1) A mais antiga das pontes do Porto
Inaugurada a 4 de novembro de 1877, por Dom Luís I de Portugal e Dona Maria Pia, a ponte de ferro que faz a ligação entre Porto e Vila Nova de Gaia foi a primeira ponte do Porto das que hoje resistem – antes dela, só a Ponte das Barcas e a Ponte Pênsil lograram facilitar a ligação das duas margens – e marcou a chegada da via férrea à Invicta. A ligação teria profundo impacto na economia da região.
2) O maior arco em ferro do mundo
Quando foi construída tinha o maior arco em ferro do mundo.
3) O arco que não fechou à primeira
A obra foi concluída em menos de dois anos e envolveu cerca de 150 operários. O dia 25 de setembro de 1877 ficou na história por ser aquele em que se fez o fechamento do arco. Arco que não fechou à primeira. Os dois segmentos da ponte não se terão encontrado ao mesmo nível, como previsto, depois de retirados os tirantes. Diz-se que foi Gustave Eiffel quem ordenou que se voltasse a colocar os tirantes e se esperasse umas horas para fazer nova tentativa. À segunda, funcionou. As altas temperaturas do dia terão feito dilatar o ferro.
‘O arco que não fechou à primeira’ – Animação de Bruno Reis da Escola Secundária Soares dos Reis
O projeto definitivo da ponte é do engenheiro francês Théophile Seyrig, sócio de Gustáve Eiffel, que dirigiu a obra. Seyrig que viria também a projetar, mais tarde, a ponte Dom Luís I, já “divorciado” da Casa Eiffel.
4) Uma inauguração de arromba
A festa de inauguração foi de arromba. “A cidade estava em festa. Hotéis, pensões, hospedarias e casas particulares abarrotavam de forasteiros que vieram assistir ao memorável espetáculo. A multidão (de dezenas de milhar de pessoas, segundo os jornais) encheu as redondezas da obra de arte, acenando lenços à passagem do comboio inaugural”, conta-nos Hélder Pacheco no seu livro “Porto”. O primeiro comboio a atravessar a ponte teria 24 carruagens e cerca de 1200 pessoas a bordo.
Da inauguração conta-se um episódio pitoresco. A protagonista, diz-nos Germano Silva no livro “Porto Desconhecido e Insólito”, foi D. Adelaide Lopes, esposa do engenheiro-chefe da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, Pedro Inácio Lopes.
“…foi D. Adelaide Lopes quem inaugurou a ponte porque a percorreu, a pé, e com essa intenção desde o lado de Gaia até à margem oposta, ainda antes de a família real o fazer de comboio”, conta-nos Germano Silva.
Uma travessia que além de inesperada, foi sobretudo audaz, uma vez que a ponte não se encontrava ainda integralmente concluída.
“(…) nada a demoveu de prosseguir os seus intentos. Nem mesmo o vento forte que naquela altura se fazia sentir e que fazia baloiçar perigosamente o comprido vestido que envergava, a motivaram a desistir. (…) Ora, sensivelmente a partir do meio do tabuleiro, deixava de haver as passadeiras laterais sobre as quais se podia andar comodamente e em segurança. Haviam apenas umas compridas barras de ferro por onde só se aventuravam os mais exímios e corajosos operários. D. Adelaide Lopes nem aí teve o mais leve indício de temor que a levasse a voltar atrás”, descreve ainda Germano Silva no mesmo livro.
5) Um monumento nacional à espera do futuro
Em novembro do ano passado, a Ponte D. Maria Pia completou 140 anos de vida. Está fechada à circulação desde 1991, altura em que foi substituída pela Ponte de São João.
Está classificada como monumento nacional e é o único monumento português que faz parte da lista de grandes obras de engenharia da American Society of Engineering (ASCE).
Nos 26 anos que a ponte leva de encerramento, algumas hipóteses foram estudadas para a sua reabilitação, mas nenhuma logrou concretizar-se. A mais referida até hoje tem sido a da transformação daquela estrutura numa ecopista, projeto que voltou a ser estudado quando Manuel Correia Fernandes esteve à frente da vereação do Urbanismo da Câmara do Porto – saiu em 2017 depois da rutura entre os vereadores do PS e o movimento de Rui Moreira em período pré-eleitoral – não sendo conhecido qualquer desenvolvimento sobre o projeto apresentado há cerca de um ano ao JPN.
No verão de 2017, e a propósito dos 140 anos da ponte, um movimento de cidadãos do Fórum Cidadania Porto publicou uma carta aberta ao primeiro-ministro português, António Costa, defendendo a adapatação da ponte a passagem pedonal e ciclovia e apelando a que o Governo considere como “prioritária a recuperação da ponte”.
A única resposta recebida chegou da Infraestruturas de Portugal (IP) que confirmou que “tem estado a analisar” – supõe-se que há largos anos – a “criação de um circuito pedonal e ciclável”. A IP nega, contudo, que até à data tivesse recebido “qualquer proposta concreta passível de merecer o acordo desta empresa”.