Em 1992, Nuno A. N. Correia e José Rui Fernandes fundam a editora Interzona, dedicada exclusivamente à tradução de livros de banda desenhada. Após um período conturbado, a editora decide abrir, em 1996, uma livraria para venda ao público. Nasce assim a BDMania-Boavista situada num pequeno espaço no Parque Itália, no Porto. O espaço cedo se revela insuficiente e, em 1998, a BDMania muda-se para uma nova casa: o Centro Comercial Brasília.
Em outubro de 2001, e após traduzir a novela gráfica “Ghost World” de Daniel Clowes, a livraria decidiu mudar de nomenclatura. “Mundo Fantasma” passou assim a ser o nome escolhido para aquela que é, ainda hoje, a maior livraria do país dedicada à banda desenhada.
Revolucionária à sua medida, a Mundo Fantasma veio preencher uma lacuna existente no mercado português à data, ao inserir os comics americanos num panorama fortemente marcado pela onda franco-belga, onde os clássicos Tintim e Astérix reinavam.
Com o passar dos anos, o progressivo esvaziamento do Centro Comercial Brasília ditou o desaparecimento de muitas lojas e clientes, mas a livraria, com sede no primeiro piso do shopping, continuou a ser uma das únicas a manter-se até hoje de portas abertas.
Por ela, já passaram vários colaboradores, mas a alma da Mundo Fantasma reside nos seus dois funcionários. Vasco Carmo começou a trabalhar no espaço em 1997. Cinco anos mais tarde, em 2002, juntar-se-ia Marco Novais.
Mais do que simples vendedores, a dupla participa ativamente em conversas com os clientes. “É daqueles tipo de trabalho que é impossível estar aqui sem se ler muito ou sem gostar”, diz Marco Novais ao JPN. Antes de trabalhar na loja, Marco era cliente ativo, papel que assume ainda hoje.
Os dias de maior afluência são os primeiros 15 dias de cada mês, quando chegam as novas encomendas. A época natalícia é, por excelência, também uma altura de grande movimento na loja e o sábado é o dia de eleição para compras.
Nos últimos anos tem-se registado um crescimento na compra de banda desenhada. Segundo Marco Novais, podemos agradecer aos filmes e séries de super-heróis por este fenómeno. “Agora com a televisão, com o cinema, cada vez mais é cool ser-se geek e então tem-se notado que tem havido uma nova geração de leitores e de leitoras também”.
No espaço, vislumbram-se obras para todo o tipo de temáticas, o que, para o funcionário da casa, é motivo para atrair diferentes públicos: “Há temáticas para todos os gostos”, refere Marco. “Tens material que podes ler numa de te entreteres e quereres uma coisa mais levezinha só para te distraíres, tens material mais complexo e mais adulto, também tens muitas obras de teor social”, enumera.
Questionado sobre a importância de se ler banda desenhada, Marco defende o caráter diferenciador das ilustrações face à literatura tradicional. O funcionário afirma também que a nível de escrita há uma forte aposta em qualidade, com “escritores neste momento tão bons e muitos até melhores do que a suposta literatura que se vende por aí”.
O mercado da banda desenhada tem evoluído ao longo dos tempos e, apesar de alguns períodos conturbados, nestes últimos anos tem estado mais forte que nunca.
Artigo editado por Filipa Silva