Belmiro de Azevedo faleceu esta quarta-feira no Hospital da CUF, no Porto, onde estava internado desde domingo. Nascido em Tuías, no Marco de Canaveses, em 1938, o empresário português morreu aos 79 anos.

Licenciado em Engenharia Química pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) – uma formação interrompida para cumprir serviço militar -, o marcoense concluiria o curso em 1963. Considerado um dos ilustres alumni da Universidade do Porto foi agraciado com o doutoramento honoris causa desta instituição em 2009, por proposta da FEUP.

Belmiro de Azevedo construiria uma das maiores fortunas do país – estava entre os 1100 ricos do mundo segundo a revista “Forbes” em 2016 – desde que, em 1974, assumiu o comando da Sonae.

Sob a sua liderança, a ação do conglomerado industrial foi estendida aos setores da madeira, distribuição e retalho (com as cadeias Continente e Modelo), dos media (com o jornal Público) e das telecomunicações (antiga Optimus).

Deixou o cargo de chairman da Sonae em 2015, passando o testemunho ao filho, Paulo de Azevedo, eleito para o cargo pela assembleia-geral de acionistas da empresa.

Engenheiro, doutor e “visionário”

João Falcão e Cunha, diretor da FEUP, instituição onde o “engenheiro” se licenciou na década de sessenta, lembra um homem mais do que “visionário” por ter sido “capaz de concretizar as visões que tinha nas suas iniciativas, que foram muitas”.

A relação de Belmiro de Azevedo e das empresas do grupo que liderou com a FEUP manteve-se “próxima” ao longo dos anos. O empresário apoiou “entusiasticamente” com o antigo reitor Alberto Amaral e com o engenheiro Mira Amaral a criação do curso de Engenharia e Gestão Industrial  – agora mestrado integrado – que é hoje uma das formações mais procuradas no país. A terceira em nota de entrada no presente ano letivo.

“Porque ele sabia que faltavam pessoas com conhecimentos de Engenharia e capacidade de gestão para mudarem o panorama empresarial português”, explica João Falcão e Cunha.

Belmiro de Azevedo participou ainda em múltiplos seminários na FEUP além de ter várias empresas do grupo Sonae ligadas a projetos de investigação da faculdade. A Porto Business School é outra das unidades da Universidade do Porto com a qual manteve ligação estreita, uma instituição que ele “ajudou a criar e a fazer crescer e as novas instalações da PBS são disso exemplo”.

Em 2009, por unanimidade, a FEUP propôs a atribuição do título de doutor honoris causa a Belmiro de Azevedo. A cerimónia, Falcão e Cunha lembra-a como uma “das mais concorridas” que a faculdade já organizou.

“É uma honra para a Faculdade de Engenharia que ele seja doutor honoris causa porque de facto acho que tem todas as características que permitem melhorar, aumentar o conhecimento e criar valor a partir do conhecimento gerado, num ciclo virtuoso”, refere ainda em declarações ao JPN.

O diretor da FEUP destaca a coincidência de perspetiva da Sonae e da FEUP no que toca à necessidade do tecido empresarial e da academia se manterem próximos e admite que o grupo que Belmiro de Azevedo deu um enorme contributo na formação de quadros, alguns deles, hoje professores na FEUP: “A Sonae foi e é uma escola para muitos dos profissionais em Portugal e não só. Acho que teve um impacto ao nivel global. Há-de haver alguém que vai escrever sobre a escola ou a universidade Sonae”.

“Visionário” é também o termo escolhido pelo reitor da UP, Sebastião Feyo de Azevedo, para descrever Belmiro de Azevedo.

Numa nota enviada às redações, o reitor da UP ressalva que o empresário “percebeu muito cedo a importância da cooperação entre empresas e instituições do ensino superior em projetos de investigação, desenvolvimento e inovação”.

“Lembro, a propósito, a ação determinante do Eng. Belmiro de Azevedo na criação do CLIFE – Centro de Ligação da Indústria à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), um projeto pioneiro à época. A atividade do CLIFE foi desenvolvida entre 1971 e 1974, quando a relação universidades/empresas era menos que incipiente e por muitos vista como uma excentricidade”, recorda.

Da relação próxima entre Belmiro de Azevedo e a UP, o reitor sublinha a “vantagem quer para a instituição, quer para o grupo Sonae, quer para a economia portuguesa”.

“Um exemplo de empreendedorismo, retidão e solidariedade que deve agora ser transmitido às novas gerações e devidamente valorizado pelo País”, conclui o reitor da UP.

Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), destacou, por sua vez, o contributo de Belmiro de Azevedo para o país: “é um dos maiores empresários portugueses contemporâneos, o maior empregador do setor privado no país.”

“Numa altura em que muito se discute a questão do centralismo em Portugal, Belmiro de Azevedo sempre colocou a defesa do Norte como uma das suas prioridades e nunca se rendeu aos interesses centralistas”, finaliza Nuno Botelho numa nota enviada pela ACP às redações.

Artigo atualizado às 18h39 com as declarações de João Falcão e Cunha, diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Artigo atualizado às 19h05 com as declarações de Sebastião Feyo de Azevedo, reitor da Universidade do Porto.