O relógio indicava as 18h15 quando o auditório da FBAUP – no qual a primeira publicação impressa da “Contemporânea” seria apresentada – começou a ser preenchido pelo público. Pouco depois das 18h30, com a sala cheia, Antonia Gaeta apresentou o projeto em conjunto com três colaboradoras da revista – Sofia Ponte, Gabriela Vaz Pinheiro e Isabel Carvalho.

Antes da apresentação, a editora convidada explicou ao JPN que, “ao longo dos anos, em Portugal, houve um desinvestimento nas revistas impressas especializadas em arte”, o que dificultou a produção das mesmas, pois exigem “um grande financiamento”, ao contrário do que acontece no digital, onde “o controlo orçamental é muito mais fácil de fazer”.

Páginas "Contemporânea"

Celina Brás confirmou esta ideia e salientou que a recente abertura do apoio à publicação da Direção Geral das Artes foi fulcral para a concretização do projeto, que contou também com o apoio de outras entidades públicas e privadas.

A “Contemporânea” realiza assim um percurso não muito comum, ao alargar-se do meio online para o impresso – contrariando o que normalmente acontece com as publicações. Antonia Gaeta salienta a importância de apostar no papel, uma vez que “o que fica escrito, fica escrito” e as pessoas têm também “uma outra relação com os objetos, como acontece com os livros”.

A diretora da revista foi ao encontro deste pensamento e reforçou a ideia de que “o papel é importante como registo de memória” e que “neste mundo, no qual tudo é digital, instantâneo, é muito importante não desistirmos do papel e que haja uma revista periódica sobre arte contemporânea”.

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A revista visa atingir não só o público nacional, mas também o internacional – razão pela qual é escrita em português e inglês – e Celina Brás adiantou que vai estar presente na feira de arte contemporânea ARCO Madrid, na próxima semana. Segundo Gaeta, a revista é “um lindo objeto para se ter” e “todo o projeto em si é uma curadoria editorial”, realizada por si, curadora de profissão.

A também editora contou ao JPN que o seu trabalho passou por escolher as pessoas que colaborariam com a revista e fazê-las dialogar entre si, “partindo de duas palavras muitas vezes usadas de forma errónea na escrita da arte contemporânea, que são a hipótese e o a priori”.

Antonia Gaeta reflete que “muitas vezes, as pessoas utilizam no discurso artístico estas duas palavras, mas não sabem muito bem quais os universos convocados pelas mesmas”.

A curadora referiu que esta revista pode destacar-se “pelo facto da curadoria ser sempre feita por uma pessoa diferente” e pelo tema ser também sempre distinto. Celina Brás levantou a ponta do véu e adiantou que se a temática desta edição é o Porto, o da próxima é Lisboa.

A revista impressa não vai ter uma publicação regular, apesar de continuar mensal no online, e de passar a sê-lo também em papel quando se puder encontrar financiamento, de acordo com Antonia Gaeta.

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A Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto foi o local escolhido para a apresentação da primeira edição da “Contemporânea” – que terá um custo de 10 euros, uma tiragem de 1500 exemplares e vai estar disponível em livrarias, museus e diversas bancas do país – “porque muitos dos que escreveram nesta revista passaram pela FBAUP. Alguns são professores cá”, revelou a editora convidada.

Antonia Gaeta acrescentou ainda considerar que “fazia todo o sentido que um público escolar, em formação, se interesse, tenha conhecimento e interaja com novos conteúdos que possam estar presentes nesta revista”.

A “Contemporânea” nasceu em 2015, no online, por haver “uma lacuna de publicações a nível digital que se debruçasse de forma periódica sobre o que estava a acontecer na arte contemporânea”, avançou Celina Brás. A fundadora tinha o objetivo de “promover e divulgar as práticas artísticas contemporâneas produzidas em Portugal”.

A segunda edição impressa da revista terá Sérgio Fazenda Rodrigues como editor convidado e será apresentada a 11 de maio, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT).

O que esperar desta primeira edição?

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A curadora falou sobre alguns dos trabalhos presentes na revista, entre eles o de Ricardo Nicolau – que trata as mudanças artísticas e dos espaços alternativos da cidade. A especialista mencionou também o encarte de Carla Filipe sobre a noite do Porto, que se debruça igualmente “sobre os encontros entre os artistas e como se desenvolvem”.

Um texto de Gabriela Vaz Pinheiro que aborda a arte e o artista nómada “no contexto urbano e da produção de arte” e uma relação, de Isabel Carvalho, entre desenho e poesia, também podem ser encontrados na “Contemporânea”.

Educação pode ser a chave para aumentar o interesse pela cultura

Antonia Gaeta acredita que tudo passa pela educação e conta que em Itália, país onde nasceu, “teve História da Arte desde a primeira classe”, razão pela qual está habituada à linguagem artística e se sente “muito à vontade num museu, ao entrar num espaço expositivo ou com uma revista de arte”.

A especialista conclui que se “há um desincentivo na escolaridade, se perde esta proximidade das pessoas. Tudo vem da educação”.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro