Numa noite especial, bombeiros e vítimas dos incêndios que assolaram o país foram homenageados no Estádio do Fontelo, em Viseu, na noite desta sexta-feira. Perante quase sete mil espectadores, entre os quais o Presidente da República, a formação das quinas procurava devolver sorrisos perdidos. RTP1, SIC e TVI juntaram-se para uma emissão partilhada histórica.
Dentro do campo, a cruzada portuguesa superiorizou-se aos árabes com várias surpresas e caras novas. Numa partida de sentido único de início ao fim, os fotógrafos conseguiram captar, por três vezes, o esférico na baliza da Arábia Saudita. Manuel Fernandes, Gonçalo Guedes e João Mário ditaram uma vitória tranquila da seleção nacional.
Uma equipa de alta rotação
A formação da casa apresentou-se bastante renovada. Além da ausência de Cristiano Ronaldo e outras estrelas da companhia, a estreia de Kevin Rodrigues e o regresso de Manuel Fernandes após cinco anos foram as principais surpresas no onze escolhido por Fernando Santos para este jogo. Apesar das alterações, o ritmo de jogo e a intensidade ofensiva foram uma constante na primeira parte, assim como as oportunidades falhadas.
Sem o habitual capitão, a seleção nacional procurou explorar o ataque principalmente a partir das faixas laterais. Bernardo Silva e Gonçalo Guedes eram decisivos no meio-campo português na transição para o ataque. À custa da velocidade dos dois jogadores, Portugal criava as primeiras oportunidades. A primeira grande ocasião de golo surge por João Mário. O médio do Inter encheu o pé à entrada da área, mas a bola desviou num defesa árabe. Apesar disso, a bola não perdeu totalmente o rumo e ainda bateu com violência no poste direito da baliza de Al Owais.
As oportunidades aconteciam tanto quanto eram desperdiçadas. Ora Gonçalo Guedes atrapalhava-se com a bola, ora Danilo a tentava colocar fora do estádio. Manuel Fernandes é que se mostrava verdadeiramente inconformado. Após várias tentativas sem acerto, o jogador consegue o tão procurado golo à passagem da meia-hora de jogo. Gonçalo Guedes aproxima-se da linha de fundo e consegue atrasar a bola para a entrada da área. Em velocidade, o médio do Lokomotiv de Moscovo apenas teve que tocar a bola com o pé esquerdo e de primeira. O esférico só viria a parar no fundo das redes sauditas.
Aberto o marcador, o estádio “ondulava”, tal não fosse, quem sabe, um dos melhores recuerdos do Mundial do México de 1986. Mas havia mais do que razões para tal: Portugal pressionava, trocava a bola de forma controlada e criava oportunidades de perigo. A Arábia Saudita quase não conseguia sair do seu meio-campo de jogo. No final da primeira parte, o resultado apenas pecava por escasso.
Troca o baralho, mas a magia é a mesma
Na segunda parte, Fernando Santos optou por dar tempo de jogo a outras alternativas, o que é habitual num jogo de preparação para o Mundial. Mas ainda antes de as fazer todas, Portugal já criava calafrios à defesa árabe. A pressão alta mantinha-se e apenas seis minutos após o início da segunda parte, a formação lusitana alterava novamente o placar. Numa combinação entre Bernardo Silva e o recém-entrado Ricardo Pereira, o avançado do Manchester City lembrou-se de encarnar o papel de Quaresma na ala portuguesa: um passe de trivela permite a desmarcação de Ricardo. O lateral do Porto não teve quaisquer problemas em atrasar a bola para Gonçalo Guedes, o qual remata forte e rasteiro para o canto esquerdo da baliza. Estava assim feito o 2-0.
Numa segunda parte em que entraram ainda Bruno Fernandes, Gelson Martins, Edgar Ié, Bruma e Rúben Neves, a seleção portuguesa decidiu manter a velocidade. Sem tirar o pé do acelerador, mas sem qualquer crescendo nas oportunidades criadas, o resto da segunda metade do jogo limitou-se ao domínio tranquilo da equipa de Fernando Santos.
Contudo, as bancadas viseenses pediam “só mais um” e os jogadores concederam tal desejo. Já em período de descontos, João Mário recebe a bola de Gelson Martins. À entrada da área saudita, o médio do Inter de Milão apenas teve que ajeitar a bola e colocá-la junto ao poste esquerdo da baliza contrária. João Mário consumava o seu primeiro golo pela seleção nacional ao fim de 30 internacionalizações.
“Os jogadores mostraram compromisso”
No final dos 90 minutos, quando questionado sobre o caráter solidário da partida, o selecionador nacional afirmou que o importante era “estar com aqueles que precisam mais”. As bancadas viseenses encheram-se e as verbas direcionadas para o fundo de ajuda às vítimas dos incêndios são a prova de um “povo português solidário”, disse Fernando Santos.
Dentro das quatro linhas, o timoneiro da formação lusa considerou que foi “um jogo bem conseguido”. O selecionador salientou também que a equipa “esteve sempre forte ofensiva e defensivamente” e que ficou “a dever a si próprios na primeira parte”.
Quanto às opções para o Mundial de 2018, Fernando Santos aferiu que tinha “ainda muito tempo para pensar nisso”. Questionado sobre as dúvidas quanto à convocatória para a competição, o engenheiro revelou que ficou “com ainda mais”. No final, demonstrou-se satisfeito com a equipa: “os jogadores mostraram compromisso”.