A utilização de sacos leves voltou a cair em 2016 para menos dois milhões em comparação com 2015: altura em que se começaram a pagar os sacos. Susana Fonseca, membro da direção da associação ambientalista Zero, diz que estes dados deviam “levar-nos a fazer outro tipo de análise e pensar numa alteração da legislação no sentido de taxar todos os sacos”.

A ambientalista acrescenta que, do ponto de vista da Zero, o decréscimo da utilização dos sacos de plástico leves “não é muito relevante porque grande parte dos plásticos não caem dentro da definição que está na legislação, esses sacos já são residuais digamos assim, em Portugal, comparando com outros sacos. Nós precisamos é de ter uma noção da utilização do global”.

Apesar de ser necessário cruzar vários dados para saber o consumo de sacos de plástico, Susana Fonseca afirma que “nos supermercados as pessoas já levam os seus próprios sacos para as compras, o que significa que no conjunto houve, de facto, uma redução de sacos de plásticos, mas há muitos outros sacos com gramagens superiores que continuam a ser utilizados e os sacos dados nas lojas estão a fugir a essa legislação no sentido de não se enquadrarem nela e desta forma o plástico está a ser consumido, mas não está a ser contabilizado no global”.

“A utilização de um saco de uso único tem um custo ambiental e também para a nossa saúde”

De acordo com a associação, o dinheiro arrecadado pelas taxas implementadas deve ser usado para investir na informação, no esclarecimento de dúvidas e em explicar a importância da utilização de outro tipo de soluções reutilizáveis de maneira a que o consumidor perceba o que acontece ao saco de plástico quando se deixa de o utilizar.

“Não é simplesmente pôr a taxa, as pessoas depois acham que é o Estado que está a tentar arrecadar dinheiro para si próprio”, explica Susana Fonseca.

Para a investigadora, é necessário mudar o paradigma de produção e consumo, porque para a produção de todos os sacos – quer de plástico convencional, plástico biodegradável ou papel – é necessário a utilização de recursos naturais. Os consumidores “têm que perceber que a utilização de um saco de uso único tem um custo ambiental e também para a nossa saúde”.

Plásticos biodegradáveis “demoram muito tempo a degradarem-se e são sempre um poluente que se deixa no ambiente”

Susana Fonseca adianta que muitas vezes o plástico não tem o tratamento que as pessoas imaginam, porque os sacos perdem-se ou  contaminam o ambiente. No caso dos sacos biodegradáveis, a ambientalista alerta ser impossível reciclá-lo como um saco de plástico comum, pois os processos de produção não são idênticos, o que passa uma mensagem errada.

“Aquela ideia de que estamos a usar um plástico biodegradável e não há problema se o abandonarmos não é verdade. Aqueles plásticos demoram muito tempo a degradarem-se e são sempre um poluente que se deixa no ambiente”.

Para a Zero, o grupo de consumidores que continuam a utilizar os sacos e que consideram que é um custo insignificante ou pouco relevante continua a ser a maior preocupação da associação. “Nós não podemos desligar as coisas. Quando nos preocupamos com as alterações climáticas, com a poluição dos oceanos, preocupamo-nos com a poluição do ar, preocupamo-nos com tudo isso e não nos apercebemos que há coisas no nosso dia-a-dia que estão a contribuir para isso [a degradação do planeta também”.

“Os portugueses não estão muito preocupados com a poluição do plástico”

Susana Fonseca defende que a mesma lógica utilizada nos sacos deve ser usada noutros casos como nos artigos para festas ou nos restaurantes. Muitos restaurantes, principalmente cadeias que se encontram em centros comerciais continuam a utilizar utensílios descartáveis, de uso único e que aí também deveriam ser adotadas medidas legislativas “no sentido de penalizar e recorrer à  substituição por materiais reutilizáveis”.

A reutilização é possível, acredita Susana Fonseca, mas é importante que “haja esses sinais por parte das politicas públicas para que os operadores económicos percebam a mensagem e alterem os seus hábitos”.

A investigadora avança que numa análise aos inquéritos feitos a nível europeu conclui-se que “os portugueses não estão muito preocupados com a poluição do plástico e do impacto que pode ter na sua saúde e no ambiente, mas estão muito abertos a que haja uma alteração desse paradigma”, remata.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro