André Sousa estuda Engenharia Eletrotecnica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Mas não é isso que faz dele notícia. Em setembro, André Sousa conquistou o título nacional de xadrez e entrou para a história da modalidade como o mais novo de sempre a consegui-lo com 17 anos e cinco meses.

“Consegui agora, na última oportunidade”

Foi na Douro Marina, em Vila Nova de Gaia, que decorreu o Campeonato Nacional Absoluto, no qual acabou por levar o título para casa. Sobre esse dia, André Sousa fala como se de um dia normal se tratasse. “É um bocado difícil de explicar. Foi uma sensação de consegui agora, na última oportunidade, porque era a última vez que podia ser o mais novo de sempre. No ano passado também participei, mas não ganhei. Foi, assim, uma sensação de dever cumprido.”

Apesar de reconhecer que tinha algumas possibilidades, o jovem de Valongo afirma que não tinha delineado o objetivo de vencer o torneio. “Eu nunca vou para um torneio a pensar que o objetivo é ser campeão. Eu vou sempre a pensar jogo a jogo, o objetivo é ganhar o próximo jogo. Se no fim for campeão, melhor. Este ano sabia que podia haver algumas possibilidades, mas não era esse o objetivo”, garante.

Foto: Federação Portuguesa de Xadrez

A modalidade é pouco conhecida, mas André explica como é jogado o torneio. “São dez jogadores, todos contra todos, e a seleção desses jogadores é feita através de vários torneios ao longo do ano e por um sistema de ranking.”

O jovem prodígio disputou o campeonato nacional até ao último jogo. Nessa partida, defrontou Sérgio Rocha, mestre internacional, com quem discutiu o título. Nesse derradeiro jogo, Sérgio Rocha precisava de vencer para ser campeão, enquanto a André bastava um empate, resultado que viria a acontecer ao fim de cinco horas e 104 lances.

“O meu primeiro torneio oficial foi aos sete anos”

O campeão nacional fala da forma como começou a jogar xadrez. “Foi o meu irmão que me ensinou quando eu tinha mais ou menos cinco anos. O meu pai ensinou à minha irmã e ao meu irmão. O meu irmão gostava muito, mas ao fim de algum tempo o meu pai ficou sem tempo e o meu irmão queria alguém para jogar e ensinou-me a mim”, conta ao JPN.

Depois, fala sobre o seu desenvolvimento na modalidade. “Foi crescendo cada vez mais o gosto. Primeiro era só jogar, como toda a gente, mas depois comecei a gostar um bocado mais, até que comecei a participar em europeus e mundiais. O meu primeiro torneio oficial foi aos sete anos.”

André explica como se faz para treinar xadrez. “Há diversos métodos: estudar aberturas, pode ser através de vídeos ou livros, resolver problemas para melhorar o cálculo, resolver táticas para melhorar o reconhecimento de padrões táticos, analisar as próprias partidas, etc.”.

Cinco questões rápidas

Qual é a abertura que preferes?

“Brancas: 1.e4 e pretas: Ragozin”

Para começar a jogar xadrez, deve-se ler sobre a modalidade ou basta jogar?

“Para começar basta jogar. Para evoluir rapidamente ler ajuda, claro.”

Onde é possível jogar online?

“Há dezenas de websites de xadrez, os mais conhecidos são: chess24, chess.com, ICC, chesscube e lichess.”

Quantas horas jogas por dia?

“Duas a três horas.”

Qual é o teu sonho dentro da modalidade?

“Chegar a Grande mestre, porque só houve três em toda a história portuguesa.”

O jovem xadrezista diz que o curso de Eletrotecnia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto foi a sua primeira opção e já aponta aos campeonatos universitários. “Já me qualifiquei para participar na equipa e assim o farei no nacional universitário” [sagrou-se, já depois desta entrevista, na terça-feira, 12 de dezembro, campeão nacional universitário de semi-rápidas, juntamento com mais quatro estudantes da Universidade do Porto].

André refuta o interesse noutros desportos, especialmente os coletivos. “Eu não sou muito bom em atividades em que tenho que decidir no momento. Uma coisa que gosto no xadrez é que, muitas vezes, tenho imenso tempo para pensar e decidir as jogadas.”

Apesar de o xadrez ser uma modalidade com pouca projeção, o jovem indica três ídolos: o seu ex-treinador, Jorge Ferreira, o arménio Levon Aronian e o húngaro Richard Rapport. Acompanhá-los é hoje mais fácil: “Os jogos são todos transmitidos em direto e qualquer pessoa pode aceder a qualquer site que os transmita.”

O xadrez também faz parte dos tempos livres do valonguense. “Tenho mais hobbies, mas passo muito tempo a jogar xadrez, até mais do que devia porque devia investir mais tempo a estudar, por exemplo. Mas jogo muito no telemóvel contra outras pessoas, por exemplo, jogo computador, leio, estou com os meus amigos”.

O xadrez pode ajudar na Matemática

Na FEUP, alguns dos colegas de André Sousa sabem que existe entre eles um campeão nacional, outros não, mas isso não o preocupa: “Algumas sabem [que há um campeão nacional na faculdade], até porque a universidade partilhou uma notícia, então acho que algumas pessoas vão sabendo. Outras não, mas isso não me importa muito.”

Foto: Federação Portuguesa de Xadrez

O xadrezista sente que a modalidade lhe trouxe benefícios, por exemplo, com a Matemática.

Existe a discussão sobre se o xadrez e outros jogos de tabuleiro devem realmente ser considerados modalidades desportivas. André Sousa acredita que sim e explica. “Eu não sei muito bem qual é que é a definição de desporto, mas eu acho que qualquer coisa que tenha algum tipo de estratégia é desporto. O desporto deve ter sempre algum tipo de estratégia. Por isso, o xadrez pode ser perfeitamente um desporto.”

Sobre a temática Homem contra a máquina, André Sousa acha que as máquinas já conseguem ganhar aos humanos. “Acho que hoje em dia os melhores engines, como o Stockfish, o Komodoe o Houdini, ganham aos humanos, mesmo aos melhores do mundo”, conclui.

Artigo editado por Filipa Silva