“Depois de 40 anos de quase nada se poder fazer sem ser preso, de repente era possível fazer tudo.” António Santos recorda assim os tempos após o 25 de Abril. Tempos “fulcrais” para a cultura portuguesa. Altura em que um grupo de espinhenses, ligados à cultura e ao jornalismo, fundou a Cooperativa Nascente, com o objetivo de dinamizar atividades e inovar culturalmente. Estava criada a estrutura que haveria de lançar aquele que hoje é “o festival de cinema mais antigo do país”.

“O CINANIMA foi logo lançado em 1976. Criar um festival de cinema de animação em 1976 era uma coisa que só lunáticos é que pensariam. Aqui pensou-se e criou-se”, observa o diretor da cooperativa ao JPN.

António Cavacas e António Gaio são dois dos grandes nomes por detrás do festival de animação. A vontade de contribuir para a produção cultural de qualidade e de manter o festival e a cooperativa em atividade não se desvaneceu: “O CINANIMA manteve-se sempre”, sublinha o responsável, que acrescenta: “o CINANIMA foi, durante muito tempo, o único contexto onde [os interessados no cinema de animação] podiam assistir a filmes de autor, de outros países e diferentes do que era passado em Portugal.”

Este festival surge como consequência da importância dada pela cidade de Espinho ao cinema, como explica António Santos:

41 anos de dinamismo

A Nascente foi fundada para ter um cineclube e um jornal. Contudo, foram criadas outras secções.

Em 1976, a Cooperativa Nascente contava com um jornal semanal, o “Maré Viva”, um cineclube, o Coro Popular de Espinho, o Teatro Popular de Espinho e formações em fotografia. Foi também criado um centro de estudos, numa tentativa incentivo à alfabetização, “porque Portugal tinha um índice muito elevado de analfabetismo e falta de instrução. Pouquíssima gente tinha estudos”, nota António Santos.

Direcionado para as camadas mais jovens, em 1984 foi formado um clube: o Tubo de Ensaio, que organizava espetáculos e formações. Os Trovante marcaram presença na cidade por iniciativa do Tubo de Ensaio e várias pessoas tiveram contacto com computadores através do curso de iniciação orientado por este clube.

Em 1992, surge o projeto À Esquina do Moderno, localizado na principal artéria da cidade, perto da estação de comboios, e que promoveu concertos, exposições e debates.

Hoje, mantém-se o jornal e o grupo de teatro e foram criadas novas secções.

Apostando no exercício físico e em artes de vertente prática, em 2013 a Nascente desenvolveu o Animartes, com ateliers, atividades lúdicas e formativas para os sócios. Um ano depois, apostou numa vertente mais teórica e foi criado o Fórum Nascente, para a promoção de debates. Com uma duração mais reduzida, nasceram os projetos Gente que Pensa, que “desafia a reflexão sobre assuntos interessantes e relevantes do ponto de vista social, cultural e cívico” e o Cultura Viva, que consiste numa tentativa de “articular o trabalho de várias associações do concelho.” Para além disso, são realizados espetáculos regulares no auditório e os sócios são levados a ver espetáculos noutras cidades a preços mais reduzidos.

“A Nascente foi uma escola”

A Nascente alterou o panorama cultural de Espinho e serviu de trampolim para grandes nomes do jornalismo, cinema e teatro. “A Nascente foi uma escola”, resume António Santos, em referência às formações e atividades propostas por esta associação ao longo dos anos.

O jornal “Maré Viva”, de caráter amador, permitiu que vários jovens dessem os primeiros passos na área e que aprendessem a dinâmica inerente à profissão. Por outro lado, muitos dos grandes nomes do cinema de animação em Portugal deram os primeiros passos no CINANIMA, ao passarem pelas oficinas do certame. Até porque não haviam cursos especializados nas universidades.

As oficinas de teatro e as atividades relacionadas com o cinema formaram também a camada mais jovem da população espinhense. “As áreas em que a Nascente era forte, catapultaram muita gente”, assegura António Santos.

Cooperativa “está viva e continua”

Para o diretor da Nascente, a “grande vitória” da cooperativa é uma: “criada há 41 anos está viva e continua”. Prova maior disso será mesmo o CINANIMA cuja 41ª edição decorre em Espinho até domingo cheia de estreias nacionais e internacionais.

Mas tal não significa que não enfrente hoje desafios. A Nascente atravessa o seu melhor “período em termos de dinâmica e atividades”, contudo a adesão do público é cada vez mais reduzida. Antes havia muita gente a participar e a colaborar com as pessoas, não só a assistir, mas a fazer coisas.”

Esta associação é maioritariamente constituída por voluntários. Apenas quatro profissionais são pagos e toda a direção trabalha em regime de voluntariado. “Há 40 anos tínhamos imensos voluntários, hoje são menos. As pessoas valorizam o seu tempo pessoal para outras coisas.”

A importância da Nascente é reconhecida pela cidade inteira: “A Nascente está muito implantada no meio local” e pretende continuar a elevar o panorama cultural português, com dinamismo e inovação.

Artigo editado por Filipa Silva