Branco afirma que o processo “é simples, embora rigoroso”. Com candidaturas abertas ao longo de todo o ano, os interessados passam por um processo de inscrição. Seguidamente, no caso dos seniores, é feita uma visita à habitação, de forma a avaliar a mesma e garantir que reúne condições para receber o estudante. No que aos jovens diz respeito, é necessária uma avaliação técnica do seu perfil. “Normalmente, as famílias de ambas as partes são consultadas nesta fase de avaliação”. Por fim, o objetivo passa por “encontrar a conjugação de par ideal, tendo em conta os dois perfis”.
Ao longo do ano letivo, uma equipa técnica da CMP leva a cabo visitas trimestrais que têm como objetivo monitorizar a situação e “avaliar se a convivência é saudável”. Existe também uma linha telefónica sempre disponível.
Terminado o ano, os estudantes têm a possibilidade de desistir do programa, mudar de alojamento ou permanecer na habitação do sénior que os acolheu, caso haja consentimento por parte deste.
Raquel Castello-Branco afirma que, na maioria das vezes, um estudante que adira ao programa no primeiro ano, termina a licenciatura na mesma casa. “Durante o mestrado, é também possível optar por esta solução”. Por outro lado, há igualmente casos de idosos que renovam a inscrição todos os anos e que já não abdicam da presença de um jovem na sua habitação.
A FAP é parceira deste projeto desde os seus primórdios, contribuindo para a divulgação do Aconchego junto dos jovens e estudantes universitários.
Quanto aos mais velhos, “a divulgação é mais complexa”. Segundo Raquel Castello-Branco, “o passa-a-palavra é o método mais eficaz de dar a conhecer o programa aos idosos”. Atualmente, a estratégia passa também por “sensibilizar os filhos para o projeto”, já que estes “são os primeiros a interessar-se por esta solução”. A divulgação é igualmente feita através das juntas de freguesia, paróquias e, num futuro próximo, das farmácias, passagem habitual para os seniores.
Mais mulheres entre participantes
A maioria dos idosos e dos estudantes é do sexo feminino e de nacionalidade portuguesa. Raquel Castello-Branco afirma que, em alguns casos, “existe um certo estigma das senhoras mais velhas em receber um jovem rapaz na sua casa”. Frases como “o que é que os vizinhos vão pensar?” são uma constante. Além disso, há ainda a ideia de que “as meninas são mais sossegadas e prendadas”.
No que diz respeito às jovens, há igualmente uma maior preocupação por parte dos pais em que elas tenham um ambiente seguro e familiar. Segundo a responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Social da CMP, a maioria das estudantes afirma preferir a companhia de uma senhora, “porque se sentem mais em casa”.
A adesão masculina por parte dos seniores é escassa, embora já tenham existido alguns casos. É também possível que o estudante seja acolhido por um casal de seniores, apesar de essa ser igualmente uma situação pouco frequente: “Normalmente, as pessoas recorrem ao programa quando se sentem realmente sós”.
Sobre a existência de eventuais queixas ao longo dos 13 anos do programa, Raquel Castello-Branco afirma que “nunca tiveram problemas”, já que “a avaliação é rigorosa”.
No entanto, ressalva que existiram alguns casos em que “o perfil do estudante não estaria totalmente adequado ao perfil do sénior”, pelo que foi necessário realojar o jovem junto de outro idoso. Raquel Castello-Branco afirma que, nestes casos, “são as visitas trimestrais que deixam escapar que algo não estará bem”, pelo que a equipa técnica tenta mediar a situação. “Na maioria das vezes, são pequenos aspetos relacionados com a postura e até com alguma imaturidade por parte do jovem, nada mais”.
Lista de espera com cerca de 50 estudantes
Este ano, o Programa Aconchego conta com 11 processos ativos e três em fase de integração. Questionada sobre estes números, Raquel Castello-Branco afirma que “este nunca será um projeto de massas”, não só porque exige muita atenção e acompanhamento por parte da Câmara, mas também porque o número de interessados nunca é muito elevado.
Se, por um lado, muitos idosos têm receio de abrir a sua casa a um desconhecido, muitos são também os jovens que não optam por esta solução, ambicionando dividir casa com outros estudantes.
Atualmente, o número de jovens interessados em aderir ao projeto é mais elevado do que o número de seniores dispostos a ceder a sua casa. Há até uma lista de espera com cerca de 50 estudantes, devido à falta de munícipes com mais de 60 anos interessados em recebê-los: “É preciso trabalhar a confiança dos seniores”.
Segundo a responsável, o elevado número de jovens a candidatar-se este ano está também relacionado com o facto de “o Porto estar na moda” e de haver cada vez mais estudantes a deslocarem-se para a cidade. As rendas praticadas no centro da Invicta são também um fator decisivo para os jovens, que enfrentam “sérias dificuldades para encontrar alojamento”.
Com cerca de 13 anos de existência, o projeto já ajudou 140 seniores e 129 estudantes, tendo registado cinco processos no primeiro ano de atuação (2004/2005) e um número máximo de 32 processos no ano letivo de 2011/2012. Sobre o atual número de inscritos, Raquel Castello-Branco mostra-se confiante: “Estamos no início do ano e já temos 14 processos (11 ativos e três em fase de integração), creio que até ao final do ano vamos aumentar ainda mais”.
Artigo editado por Filipa Silva