A Assembleia da República aprovou, esta sexta-feira, dois projetos de resolução que versam sobre a reabertura da Linha de Leixões ao transporte de passageiros.

O projeto de resolução do PCP foi aprovado com a abstenção dos grupos parlamentares do PS e do PSD. Já o projeto de resolução do PS foi aprovado por unanimidade.

Os socialistas querem que o Executivo de António Costa “elabore um estudo sobre as repercussões da reabertura do serviço” de transporte de passageiros nesta linha. O diploma do PCP vai um pouco mais longe ao recomendar ao Governo a reabertura do serviço de transporte de passageiros “entre Leixões  e Campanhã”.

Ambas as propostas destacam a relevância estratégica desta ligação “transversal e circular” no quadro da mobilidade do Grande Porto.

Nos diplomas é apontado o facto de a linha passar por “por importantes núcleos habitacionais da Maia, Valongo e Matosinhos, pelo Hospital de São João e polo académico do Porto [Asprela], pelo Porto de Leixões”, além da zona industrial onde se encontram empresas como a EFACEC ou UNICER.

O facto da ligação cruzar ainda com vias estruturantes – como a A28, A4, A3, VRI, N13 e N14 -, com a linha de metro e várias linhas da STCP é também sublinhado.

Jorge Machado, deputado do PCP, explicou ao JPN que os grupos parlamentares do PCP e PS devem “nas próximas semanas” discutir a forma de consensualizar os dois textos.

“Como uma propõe a reabertura e outra um estudo, não há nenhum problema que haja uma espécie de estudo antes da concretização propriamente dita e portanto acho que é possível fundir os dois diplomas”, declarou.

Desfasamento da oferta e da procura

Independentemente do texto final que vier a ser publicado no Diário da República, “os passos seguintes” caberão sempre ao Governo.

Aí, os municípios servidos pela linha terão seguramente um papel a desempenhar. Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos, apoia a reabertura da linha – o município tem uma recomendação ao Governo aprovada nesse sentido desde julho de 2016 -, mas aconselha ponderação.

Foto: DR/CM Matosinhos

“Tal qual a linha está estruturada neste momento, o que se verifica é que há um desfasamento entre os locais de procura e os locais de paragem que já existem. Portanto, a linha que existia e que funcionou até 1987 não supre as necessidades que atualmente os aglomerados urbanos requerem”, nota em declarações ao JPN.

A autarca socialista refere assim estar “de acordo que é preciso estudar primeiro e localizar as paragens e os apeadeiros nos locais onde há procura e cruzar isso com a linha de metro”.

“Não basta reabri-la. Repetir a experiência que teve em funcionamento entre 2009 e 2011 é provavelmente levar a uma situação idêntica à que conduziu ao seu encerramento”, reforça em referência a um período em que a linha esteve reaberta apenas entre Ermesinde e Leça do Balio.

Luísa Salgueiro garantiu ainda ter encontrado “grande abertura” tanto do Ministério das Infraestruturas como de outras entidades para discutir o assunto.

Quanto ao investimento que a reabertura representará, não há contas feitas, mas há espaço, na sua visão, para “um compromisso” que envolva a administração central, local e até a Metro do Porto.

A Linha de Leixões, também conhecida como Linha de Cintura do Porto, foi inaugurada em 1938 e tem cerca de 18 quilómetros de extensão. Estende-se de Contumil ao Porto de Leixões. O serviço de passageiros nesta linha fez-se até 1987. Depois disso, passou a servir exclusivamente para o transporte de mercadorias. Houve uma reativação do serviço de passageiros entre 2009 e 2011, só entre Ermesinde e Leça do Balio, com paragens em São Gemil, Pedrouços e Leça do Balio, mas a operação acabou cancelada por falta de procura.

Os diplomas aprovados esta sexta-feira no parlamento referem um estudo de 2009 da CP/REFER, o qual estimava que a linha pudesse servir 2,9 milhões de passageiros por ano, com dois comboios por hora, cerca de 55 por dia.