A FEP Junior Consulting celebra este mês 20 anos. O JPN falou com um membro fundador e outro atual da júnior empresa sobre as mais-valias da organização.
Em 1997, surgiu na Faculdade de Economia do Porto (FEP) a primeira júnior empresa da cidade. A FEP Júnior Consulting (FJC) é uma empresa de consultoria, constituída apenas por estudantes universitários.
Ambrósio Teixeira, um dos fundadores da empresa, sentiu na altura “a necessidade de aumentar as competências pessoais, sociais e profissionais”. A ideia era aliar “aos conhecimentos técnicos transmitidos pelo corpo docente a experiência adquirida na realização de projetos no tecido empresarial”, explica ao JPN.
A FJC é, vinte anos depois, uma referência no meio das júnior empresas em Portugal. João Silva, estudante do terceiro ano de Economia da FEP e atual responsável pelos Recursos Humanos, é um dos 44 membros ativos da junior, cujo trabalho passa essencialmente pela elaboração de planos de negócio e estudos de mercado.
Através dos os planos de negócios ajudam as empresas a “trilhar um caminho”. O trabalho é feito em parceria com o cliente, tendo em conta “aquilo que ele deseja e aquilo que a empresa pode oferecer”. Com os estudos de mercado analisam a procura pelos consumidores que se pretende atingir, os concorrentes que já estão na área e a melhor forma de os bater.
Dividida em quatro departamentos – Recursos Humanos, Relações Empresariais, Financeiro e de Qualidade -, a FJC inclui ainda na sua estrutura organizacional um Conselho Científico composto por professores e ex-membros (alumni) que, segundo o diretor de Recursos Humanos, são “uma ajuda importante nos projetos”.
Os principais clientes da FJC são pequenas e médias empresas, nomeadamente startups. Isso não os impede “de fazer outros projetos de maior dimensão”, como já fizeram “para a Sonae, para a Renault, para a ANA Aeroportos e projetos mais complexos, com inquéritos” que os levam para o terreno para recolher informações, explica João Silva.
O membro fundador, Ambrósio Teixeira, recorda o primeiro cliente da organização. “Foi apresentado por uma empresa júnior da rede que indicou a FJC para realizar um estudo de mercado para o setor das tintas e vernizes”, relembra.
A FJC divide, nos dias de hoje, os parceiros em main partners, como a Sonae, a PwC, a NOS, a Dorel Juvenile, a L’Oréal, a Galp; e parceiros institucionais, como a FEP e a Universidade do Porto. Uma cooperação que João Silva destaca com uma “ajuda muito valiosa”.“São responsáveis pelo aparecimento de alguns dos nossos projetos e são, sem dúvida, importantes na parte das formações: aprendemos a fazer os projetos com alguém que tem muito mais experiência do que nós”, esclarece.
A formação é também um conceito-chave para a júnior.
O jovem de 20 anos realça a “reputação” que a norma ISO 9001:2008 dá à empresa, enquanto certificado de qualidade, e o nível organizativo da júnior “capaz de competir com muitas empresas sénior”.
O atual diretor de Recursos Humanos já tinha a FJC “em mente antes de entrar no curso”. No entanto, só conseguiu entrar à segunda tentativa, quando já cursava o segundo ano de Economia. “A Junior tem fama de ter um recrutamento difícil e é verdade que assim é, mas isso não impede as pessoas de se candidatarem e de termos tido este ano um número recorde de candidaturas”, confessa. O número, não o revela. Já em relação a novas entradas, foram 21 este ano.
Porto de Emprego: o evento-referência
O estudante universitário define o Porto de Emprego como “uma parte muito importante do ano em que a Júnior está no centro das atenções”. A autodenominada “maior feira de emprego organizada por estudantes em Portugal” começou em 2000, sempre em parceria com o Serviço de Relações Externas e Integração Académica (SEREIA). Neste momento, considera João: tem “uma dimensão que eu duvido que os primeiros a fazer tenham pensado que fosse possível atingir”.
No ano passado, o Porto de Emprego contou com a participação de 50 empresas e cerca de sete mil estudantes. João Silva realça a importância do “contacto próximo” entre alunos e empresas. Para além dos stands dispostos nos corredores da FEP, há ainda apresentações onde as empresas podem “mostrar os seus recrutamentos, como é que funcionam e falar sobre elas”, esclarece.
Há um estigma ‘júnior’?
Como com qualquer empresa, o nível de confiança que inspira é determinante na posição que se assume no mercado. Para as juniores, a missão é mais complicada. “É normal que não nos deem tanto valor como aquele que nós sabemos que temos. Mas está nas nossas mãos, a partir do momento em que temos um primeiro contacto com um cliente, provar que temos tanto valor como outros que são mais velhos”, observa João.
O diretor de Recursos Humanos garante que a relação da FJC com a faculdade e com os professores é muito boa. “Os professores e a própria direção sabem que a júnior e todas as outras organizações ajudam a FEP a ser reconhecida fora da FEP”, afirma.
Questionado sobre os apoios dados à júnior empresa, João considera que, em termos financeiros, são suficientes, nomeadamente da parte do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e dos parceiros.
No entanto, o apoio institucional “vai dependendo de quem está no leme” e da valorização que atribui à empresa. “Neste momento, a FJC é cada vez mais independente desses eventuais apoios, mas não nos podemos desligar deles porque não conseguimos ser totalmente independentes, nem financeiramente nem ao nível do que realizamos no nosso dia a dia”, clarifica.
João Silva acredita que o que fica desta experiência são “as memórias dos anos passados na FJC” e a formação de “futuros empreendedores e pessoas importantes no tecido empresarial”.
“Estes anos aqui põem-nos um passo à frente daqueles que não passaram por cá e acho que é essa a grande marca da júnior. É uma escola de formação”, acrescenta. Posição que o membro fundador Ambrósio Teixeira reforça: “Os estudantes da FEP são reconhecidos pelas entidades empregadoras”.
João Silva revela ainda que estão a tentar que “os 20 anos sejam uma marca da Júnior”. Para assinalar esta data, está prevista uma conferência com o objetivo de apresentar à faculdade algo que retribua aquilo que a FJC recebeu nos últimos 20 anos. “Estes 20 anos são feitos das pessoas que passaram aqui”, finaliza.
Artigo editado por Filipa Silva